Velcro

Na minha infância, viajava muito com meus avós. Geralmente íamos para um hotel que pertencia ao meu avô, em Araruama. Lá eu costumava brincar como criança do mato, subindo em árvores, correndo de cachorro, mas, por força dos hábitos, me vestia como criança da cidade. Por volta de seis horas da tarde, minha avó me chamava pra tomar o clássico "banho da tardinha" e fazer um lanche. Só nessa hora é que eu notava aquelas coisinhas verdes grudadas nas minhas calças, shorts e meias: os carrapichos. Esses "bichos" (como me pareciam) grudam de tal forma que dá um trabalhão para tirá-los. Como podiam eles grudar tão fortemente?!

É lógico que eu não fui o primeiro a "encucar" com isso. Numa tarde de 1941, George de Mestral, um engenheiro suíço, pisava cuidadosamente sobre os arbustos e a grama, tentando não fazer barulho. Ele estava tentando ao máximo capturar a maior e mais gorda mosca rainha para sua coleção. Ele gostava de observar os detalhes de todos os tipos de insetos em seu microscópio e essa mosca, com suas asinhas delicadas, era particularmente interessante. Ele tentou de tudo quanto foi jeito, mas, ao final da tarde, Mestral voltou desapontado para casa. Apesar dele próprio não ter conseguido pegar nenhuma mosca, suas calças tiveram enorme sucesso pegando centenas de carrapichos. Ele ficou intrigado com a dificuldade em retirar aquele pequeno fruto espinhento: como eles podiam grudar de tal forma na roupa?!

George de Mestral resolveu, então, observar os carrapichos no microscópio para resolver esse mistério. Ele viu que os carrapichos são cobertos por pequenos ganchinhos, depois resolveu observar as próprias meias e viu que as fibras tinham lacinhos microscópicos que prendiam os ganchos. Concluiu que esses ganchinho se prenderiam a qualquer superfície dotada de lacinhos, como as fibras da meia, o pêlo de animais ou até mesmo cabelo humano. Ganchinho do carrapicho agarrados aos lacinhos do tecido

Essa estrutura deu ao inventor a idéia de produzir dois tipos diferentes de "tecidos": um seria similar superfície do carrapicho, cheio de pequenos ganchinhos; o outro teria centenas de lacinhos. Juntando um ao outro, ele teria uma espécie de "adesivo" de tecidos.

George de Mestral tentou durante 8 anos dominar a técnica que havia idealizado. Algumas vezes os laços eram grandes demais para os ganchos, também acontecia o contrário. Ele continuou tentando até que conseguiu. Ele havia inventado o "velcro", nome criado por ele a partir das palavras francesas velour (veludo) e crochet (laço).

O velcro agora está em toda parte. Olhe à sua volta. Na sua carteira, mochila, estojo de maquiagem. necessaire... O velcro ajudou a manter unido um coração humano durante a primeira cirurgia de coração artificial. Está em usinas nucleares e em tanques de guerra, prendendo ferramentas às paredes. Até a NASA usa o velcro dentro dos capacetes espaciais para que os astronautas possam esfregar o nariz ou a boca se estiver coçando. O velcro pode segurar uma pessoa na parede, se tiver ganchinhos suficientes e a pessoa tiver coragem.

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