No fio da Revolução:

arte
e

política

no

século

XX

Maiakóvski

1893-1930

 

 

 

 

 

 

 

 

ABRIL A NOVEMBRO DE 2007

 

 

Projeto de ensino desenvolvido junto ao Curso de História do Centro de Ciências da Educação (UDESC)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Páginas eletrônicas criadas em abril de 2007

Concepção e manutenção: Janice Gonçalves

Contato: janice_goncalves@hotmail.com

 

Balalaica [1913]

 

 

Balalaica

[como um balido abala

a balada do baile

de gala]

[com um balido abala]

Abala [com balido]

[a gala do baile]

louca a bala

laica

 

 

(trad.: Augusto de Campos)

 

 

 

Come ananás [1917]

 

Come ananás, mastiga perdiz.

Teu dia está prestes, burguês.

 

 

 

O poeta-operário [1918]

 

Grita-se ao poeta:

“Queria te ver numa fábrica!

O que? versos? Pura bobagem!

Para trabalhar não tens coragem”.

Talvez

ninguém como nós

ponha tanto coração

no trabalho.

Eu sou uma fábrica.

E se chaminés

me faltam

talvez

sem chaminés

seja preciso

ainda mais coragem.

Sei.

Frases vazias não agradam.

Quando serrais a madeira

é para fazer lenha.

E nós que somos

senão entalhadores a esculpir

a tora da cabeça humana?

Certamente que a pesca

é coisa respeitável.

Atira-se a rede e quem sabe?

Pega-se um esturjão!

Mas o trabalho do poeta

é muito mais difícil.

Pescamos gente viva e não peixes.

Penoso é trabalhar nos altos-fornos

onde se tempera o ferro em brasa.

Mas pode alguém

acusar-nos de ociosos?

Nós polimos as almas

com a lixa do verso.

Quem vale mais:

o poeta ou o técnico

que produz comodidades?

Ambos!

Os corações também são motores.

A alma é poderosa força motriz.

Somos iguais.

Camaradas dentro da massa operária.

Proletários do corpo e do espírito.

Somente unidos,

somente juntos remoçaremos o mundo,

-lo-emo marchar num ritmo célere.

Diante da vaga de palavras

levantemos um dique!

Mãos à obra!

O trabalho é vivo e novo!

Com os oradores vazios, fora!

Moinho com eles!

Com a água de seus discursos

que façam mover-se a mó!

 

(tradução: Emilio C. Guerra)

 

 

 

 

À Esquerda! [1918]

 

Aos marinheiros russos

 

Em frente, marche! Basta de falar!

O tempo dos oradores já passou.

Hoje tem a palavra

o Camarada Mauser!

Não há outra lei senão a da natureza.

Somente Adão e Eva estão com a verdade.

Abaixo as leis, abaixo as cadeias!

 

Fustiguemos a carroça da história.

À esquerda, à esquerda, à esquerda!

Em frente, à conquista

  dos Oceanos!

Tendes canhões em vossos navios de aço.

Já esquecestes como os fazer falar?

  Que a coroa abra uma goela

              quadrangular,

              que o leão britânico ruja

              que importa?

A comuna está em marcha

e manterá a vitória!

À esquerda, à esquerda, à esquerda!

 

Aqui é a sombra e a morte, mas lá longe

  do outro lado das montanhas

o sol se levantou sobre um mundo novo.

  Lá, além das planícies,

  O solo estremece sob os passos inumeráveis

  de homens impávidos e livres.

Camaradas, nós somos um rochedo de granito.

Os bandidos da Entente se arremessam contra ele.

  Mas nada abaterá a Rússia Soviética.

  À esquerda, à esquerda, à esquerda!

Eles não puderam furar os olhos atilados da águia

que olha e compreende as lições do passado.

Avante, pois, meu povo, e já que o pegaste

  estrangula teu carrasco!

A trombeta dos bravos já soou o alarme.

Nossos estandartes aos milhares avermelham o céu.

Só a rota dos traidores é que conduz à direita.

  À esquerda, à esquerda, à esquerda!

 

(tradução: Emílio C. Guerra)

 

 

 

 

Desatai o futuro! [1925]

 

O futuro

            Não virá por si só

se não tomarmos medidas.

Pega-o pelas orelhas, komsomol!

Pega-o pela cauda, pioneiro!

A comuna

            não é uma princesa fantástica

com quem

            de noite se sonha.

Calcula,

            reflete,

                        mira bem

e avança!

            embora sejam miudezas.

O comunismo

            não reside apenas

na terra,

            no suor das usinas.

Senão também no lar,

                        à mesa,

nas relações de família,

                        nos costumes.

Aquele que

            no decorrer do dia

anda rangendo palavrões

            como um eixo de carroça

                                               ressecado,

aquele que

            fica pasmado

                        quando geme a balalaica,

esses

            não atingiram o talhe

                                   do futuro.

Nas trincheiras

                        manejar metralhadoras,

não é apenas nisso

                        que consiste a guerra.

O ataque

            à família,

                        ao lar,

não é para nós

                        ameaça menor.

Quem não agüentou

                        a tarefa doméstica

e dorme

            no bem-bom

                        das rosas de papel,

esse

            não atingiu o talhe

da poderosa vida

                        do porvir.

Qual uma peliça

                        o tempo é também

roído

            por vermes quotidianos.

Às vestes poeirentas

                        de nossos dias

cabe a ti, komsomol, sacudi-las!

 

(tradução: Emilio C. Guerra)

 

 

 

 

 

E então que quereis? [1927]

 

Fiz ranger as folhas de jornal

abrindo-lhes as pálpebras piscantes.

E logo

            de cada fronteira distante

subiu um cheiro de pólvora

            perseguindo-me até em casa.

Nestes últimos vinte anos

                                   nada de novo há

no rugir das tempestades.

                        Não estamos alegres,

é certo,

            mas também por que razão

haveríamos de ficar tristes?

O mar da história

                        é agitado.

As ameaças

            e as guerras

                                   havemos de atravessá-las,

rompê-las ao meio,

                        cortando-as

como uma quilha corta

                                   as ondas.

 

(tradução: Emilio C. Guerra)