Contemporânea Página da disciplina de História Contemporânea da UDESC |
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"De início os Ulianov se instalaram na fronteira da 'Coroa' aristocrática. Não se ajustavam muito bem à população local. Devido às origens plebéias de Ilia Nikolaievitch e ao luteranismo de Maria Aleksandrovna, a nobreza não os aceitava; eram gente séria demais para o meio dos funcionários, descontentes com as reformas recentes; e nada tinham em comum com os comerciantes. Maria Aleksandrovna ocupava-se com os filhos e com uma economia rigorosa, já que o dinheiro mal dava para viver. Teve um filho, que foi batizado Vladimir, na primeira primavera em que ela e o marido passaram em Simbirsk, em 22 de abril de 1870 - seu terceiro filho, o segundo do sexo masculino [o primeiro filho homem chamava-se Aleksander] ; posteriormente veio a ter mais dois meninos e duas meninas, sendo que um dos meninos morreu. (...) Quando Aleksander tinha vinte anos e Vladimir dezesseis, Ilia Nikolaievitch morreu súbita e inesperadamente. Durante toda a vida trabalhara demais. Como diretor da rede escolar, fora obrigado a resolver todos os problemas de todos os mestres-escolas da província, que viviam lhe pedindo ajuda; e tinha o hábito de substituí-los quando adoeciam. Mas agora, depois que se matara de trabalhar durante vinte e cinco anos, via todo o seu trabalho a ser destruído pela reação contra o ensino popular provocada pelo assassinato de Alexandre II, em 1881; via-se profissionalmente humilhado e com sérios problemas financeiros. Foi aposentado quatro anos mais cedo do que seria de se esperar; e, embora um novo superior subseqüentemente o reconvocasse, passou seus últimos anos sob a opressão do Estatuto de 1884, que despediu professores liberais e excluiu estudantes suspeitos, e sob um ministro da educação que proibiu que fossem instruídos os 'filhos de cozinheiras'. Ilia Nikolaievitch sofreu um derrame e morreu em janeiro de 1886. (...) Um dia, em março do ano seguinte ao da morte de Ilia Nikolaietvitch, uma professora amiga da família veio ao ginásio rm que Vladimir estudava e mostrou a ele uma carta que acabara de receber de um parente dos Ulianov que morava em São Petersburgo. A carta dizia que Aleksander fora preso, juntamente com outros estudantes, por participar de um complô para matar o czar. O Mais jovem dos estudantes tinha vinte anos; o mais velho, vinte e seis. Um deles escrevera uma carta a um amigo cheia de planos terroristas; através dela a polícia ficou sabendo um dos nomes. Em seguida a polícia prendeu um grupo de seis deles, que caminhavam pela Nevski Prospekt com um falso dicionário de medicina cheio de dinamite e balas envenenadas com estricnina. Aleksander foi preso depois. Descobriu-se que, como ele conhecia química, lhe fora atribuída a tarefa de fazer a bomba; e Aleksander vinha trabalhando alternadamente no laboratório da escola e num outro particular, no qual lidava com explosivos. Havia penhorado a medalha de ouro que ganhara na escola em Simbirsk para comprar ácido nítrico fabricado em Vilna. Ana [,sua irmã,] por acaso estava visitando-o no momento em que a polícia chegou, e foi presa também. (...) No início de maio, um dia após ter visto o filho na prisão, Maria Aleksandrovna leu num jornal que comprou na rua que Sacha acabara de ser enforcado. Alguns dias depois, Ana foi solta, porém foi banida para a propriedade de seu avô Blank. (...) Vladimir ingressou na faculdade de direito [de Kazan]; porém constatou que não havia como escapar das repercussões do que ocorrera com seu irmão. A conspiração estudantil tivera o efeito de aumentar ainda mais a pressão sobre as instituições acadêmicas: foram despedidos mais professores liberais, e expulsos mais estudantes suspeitos. Em dezembro, uma onda de rebeliões estudantis que começara em Moscou chegou até a Universidade de Kazan. Os estudantes convocaram uma assembléia, chamaram o inspetor da universidade e exigiram que fossem restabelecidos certos direitos que recentemente haviam sido abolidos. Naquela noite, a polícia veio ao apartamento dos Ulianov e levou Vladimir. Ele havia participado da manifestação, mas não desempenhara nenhum papel importante. O problema era que o irmão do conspirador Aleksander estava sendo vigiado pela polícia. Foi expulso da universidade e da cidade de Kazan. (...) [Maria Aleksandrovna] Conseguiu que Vladimir recebesse permissão para fazer os exames finais da faculdade de direito de uma universidade. Vladimir viajou a São Petersburgo para saber o que teria de fazer (...). Estudou toda a matéria do curso de quatro anos em menos de um ano e meio. (...) Quando fez os exames, Vladimir foi o primeiro entre 124 candidatos. (...) Nadejda [Konstantinovna Krupskaia] trabalhou com ele [Lenin] na Liga de Luta pela Emancipação da Classe Operária, organizada por Lenin no ano seguinte [1895]. Lenin evitava os intelectuais, exceto os agitadores social-democratas, e tentava lidar diretamente com os trabalhadores. (...) Krupskais ajudou Lenin a se aproximar dos operários. De início fornecia-lhe as informações que lhe davam seus alunos; depois, vestida como uma operária, passou a visitar os alojamentos das fábricas. Lenin escrevia panfletos sobre multas impostas às fábricas e leis reguladoras da indústria, Krupskaia e as outras mulheres da Liga de Luta os distribuíam nos portões das fábricas quando os operários estavam saindo, ou então os acompanhavam até suas casas e enfiavam os panfletos debaixo das portas. O grupo continuou a promover a agitação depois que Lenin foi preso, e desempenhou um papel importante numa greve geral de trabalhadores da indústria têxtil no verão de 1896. Krupskaia foi presa e exilada. Fora através dela que Lenin, preso, se comunicara com seus seguidores (...). Quando finalmente Nadejda foi juntar-se a ele na Sibéria, veio acompanhada da mãe, a qual sempre havia morado com ela e os ajudava a fugir da polícia. Lenin alugou dois apartamentos adjacentes, um para as duas e um para si." Fonte: WILSON, Edmund. Rumo à estação Finlândia: escritores e atores da História. 12 reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p.332, 335-337, 339, 344, 354. |
Página atualizada em 14 de abril de 2003.
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