Contemporânea Página da disciplina de
História Contemporânea da UDESC |
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Carta
aberta aos operários (1918) Companheiros! O duplo incêndio
da guerra e da revolução esvaziou nossas almas e nossas cidades. Os palácios
do luxo de ontem estão aí qual esqueletos calcinados. As cidades devastadas
esperam novos construtores. O turbilhão revolucionário arrancou dos espíritos
as raízes nodosas da escravidão. A alma do povo aguarda uma semeadura
grandiosa. Dirijo-me a
vocês que receberam a herança da Rússia, a vocês que amanhã (acredito!) se
tornarão os donos do mundo inteiro, e pergunto: com que edifícios fantásticos
hão de cobrir o lugar dos incêndios de ontem? Que músicas e canções hão de
espalhar-se das suas janelas? A que Bíblias abrirão suas almas? Vejo espantado
como da ribalta dos teatros ocupados ressoam "Aídas"
e "Traviatas", com toda espécie de condes e cavalheiros espanhóis, como
nos versos aceitos por vocês, estão as mesmas rosas
das estufas senhoriais e como saltam os olhos de vocês ante gravurinhas que
representam a magnificência do passado. Será que,
amainadas as tempestades desencadeadas pela revolução, vocês sairão, em dias
feriados, de correntinha sobre o colete, para jogar solenemente o críquete,
diante dos sovietes distritais? Saibam que para
os nossos pescoços, pescoços de Golias do trabalho, não existem números
adequados de colarinho nos guarda-roupas da burguesia. Somente a
explosão da Revolução do Espírito nos purificará das velharias da arte de
outrora. Que a razão vos
proteja da coação física contra os restos da antigüidade artística. Entreguem-nos às escolas e
às universidades, para o estudo da geografia, dos costumes e da história, mas
vocês devem repelir indignados aquele que lhes oferecer esses objetos
petrificados em lugar do pão da beleza viva. A revolução do
conteúdo - socialismo-anarquismo - é inconcebível sem a revolução da forma: o
futurismo. Disputem com
avidez os pedaços da arte sadia, jovem e rude que lhe entregamos. A ninguém é dado
saber que imenso sóis hão de iluminar a vida futura.
Talvez os pintores transformem a poeira cinzenta das cidades em arco-íris centicores, talvez das cumeeiras das montanhas então
ressoe sem cessar a música tonitroante dos vulcões
transformados em flautas, talvez obriguemos as ondas dos oceanos a ferir as
cordas das redes estendidas entre a Europa e A América. Uma coisa está clara
para nós: fomos nós que inauguramos a primeira página da novíssima história
das artes. Fonte: SCHNAIDERMAN, Boris. A
poética de Maiakóvski. São Paulo: Perspectiva,
1971. (Debates) p.119- |