Em defesa da Mata Nacional



Na última reunião da Assembleia Municipal de Ovar e apesar do voto contra do representante da CDU, José Costa, foi aprovado um projecto que representa um verdadeiro atentado ambiental, e que poderá abrir portas ao aniquilamento de parte significativa da floresta que ainda resta no nosso concelho.

Com efeito,  ao abrigo das chamadas áreas de Desenvolvimento Lúdico e Turístico, previstas no PDM, deu entrada na Câmara um projecto de criação de um centro hípico, ocupando uma área de sensivelmente 100 hectares situada a norte do Furadouro, entre a rua Sr. da Piedade e a Rua de S. Pedro (Estrada da Mata em direcção a Maceda), portanto em pleno espaço natural florestado.

Sucede que, a reboque de uma área de desenvolvimento de turismo equestre, o projecto contempla dentro da referida área nada mais nada
menos do que:

-Uma unidade hoteleira;

-220 moradias;

-206 apartamentos;

-9 campos de ténis;

-dois centros hípicos com todos os equipamentos inerentes (boxes, paddocs, picadeiros, campo de polo, posto veterinário etc…);

-um restautante;

-parques de estacionamento

-acessos etc…

A Comissão Coordenadora de Ovar da CDU considera como positiva a criação de estruturas que se insiram numa estratégia de valorização da nossa mata proporcionando melhores condições para as populações poderem usufruir daquele património ambiental. Não é seguramente o caso deste mega-empreendimento turístico privado, com mais de 2000 camas no total, que irá destruir por completo quase 100 hectares de floresta.

Importa lembrar que o PDM impede a destruição do coberto vegetal numa proporção superior a 50% da área de intervenção.

A Comissão Coordenadora de Ovar da CDU entende que é urgente alertar a população para as nefastas consequências de um projecto que, a ir para a frente, irá amputar grande parte de uma área vital para o equilíbrio ambiental da nossa região.

Por outro lado, com este precedente, outros projectos poderão surgir, designadamente na mancha florestal a sul do Furadouro onde o PDM também prevê a criação de áreas de desenvolvimento lúdico e turístico. É do futuro da Mata que estamos a falar.

Finalmente, importa lembrar à Câmara e aos seus responsáveis que este tipo de empreendimentos carece obrigatoriamente de um estudo de impacto ambiental e estão consequentemente sujeitos a um período de discussão pública (DL 186/90 e DR 38/99).

A Comissão Coordenadora de Ovar da CDU entende que ainda é possível arrepiar caminho visando uma solução que viabilise a construção de um equipamento importante para o concelho, mas que preserve um património ambiental vital para o concelho, para a região e também para o país.



Ovar, 24 de Janeiro de 2004

Comissão Coordenadora de Ovar da CDU




P.S. : Junto enviamos teor da intervenção de José Costa na última reunião da Assembleia Municipal do dia 16 de Janeiro útlimo, acerca
desta matéria.

Ponto 3,7:  Criação de um centro hípico

O PDM de Ovar contém múltiplas referências à faixa litoral do Concelho e, em particular, à mata. Diz expressamente que "todas as intervenções a realizar deverão ser ponderadas, nomeadamente, deverão atender à capacidade de carga prevista e ao equilíbrio entre o meio natural e a presença humana, pois trata-se de uma área sensível do ponto de vista ambiental e com uma importante função ao nível da protecção do território concelhio localizado a Nascente."

Srs. Deputados, estamos hoje a avaliar um projecto que irá ocupar uma área de cerca de 100 hectares, ou seja quase o dobro do prímetro urbano do Furadouro. Uma área de floresta, cujo importante papel ambiental nunca é demais realçar.

Nesta área propõe-se implantar:

-Uma unidade hoteleira;
-220 moradias;
-206 apartamentos;
-9 campos de ténis;
-dois centros hípicos com todos os equipamentos inerentes (boxes, paddocs, picadeiros, campo de polo, posto veterinário etc…);
-um restautante;
-parques de estacionamento
-acessos etc…

Convenhamos que todas estas infraestruturas  não podem deixar de provocar alguns receios relativamente ao futuro da nossa mata. É de facto muita construção. Não é seguramewnte esse o âmbito das áreas de desenvolvimento expressas no PDM de acordo com a nossa interpretação. Não é esse o caminho para a valorização ambiental da nossa floresta.

Diz o PDM que a área de ocupação máxima a ser sujeita à destruição definitiva do coberto vegetal não poderá ultrapassar 50% da área de intervenção. O relatório da Divisão de Planeamento Estudos e Projectos da Câmara, por um lado, diz que não tem nesta fase elementos que lhe permita aferir o respeita daquela disposição por parte do projecto. Logo a seguir e de forma um tanto ou quanto ligeira, a nosso ver, expressa que, tendo em conta o índice médio de construção de 0,2, pensa (mas não conclui) que o projecto está dentro da norma. Meus Srs. o índice de 0,2 diz respeito à totalidade da área base que vai do Furadouro até à base de Maceda. Por outro lado basta olhar para o projecto para concluir que o mesmo, a avançar, irá destruir quase por completo o coberto vegetal. É olhar e ver. Julgo que aí deveríamos estar mais atentos.

O projecto levanta-nos, por outro lado, um conjunto de interrogações:

-Que vai ser da nossa mata daqui para o futuro com este precedente? Será que vai nascer outro mega-emprendimento em outras parcelas como seja, por exemplo, naquela que vai do Torrão do Lameiro até ao Furadouro ?

-Por outro lado, merece-nos a dúvida sobre os reais benefícios daquele empreendimento para a população de Ovar. Não estaremos a elitizar o usufruto de um bem que deveria ser de todos e que irá passar apenas de alguns? O que vai ser do parque de merendas? Para onde irão correr as centenas de atletas que percorrem hoje os trilhos daquela mata, precisamente no local onde este projecto está previsto?

A CDU não está, obviamente, contra a ideia de criação de um complexo hípico para aquela zona. Antes pelo contrário. Somos a favor. O que não aceitamos é que a reboque de um ideia, que julgamos positiva, se venha a contruir um mega empreedimento turístico para mais de 2000 camas no total, destruindo por completo quase 100 hectares de floresta. Não posso deixar de lembrar que, há uns anos atraz, foi indeferida (e bem a nosso ver)  a intenção de criar na área entre o Torrão do Lameiro e o Furadouro uma reserva de caça associativa.

 A CDU não pactua com este projecto, que, tal como está, lesa de forma irreversível os interesses do concelho e da região. Pedimos por isso que o mesmo seja reformulado. Pedimos que os técnicos da câmara, com base na totalidade dos elementos relevantes, façam uma avaliação mais rigorosa dos índices de construção. Mais, pedimos ao Sr. Presidente da Câmara que, ao abrigo do ponto 3 do  atrigo 40 do regulamento do PDM, peça a realização de um estudo de avaliação de impacto ambiental, no sentido de aferir com todo o rigor as ameaças que possam estar contidas neste projecto.

José Costa
(representante da CDU na Assembleia Municipal de Ovar)