Assembleia Municipal Extraordinária
 


A Comissão Coordenadora de Ovar da CDU vem, através desta nota, saudar a luta da população vareira e louvar a iniciativa popular, que esteve na origem da realização da Assembleia Municipal Extraordinária do passado dia 10.

A Comissão Coordenadora de Ovar da CDU está, como sempre esteve e sempre
estará, ao lado da população, na defesa dos seus mais elementares interesses e contra o que entende serem medidas totalmente injustas, que penalizam as famílias, para mais num contexto de crise económica e social como aquele que estamos a viver. Através de um vasto conjunto de iniciativas (abaixo-assinados, moções, boletins informativos etc.), a CDU tem vindo, desde a primeira hora, a contestar quer o aumento das tarifas de saneamento quer o aumento da taxa de resíduos sólidos urbanos.

Perante os muitos discursos ouvidos na referida Assembleia, tendo a maioria dos quais apenas servido para atirar poeira para os muitos populares presentes, importa sublinhar que a CDU foi a única força política representada na Assembleia Municipal a votar favoravelmente a moção apresentada pela população.

A Comissão Coordenadora de Ovar da CDU, que espera que seja dado o justo relevo a este facto, apela a toda a população para que não caia no erro fácil de pensar que todos os partidos são iguais. Como ficou mais uma vez provada nesta Assembleia, existe um partido que é diferente de todos os outros. A CDU mostrou, mais uma vez, a quem quis ver que está, de facto, ao lado das populações não só no discurso mas também na acção.





Intervenção de José Costa

Sr. Presidente!
Srs. Deputados!
Minhas Sras, Meus Srs!



Permitam-me, em primeiro lugar, que saúde esta iniciativa. É bom sinal. Sinal de que o povo está atento. A CDU, como é reconhecido, tem vindo desde a primeira hora, nesta Assembleia e fora dela, a levantar a sua voz perante esta brutal medida, que afecta de sobremaneira as famílias deste Concelho. Medida esta que resultou de uma votação por unanimidade entre o PSD e o PS ao nível do Executivo Camarário.

Este aumento das tarifas de saneamento, que ultrapassa em muitos casos os 100%, com especial destaque para as famílias numerosas, ocorre num momento particularmente difícil, em que a contenção salarial e o aumento geral do custo de vida esmagam o poder de compra dos trabalhadores. Refira-se que a taxa de desemprego atinge em Ovar o valor mais alto do distrito de Aveiro. São já perto de 3000 aqueles que procuram, mas não encontram trabalho remunerado.

É neste clima que a Câmara de Ovar e respectivo SMAS entenderam, à revelia dos mais elementares interesses da população, aumentar, primeiro, em 50% a taxa de resíduos sólidos urbanos e, depois, as tarifas do saneamento para os valores conhecidos.

Já muito se disse e escreveu acerca desta matéria. Desde já saudamos o recuo do SMAS relativamente aos 19% de IVA. Esperemos que as devoluções prometidas se processem rapidamente. Mas, o grande problema, a grande questão, afinal é relativamente simples: a Câmara de Ovar, no ano 2000 assinou um contrato com o SIMRIA com base em caudais de efluentes domésticos que nada tinham e nada têm que ver com a realidade do concelho. A verdade é que o concelho de Ovar tem uma taxa de cobertura da rede de sanemento básico de apenas 53% (de acordo com o Anuário Estatístico de 2003 do INE). Freguesias inteiras, como Válega, S. Vicente Pereira, Arada, Maceda e grande parte das freguesias de S. João e Esmoriz, assim como pequenas parcelas da freguesia de Ovar não têm saneamento. No Sargaçal, existe uma rede que está completamente parada. Como é possível? Porque não está já ligada ao colector do SIMRIA? Ou, se não está em condições, como foi possível deixar apodrecer toda aquela infra-estrutura? Quem por lá passou recentemente certamente terá visto o incómodo que causam as fossas dos prédios, sobretudo quando há roturas.

Mas, dizia eu, que aí reside o principal problema. São 53% da população a pagar como se fossem 100% a enviar águas residuais para o sistema.

Importa portanto perguntar: o que andaram a fazer o PSD e o PS nas últimas décadas em que estiveram, ora um, ora outro à frente dos desígnios da Câmara? Para onde foram os investimentos? Como se chegou a esta realidade terceiro-mundista? Entraram em Portugal milhões e milhoes de contos do Fundo de Coesão, que existe precisamente para este tipo de infra-estruturas, o que foi feito para captar estes fundos? Provavelmente muito pouco.

A CDU, por múltiplas e variadas vezes, orçamento após orçamento, eleição após eleição, reiterou até à exaustão a importância de ser concluída a rede de saneamento básico. É bom que o público aqui presente se recorde destes aspectos. Nas autarquias onde a CDU está no poder há muito que esta questão está resolvida. A regra são os 100% de cobertura, como é o caso de Almada, Beja, Seixal, Palmela e a excepção são os 95%  em Avis.

Infelizmente, a CDU nunca foi poder em Ovar. O resultado é este. No ano da graça de 2004, a taxa de cobertura é apenas de 53%, segundo dados oficiais. Pena que a Câmara não tenha reconhecido esta situação quando negociou e assinou o contrato.

Mas há mais. No referido contrato, assinado em 2000, a Câmara concede ao SIMRIA um autêntico monopólio na recolha e tratamento de efluentes domésticos. Nas áreas ainda não abrangidas pelo sistema (Norte do concelho) o Município compromete-se a não desenvolver sistemas alternativos de recolha e rejeição de efluentes, nem a aprovar soluções que determinem a sua exclusão do SIMRIA (Cláusula 4ª). E, como se não bastasse, no mesmo ano de 2000 ainda assinou mais um aditamento ao contrato que repete os mesmos erros e que irá obrigar as populações de Esmoriz e Cortegaça, que já estão servidas com uma ETAR própria, a abandonar a mesma, aderindo ao sistema do SIMRIA e pagar mais do dobro do que aquilo que estavam a pagar. Mas isto não será passar de cavalo para burro?

Vejamos: existe uma ETAR que trata os efluentes de Esmoriz e Cortegaça. Esta ETAR foi elogiada publicamente há cerca de dois anos. Pelo menos foram estas as declarações do Sr. Presidente da Câmara na sequência de uma inspecção. As populações pagam neste momento 21 cêntimos por metros cúbico de água pelo serviço. Eu pergunto: como é que vão explicar aquelas pessoas a necessidade de mudar para o SIMRIA passando a pagar mais do dobro? Onde é que está a lógica? Onde estão as economias de escala?

Sr. Presidente. A população está profundamente revoltada. As suas razões são mais do que justas e são inteiramente partilhadas pela CDU que, repito, denunciou a situação desde a primeira hora. Recordo as mil e tal assinaturas recolhidas em tempo recorde e entregues nesta mesa na Assembleia de Setembro do ano passado. Esta Assembleia tem de dar um sinal à população. A Câmara tem de se comprometer a rever este processo e avançar rapidamente para a conclusão da rede de saneamento. Tem de pensar numa questão, que a CDU tem vindo a reclamar de forma reiterada, que é a questão dos incentivos à ligação, quer da rede de água quer, da rede de saneamento.

Sr. Presidente, sabemos que este é o seu último mandato. Aí tem uma oportunidade de deixar uma imagem positiva e indelével sobre a sua passagem por esta Câmara


Ovar, 10 de Março de 2004

José Costa
Representante da CDU na Assembleia Municipal de Ovar