ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE OVAR
SESSÃO SOLENE DO 25 DE ABRIL DE 2004



Com o passar dos anos, mais se acentua a importância histórica do 25 de Abril, quer pelo que representa, por ter liquidado a ditadura fascista, fazendo jus às mais profundas aspirações dos trabalhadores e do Povo Português e materializado os objectivos da luta heróica da resistência anti-fascista, quer pela dinâmica revolucionária criada, que marcou profundamente os fundamentos da nossa democracia e o regime constitucional que hoje vigora.

Trinta anos passados, comemoramos o 25 de Abril e relembramos, em primeiro lugar, a alegria da libertação, o povo e o MFA em festa e em luta nas ruas, conquistando a liberdade, exercendo-a, fazendo história. Relembramos também e inevitavelmente, o fascismo, que existiu, ao contrário do que pretendem fazer-nos crer os que hoje, o ocultam por detrás de camufladas formulações como "antigo regime" ou "estado novo",  com o seu carácter opressivo, repressivo e explorador.

Relembramos ainda, a resistência anti-fascista, na qual, durante quase cinco décadas de luta, milhares de homens, mulheres e jovens, enfrentaram e afrontaram a ditadura, sujeitando-se, conscientes e lúcidos, às consequências dessa postura resistente. E sublinhamos o papel desempenhado pelo PCP nessa resistência ao fascismo. Não pretendemos, com isso, nem medalhas, nem coroas de louros, nem  estátuas. Apenas não permitiremos que os actuais re-escrevedores da História ocultem às jovens gerações que nesse tempo sombrio, em que a ditadura fascista negava aos portuguêses a liberdade e a democracia e torturava sem piedadade os seus opositores, os comunistas portugueses ocuparam sempre a primeira fila da luta e foram por isso determinantes na adesão popular, que determinou o rumo e o êxito da revolução de Abril.

Assim, comemoramos, Abril comemorando a sua primeira conquista, a liberdade e, na sequência dela, todas as outras conquistas que fizeram a Revolução de Abril:

-os direitos dos trabalhadores, o direito ao trabalho, à organização sindical e à greve; os subsídios de desemprego e de férias e o 13º mês; o salário mínimo nacional; o direiro à saúde e à educação;

-as nacionalizações e o controlo operário;

-a reforma agrária;

-o Poder Local Democrático;

-a descolonialização;

-e, dois anos depois, a Constituição da República Portuguesa, o mais belo e progressista texto constitucional da Europa ocidental, que consagrava a democracia de Abril: uma democracia avançada, com as suas vertentes política, económica, social e cultural.

Por tudo isto, pode dizer-se que a aprovação da Constituição da República Portuguesa, em 2 de Abril de 1976, foi como que a confirmação de que um tempo novo havia nascido para o povo português: o tempo de modernidade e de verdadeiro progresso social como a nunca até  agora tinha existido em toda a história nacional.

Nunca é demais sublinhar a imediata e espontânea adesão popular à patriótica acção dos militares do MFA, expressa de forma inolvidável, nas grandiosas manifestações do 1º de Maio de 1974, organizadas pela então Intersindical, com a legimidade que lhe advinha da sua luta contra o corporativismo e pela liberdade sindical.

Quando as principais figuras do governo e dos partidos que o suportam vêm dizer que "a revolução trouxe benefícios políticos, mas foi um massacre para a economia" é necessário contrapor-lhe que as grandes conquistas democráticas, no que respeita às estruturas socioeconómicas, como sejam as nacionalizações e a reforma agrária, não só correspondiam à criação de uma nova base de desenvolvimento, como à necessidade de medidas de defesa da economia e das liberdades e conquistas sociais alcançadas.

Mas ao comemorar o trigésimo aniversário de Abril é também necessario ter presente a contra-revolução, os caminhos por ela seguidos, os  apoios de que dispôs, os métodos e as práticas que utilizou. Imediatamente a seguir à deposição do regime, logo a contra.revolução deu os seus primeiros passos, não olhando a meios para alcançar os fins pretendidos. E quando teve necessidade de recorrer ao terrorismo, fê-lo, destruindo, matando, espalhando o sofrimento e a dor, sempre, como era o seu  hábito, invocando a democracia e a liberdade e beneficiando dos apoios finaceiros do imperialismo norte-amercicano.

Hoje, à distância de 30 anos, quando nos confrontamos ainda com tantos problemas sociais e grandes dificuldades para afirmar um  desenvolvimento que nos aproxime dos nossos parceiros europeus e quando estamos perante um quadro em que os melhores valores e ideais da humanidade são postos em causa pela globalização capitalista, repensar Abril, é um exercício estimulante para avaliar o presente e perspectivar o futuro. Temos uma democracia em termos político e constitucionais, mas não temos uma sociedade avançada no plano económico e social. Continua-se a insistir num modelo de crescimento baseado na mão de obra barata;  confrontamo-nos com um violento ataque aos sistemas públicos da segurança social, da saúde e do ensino; enfrentamos uma feroz ofensiva contra os direitos  dos trabalhadores, expressa no Código do Trabalho, conduzida pelo actual governo de acordo com orientações patronais; cresce o desemprego e a precaridade do trabalho. Os trabalhadores, que com a sua intervenção no processo revolucionário marcaram decisivamente o carácter progressista  e transformador da Revolução, tornaram-se hoje nos principais alvos da política de direita, vendo as suas condições de vida degradadas e os seus direitos de participação limitados.

Conduzido pela actual Governo PSD-PP, está também em curso a tentativa de alteração do regime democrático, por via da subversão do papel do Estado, com o ataque à Adminstração Pública e aos serviços públicos que, a consumar-se, traria mais desigualdades para os cidadãos com a diminuição dos seus direitos sociais. O processo da chamada "reforma do sistema político", negociado entre o PS PSD e CDS-PP,  com os seus dois principais capítulos, Lei dos Partidos e a Lei do Financiamento dos Partidos - , pela sua natureza antidemocrática e anti-constitucional, constitui um dos mais graves atentados ao regime democrático instituído pela Revolução de Abril. Estas leis violam o princípio da não  ingerência do Estado na vida interna dos partidos, o direito à auto--organização interna e da decisão soberana dos seus membros decidirem da sua organização interna e introduzem o princípio da judicialização da actividade partidária. Consituem, por isso, graves e perigosos  precedentes antidemocráticos. Estas leis, pela sua natureza, não visam reforçar o regime democrático, como hipocritamente afirmam os seus promotores, mas essencialmente limitar e atacar as possibilidades de intervenção política do PCP, o Partido da Resistência ao fascismo, da criação do regime democrático e o mais firme e consequente defensor dos ideais, valores e conquistas de Abril. A defesa e o aprofundamento do regime democrático exige que se combatam estas leis antidemocrática e que ferem princípios constitucionais.

Entretanto e apesar da tão apregoada retoma da economia, prometida pelo governo, e olhando para os últimos dois anos, o resultado não podia ser pior: crise económica sem fim à vista, meio milhão de desempregados, sucessivos encerramentos de empresas, redução dos salários reais, aumento dos preços, degradação e privatização dos serviços públicos de saúde e segurança social, agravamento da pobreza e das desigualdades sociais, inaceitável servilismo no envolvimento de Portugal numa guerra injusta e ilegal de invasão de um país soberano  e por aí fora.

Temos no Concelho cerca de três mil desempregados o que representa uma aumento de 25 % face a igual período do ano passado. Esta semana, os  107 trabalhadores da Universal Motors, ex-Efacec, receberam uma proposta inaceitável de rescisão contra o pagamento de um mês de sálario por cada ano de trabalho, pagável, pasme-se, em 36 "suaves" prestações mensais. Não há palavras meus Srs, e minhas Sras. Quero sublinhar aqui que os mesmos trabalhadores, reunidos ontem em plenário, rejeitaram por unânimidade aquela insultuosa proposta e mostraram toda a sua disponibilidade para lutar pela defesa dos seus postos de trabalho, evitando assim o encerramento de mais uma empresa emblemática do nosso concelho, com todas as perdas que isso representaria para a economia da nossa região, para além do drama de todos aqueles trabalhadores hoje à beira de perder o seu ganha pão. Temos conhecimento dos avultuosos interesses imobiliários que estarão na base desta decisão por parte da empresa.

Por isso entendemos que a Câmara pode ter aqui um papel importante a desempenhar para evitar mais um encerramento. Nenhum país vive apenas  de serviços. Para vender é necessário que haja poder de compra, e para que haja poder de compra tem de haver criação de riqueza. Com esta política o país afunda-se a olhos vistos.

É contra tudo isto que nos temos vindo a bater. É por tudo usto que defendemos Abril e afirmamos a nossa firme determinação de lutar por um Portugal Desenvolvido e Solidário no caminho do Progresso e da Justiça Social.

Viva a Revolução de Abril
25 de Avril sempre ! Fascismo nunca mais !
Viva o Poder Local Democrática !


José Costa
Representante da CDU na Assembleia Municipal de Ovar