Barbárie ou civilização


O terrorismo representa hoje uma questão incontornável na nossa sociedade, que preocupa naturalmente e de forma crescente a generalidade dos cidadãos, na exacta medida em que a ameaça terrorista se torna cada vez mais global. Contrariamente áqueles que previam uma era de prosperidade e de paz após a queda do muro de Berlim, a verdade é que o Mundo não está mais seguro, antes pelo contrário.

É óbvio que o terrorismo tem de ser denunciado e combatido sem equívocos e em qualquer país onde ele se manifeste. Sucede porém que isto não nos deve impedir de reflectir acerca deste fenómeno, por forma a compreendermos as suas reais motivações e para podermos dar as melhores respostas visando a sua erradicação. Abdicarmos desta reflexão ou limitarmo-nos unicamente a clamar por um combate cego e sem olhar a meios, coloca-nos numa situação de retrocesso civilizacional, ou de regresso à barbárie.

Tenho para mim que não é com bombardeamentos e guerras que se combate o terrorismo. Passado um ano após o desencadeamento da guerra do Iraque, é óbvio que o terrorismo não só não diminui como foi seguramente potenciado. Por mais ignóbeis que sejam os métodos criminosos usados, creio ser importante tentarmos perceber de que se alimenta o fundamentalismo, onde vai buscar a sua força e porque é que numa recente sondagem à escala mundial, 70% do inquiridos condenavam a intervenção norte-americana no Iraque (mais de 80% na Jordânia e em Marrocos).

Até onde nos levará esta orgia de violência por parte dos Estados Unidos e seus aliados. Dezenas de milhares de inocentes, como aqueles que infelizmente morreram em Madrid, perderam a vida na Sérvia, no Afganistão ou no Iraque debaixo das bombas ocidentais. Centenas continuam a morrer na Palestina perante o apoio implícito das potências ocidentais. Casas destruídas, famílias destroçadas, crianças mutiladas, tudo isso em nome do combate ao terrorismo ou de outros falsos pretextos, como foi a farsa das armas de destruição massiças.  Não se combate o terrorismo com terrorismo de Estado, sob pena de estarmos não a contribuir para o seu aniquilamento, mas antes a alimentar a sua base de apoio alicerçada no ódio e no desespero de povos humilhados.


Ovar, 20 de Março de 2004
Miguel Viegas
Membro da Comissão Concelhia de Ovar do PCP