Ano II - Opinião: artigo do dia - Segunda-feira,
02 de outubro de 2000
TEMPOS DE INTIMIDADE COM O CLIENTE
Os consumidores quando buscam produtos ou serviços no mercado,
no mínimo esperam receptividade das pessoas que fazem o atendimento,
através de: atenção, simpatia, prestatividade, cordialidade,
interesse sincero em ajudar e um ambiente agradável. Desejam, um
preço justo e facilidade na hora de pagar. Quando algo não
sai de acordo com estas expectativas; um pedido de desculpas e a solução
do problema, sempre de acordo com as escolhas do cliente, é o mínimo
que se espera da pessoa que o atende, enfim, os clientes querem ser respeitados.
Podemos afirmar que o momento da verdade é todo momento de contato
entre o cliente e a empresa. No entanto, a complexidade do atendimento
não se limita a cumprimentar o cliente que se aproxima: Bom dia!
Boa tarde! Boa noite! Este é o primeiro passo a ser dado: perceber
o cliente, sua importância, tratá-lo como importante e único.
Todas as pessoas querem se sentir assim e se estendem aos detalhes de infra
e da supra-estrutura oferecidas; a qualidade das informações,
a tecnologia e acima de tudo, quem está prestando os serviços:
as pessoas que prestam o atendimento.
Frederick D. Wiersema, um dos grandes estudiosos deste final de século
sobre relacionamento com o cliente, salienta que há mais de duas
décadas é uma triste verdade no mundo dos negócios:
os clientes se tornam cada vez mais exigentes, e os fornecedores precisam
mudar para acompanhar seu ritmo. No início da década de 80,
muitas empresas tiveram que admitir que não sabiam fabricar produtos
duráveis ou prestar serviços confiáveis. Elas iniciaram
a Primeira Etapa da busca de valor. Uma geração de gerentes
trabalhou para apagar os problemas com a qualidade, melhorar a regularidade
e ter como objetivo operações com zero defeito.
O bom funcionamento passou a ser norma. Mas em vez de saciar a fome
do cliente, ele só serviu para aumentar os apetites, aguçados
pelo valor e ávidos por comodidade, preços mais baixos e
uma torrente de produtos e serviços inovadores. Assim, surgiu a
Segunda Etapa, o apogeu da reengenharia. Gerentes audaciosos reprojetaram
radicalmente os processos de negócios e desenvolveram a sua capacidade
de saciar o apetite cada vez maior dos clientes. As atividades dispendiosas
foram abolidas; os custos, reduzidos. O desenvolvimento de produtos se
acelerou e proliferou, criando mercados e necessidades inteiramente novos.
Hoje, a busca pela criação de valor está entrando
na chamada Terceira Etapa: a mudança para a intimidade com o cliente.
Wiersema nos revela que os clientes continuam a elevar o nível de
suas exigências, mas o alcance dessas exigências vai além
do melhor preço e do melhor produto. Hoje, mais do que nunca, os
clientes têm fome de resultados – resultados superiores – dos produtos
que utilizam. E a intimidade com os clientes lhes proporciona isso. Os
clientes de hoje querem exatamente a escolha certa de produtos ou serviços
que os ajude a obter exatamente a solução total que eles
têm em mente.
O autor, através de seus estudos, enfatiza que os clientes recusam
radicalmente o anonimato e diz (1996:14): “Esqueça a tentativa de
satisfazê-los com um tratamento genérico ou um serviço
padrão – independentemente de falhas. Não pense em oferecer
produtos de tamanho único – por mais brilhante que seja em termos
de tecnologia. E eles não toleram o fornecedor que aperta a mão
e desaparece após a venda. Não espere escapar às conseqüências
de uma atitude do tipo boa sorte e se vire. Ninguém voltará
a comprar o seu produto ou serviço”.
Muitas empresas oferecem o melhor produto, o melhor preço ou
a maior comodidade. Mas a principal mudança – aprender a personalizar
os seus projetos de negócios de forma imaginativa e irresistível
– lhes escapa. Essas empresas talvez não sejam capazes de reorientar
suas culturas para valores de partilha e confiança. Talvez elas
não sejam capazes, sequer, de escolher clientes que mereçam
o tipo de colaboração de serviço que um a empresa
que pratica a intimidade com o cliente pode oferecer. Ou talvez a dificuldade
é de natureza tecnológica: com sistemas de informações
defasados, faltam-lhes dados sobre o cliente que reúnam condições
de oferecer valor e resultados superiores.
O principal caminho das soluções sob medida é o
atendimento ajustado ao cliente. Assim, Wiersema identifica através
de três exemplos, visões distintas sobre o atendimento sob
medida. Primeiro, exemplifica através de uma solução
customizada para a construção de uma nova casa pela construtora
japonesa Sumitomo Forestry: “Você se senta em frente a um terminal
do sistema CAD-CAM da empresa e constrói na tela, a casa dos seus
sonhos: configura o layout, o telhado e as diversas instalações
entre as milhares de opções contidas no banco de dados do
computador. Ao terminar, o sistema imprime uma lista completa dos materiais
necessários e soma os seus custos. Paralelamente, o computador produz
um formulário de pedido e encaminha o seu projeto a uma equipe de
construção, que logo o transformará em realidade”
(Wiersema, 1996:59). Além da customização no atendimento
o cliente recebe exatamente a casa que deseja e paga bem menos do que se
tivesse contratado os serviços de uma empresa tradicional e a mudança
pode ser feita na metade do tempo. A Sumitomo oferece aos seus clientes
exatamente aquilo de que eles necessitam a partir de um cardápio
à la carte, composto por milhares de pratos.
O segundo exemplo está relacionado com a empresa Levi Strauss,
importante fabricante de roupas e fornecedor da linha mais popular de calças
que o mundo conhece. A empresa estava querendo criar um novo visual que
atraia a atenção dos consumidores. Em vez de oferecer opções
prontas, os estilistas e profissionais de marketing chegaram a uma visão
para o novo estilo: o brim desbotado – uma tendência de moda que
dominou durante quase uma década o segmento de trajes esportivos
no Estados Unidos. Neste caso a empresa e os seus clientes avaliaram as
necessidades para chegar a uma solução adequada específica:
acabamento individualmente projetado.
Finalizando, o autor traz o exemplo do Massachusetts General Hospital
(MGH), de Boston, que recorre a Baxter Internacional em busca de auxílio
para seus grandes problemas de abastecimento. Sua intervenção
melhorou a eficiência operacional do MGH, reduzindo custos e os estoques
através de uma solução integrada. O melhor resultado
foi em relação ao atendimento dos pacientes que não
ficou comprometido.
Wiersema nos mostra que as soluções sob medida estão
invadindo o mercado e faz o seguinte comentário (1996:61): “Em vez
de apresentar soluções sob medida, outras empresas estão
preocupadas em fazer o contrário: impõem medidas arbitrárias.
Elas aumentam ou diminuem as necessidades de seus clientes, de modo a ajustá-las
às suas soluções prontas”. Na realidade as empresas
devem fazer o possível para encontrar e oferecer o produto ou o
serviço exato que atenda às reais necessidades do cliente
que, de maneira geral, vai querer sentir-se especial, perceber que o produto
que escolheu é, de certa forma, único.
Esse novo cliente vai exigir monitoramento constante, e muita intimidade
por parte das empresas. É nessa atividade que entra o Customer Relationship
Management, ou CRM, que são procedimentos de gestão voltados
ao desenvolvimento de estratégias que visam a obtenção
de lealdade e retenção de verdadeiros clientes.
É importante ressaltar que ao examinarmos cada um desses três
modelos descritos por Wiersema, devemos ter em mente que nenhum deles é
intrinsecamente mais valioso do que os demais. O mais importante, para
determinada empresa que busca a excelência em atendimento, é
encontrar o estilo de soluções sob medida que se enquadre
nas suas capacidades e satisfaça às autênticas aspirações
de seus instáveis clientes dessa virada de século.
Paulo Cézar Ribeiro da Silva
Mestrando em Gestão Pública e Empresarial pela Fundação
Getúlio Vargas
Professor da FABAVI e FACEV
Economista do BANDES