Ano III - Opinião: artigo do dia - Terça-feira,
20 de fevereiro de 2001
O ATENDIMENTO PRIMITIVO VOLTOU!
As novas necessidades de mercado e o próprio desenvolvimento
da tecnologia da informação, em especial da Internet, estão
possibilitando a retomada de um tipo "primitivo" de atendimento:
o atendimento baseado na customização. Ou seja, um atendimento
especial e individual, que visa oferecer soluções individualmente
projetadas, realmente excepcionais que atenda plenamente as necessidades
específicas de cada cliente. O termo primitivo aqui não significa
nada tosco ou pouco desenvolvido. Se aplica pelo fato de que era assim
que as coisas aconteciam no início da era capitalista que antecedeu
o século XX. Os consultores norte-americanos Don Peppers e Martha
Rogers (1994) explicam esse fenômeno:
"Naquele tempo, todos nós éramos um a um. Conhecíamos
nossos clientes pelo nome, onde viviam, que tipos de produtos necessitavam
e quando necessitavam. Sabíamos como queriam que esses produtos
fossem entregues, como queriam pagar suas contas e quanto tinham de dinheiro
para gastar".
Conscientemente ou não, aqueles clientes eram divididos em grupos
de maior ou menor para o negócio do pequeno comerciante. E, conscientemente
ou não, eram divididos de novo com base em suas necessidades e desejos.
Dessa forma, o atendimento era customizado ao máximo, para que fossem
adequados às necessidades e ao valor de cada um daqueles clientes.
O comerciante, ao utilizar o seu conhecimento a respeito do cliente, poderia
entregar um serviço, um pacote de serviços ou produtos bem
adequados às suas necessidades. Ele usava o conhecimento do cliente
para construir sua fidelidade e sabia instintivamente que seus clientes
mais fiéis também deveriam ser os mais rentáveis.
"Ele contava com uma espécie de marketing com banco de dados,
tratando cada cliente de forma diferenciada, confiando no que sabia a respeito
de um determinado cliente. Ele mantinha o seu banco de dados na cabeça"
(Peppers e Rogers, 1994).
As empresas fizeram negócios por milhares de anos, até
que a tecnologia lhes permitiram produzir bens e serviços em massa,
para mercados de massa. De um dia para outro, esqueceram de praticar o
atendimento customizado. Em vez de vender para clientes de forma individual,
passaram a lutar por maior participação no mercado, começaram
a realizar pesquisas de mercado, segmentações, modelos estatísticos
que permitissem predizer tendências e padrões de compras.
"Os lojistas passaram a ser um pouco mais do que simples recebedores
de pedidos, estocando em suas prateleiras os artigos que os consumidores
veriam anunciados, primeiro nas revistas, depois no rádio e finalmente
na televisão" (Peppers e Rogers, 1994).
No entanto, no último quarto do século XX, vimos a tecnologia
e seus efeitos atuarem como se não existissem fronteiras nacionais.
As transferências de novas tecnologias para lugares distantes e a
interligação das empresas pelo mundo inteiro criaram um novo
ambiente competitivo. Assim, novas oportunidades surgiram com a globalização
dos mercados, porém também novas ameaças. A existência
de excesso de informação, de apelos e de novas ofertas inundando
o mercado vem se tornando cada vez mais complexa a manutenção
de uma clientela fiel, tarefa essencial à sobrevivência das
empresas. "Além disso, atrair um novo cliente custa muito mais
do que manter um cliente antigo" (Bogmann, 2000).
Mas nem tudo está perdido, pois a tecnologia da informação
possibilita fugir dessa comoditização e partir para a customização
no atendimento, com o auxílio do marketing de relacionamento, retornando
a velha prática. Em vez de oferecer descontos para aumentar suas
receitas, as empresas criarão vínculos mais fortes com seus
clientes, desenvolverão a fidelidade dos mais valiosos e assim aumentarão
sua lucratividade. Ao invés de buscar maior participação
no mercado (market share), medida do sucesso de programas de marketing
tradicional, as empresas precisam se acostumar a buscar maior participação
do cliente (share of customer) medido cliente a cliente, um de cada vez.
Assim, a democratização da informação aponta
um milênio onde o consumidor será o foco de todas as atenções.
E ele sabe disso. Sabe que seu dinheiro vale muito e exige tratamento exclusivo.
Em poucas palavras, agora é a vez dos consumidores exigentes,
produtos especiais e, por conseqüência, empresas buscando a
diferenciação através de estratégias de customização.
Paulo Cézar Ribeiro da Silva
Mestrando em Gestão Pública e Empresarial pela Fundação
Getúlio Vargas
Professor da FABAVI e FACEV
Economista do BANDES