Ano III - Opinião: artigo do dia - Terça-feira,
26 de junho de 2001
COMO TRATAR CLIENTES DIFERENTES?
Algumas pessoas acham que é injusto tratar clientes diferentes
de forma diferente e ficam aborrecidas quando percebem que o tratamento
em determinada empresa é diferenciado. Assim, essas pessoas consideram
injusta a filosofia básica por trás do célebre lema
do Peppers and Rogers Group: "Trate clientes diferentes de modo diferente".
No ano passado, a Business Week chegou a publicar uma matéria que
chama a diferenciação entre clientes de "novo apartheid
no consumo", afirmando que os consumidores foram transformados em
"mercadorias a serem afagadas, espremidas ou jogadas fora".
Para o consultor norte-americano Don Peppers (2000), essas críticas
não apenas significam que os observadores de tendências estão
levando a sério a revolução na experiência do
consumidor, mas que além disso, fornecem uma oportunidade de continuar
o diálogo estimulante sobre o que significa ser uma empresa centrada
no cliente.
David Siegel (2000: 134) afirma: "a maioria das empresas acredita
que, para crescer em pouco tempo, é preciso dizer sim ao maior número
possível de clientes. Na verdade, dizer não é a nova
estratégia de crescimento". Siegel também alerta para
que os empresários pensem com cuidado quem são seus melhores
clientes e façam tudo o que puder para atender aos interesses deles
- mesmo que isso signifique dizer não a outros clientes.
O consultor Lopez (1997: 55) ressalta a diferenciação
nos serviços para os melhores clientes, entretanto há níveis
mínimos de atendimento que todos os clientes devem receber. Valsoir
Tronchim (2000) chega a ser radical quando diz: "os melhores clientes
têm sempre razão, mesmo que não tenham. E os piores,
nunca têm razão, mesmo que tenham."
Querer manter o cliente mais lucrativo pode parecer simples e óbvio,
entretanto apenas 25% das empresas sabem dizer quantos clientes dão
retorno financeiro para elas e de quanto é essa soma. Na verdade,
as informações estão dispersas e a maioria não
se preocupa em ter à mão esses valiosos dados.
Assim, estamos no meio de uma revolução liderada por consumidores.
Se os seus clientes estão decididos a se reunir. A única
opção que você tem é incentivá-los. É
importante lembrar que o cliente tem mais poder hoje do que em qualquer
momento da história. Hoje ele não é obrigado a ficar
ouvindo aquela gravação que repete infinitamente que sua
ligação é muito importante para nós - aguarde
um momento, por favor!
Atualmente as empresas podem utilizar a tecnologia da informação
para melhor compreender as necessidades específicas do cliente,
lembrar-se e agir de acordo com elas, fornecendo serviços apropriados
com base no valor do relacionamento entre o cliente e a empresa. Isso é
bom para os clientes porque tendem a receber o produto ou serviço
desejado na hora desejada e do jeito que preferem. Cada cliente tem mais
probabilidade de ser tratado como ser humano e não como mercadoria.
Desse modo, é bom para as empresas também, porque lhes
permite priorizar seus esforços gastando mais onde podem obter retorno
maior e menos onde o retorno não será tão grande.
Tratar clientes diferentes de modos diferentes significa tratar melhor
os clientes melhores, mas também significa tratar cada cliente do
modo mais apropriado com base em quem esse cliente é.
Conforme Peppers (2000), a premissa para pessoas que acham que é
injusto tratar clientes diferentes de forma diferente parece ter sido a
idéia de que os clientes que não gastam muito com a empresa
receberiam um tratamento ruim e que isso explicaria uma deterioração
geral na qualidade do atendimento.
No entanto, do ponto de vista estritamente objetivo, qualquer observador
razoável é obrigado a achar que, de qualquer modo, a qualidade
do atendimento está melhorando e que essa melhoria vem sendo apressada
pelo advento das tecnologias da informação, permitindo que
as empresas acompanhem seus clientes individualmente e interajam com eles.
Se existe uma percepção de atendimento ruim é provável
que se deva mais ao nível das expectativas dos clientes quanto ao
tratamento que deveriam receber das empresas.
Quando o atendente de uma loja de varejo procura a ficha de um cliente
no caixa para ajudá-lo com uma devolução, esse cliente
passa a exigir atendimento um pouco melhor na próxima loja também.
Quando um consumidor é bem atendido por determinada loja virtual,
esse consumidor passa a ter expectativas maiores quanto ao atendimento
de outras empresas que também vendem online.
É muito natural que em determinadas lojas haverá alguns
clientes que não dão lucro. Mas a maioria das empresas supera
esse desafio quando surge tentando mudar os termos do negócio de
alguma forma que permita atender com lucro o maior número possível
de clientes. O banco que cobra por uma transação efetuada
no caixa da agência quando essa mesma transação poderia
ter sido efetuada numa máquina automática sem incomodar o
cliente está apenas tentando racionalizar suas operações,
de modo que haja mais recursos disponíveis para melhorar o atendimento
de todos.
Seguramente ninguém sugeriria que os clientes melhores e mais
lucrativos de uma empresa devessem ser penalizados para beneficiar os menos
lucrativos. Portanto, é imprescindível encarar um fato simples
e irrefutável: clientes diferentes realmente são diferentes.
No entanto para que haja tratamento visivelmente justo, as empresas precisam
ter padrões de negócios e definições que norteiem
sua política de diferenciação de clientes. Esses padrões
devem ser projetados de tal forma que todos os clientes recebam o melhor
atendimento possível, porém um de cada vez.
Dar o mesmo tratamento indiferenciado a todos os clientes é não
só ineficiente, mas também a pior forma de atendimento. Na
realidade, tratar os clientes individualmente deveria significar tratar
cada cliente do modo mais apropriado.
Paulo Cézar Ribeiro da Silva
Mestre em Gestão Pública e Empresarial pela Fundação
Getúlio Vargas
Professor da FABAVI e FACEV
Economista do BANDES