Pré- Socráticos

A passagem da consciência mítica e religiosa para a consciência racional e filosófica não foi feita de um salto. Esses dois tipos de consciência coexistiram na sociedade grega.

De acordo com a tradição histórica, a fase inaugural da filosofia grega é conhecida como período pré-socrático. Esse período abrange o conjunto das reflexões filosóficas desenvolvidas desde Tales de Mileto (623-546 a.C.) até Sócrates (468-399 a.C.).

Os filósofos anteriores à Sócrates se preocupavam em determinar o que é uma coisa. Os pré-socráticos ocuparam-se em explicar o universo e examinavam a procedência e o retorno das coisas. Os primeiros filósofos gregos tentaram responder à pergunta: Como é possível que todas as coisas mudem e desapareçam e a Natureza, apesar disto, continua sempre a mesma? Para tanto, procuraram um princípio a partir do qual se pudesse extrair explicações para os fenômenos da natureza. Um princípio único e fundamental que permanecesse estável junto ao sucessivo vir-a-ser. Tales vai dizer que o princípio de tudo é a água; Anaximandro, o infinito indeterminado, Anaxímenes, o ar; Heráclito,o fogo; Pitágoras, o número; Empédocles, os quatro elementos: terra, água, ar, fogo, em vez de uma substância única. Tales de Mileto, Anaximandro e Anaxímenes acreditavam que as coisas têm por trás de si um princípio físico, material, chamado arqué.

Tales de Mileto (625-558 a.C.)

Tales foi comerciante de sal e de azeite de oliva, e enriqueceu como proprietário de prensas de azeitona durante uma safra promissora. Sabe-se que Tales previu um eclipse ocorrido em 585 a.C.Sobre a vida de Tales pouco se sabe. De suas idéias quase nada é conhecido. Aristóteles o chama de fundador da filosofia, e lembra a sua doutrina de que a água é o elemento primordial de todas as coisas, e que para suportar as transformações e permanecer inalterada, a água deveria ser um elemento eterno. Atribui-se a Tales a afirmação de que "todas as coisas estão cheias de deuses", o que talvez pode ser associado à idéia de que o imã tem vida, porque move o ferro. Além disso, elaborou uma teoria para explicar as inundações do Nilo, e atribui-se a Tales a solução de diversos problemas geométricos. Tales foi um dos filósofos que acreditava que as coisas têm por trás de si um princípio físico, material, chamado arqué. Para Tales, o arqué seria a água. Tales observou que o calor necessita de água, que o morto resseca, que a natureza é úmida, que os germens são úmidos, que os alimentos contêm seiva, e concluiu que o princípio de tudo era a água.

Anaximandro de Mileto (610-546 a.C.)

Discípulo e sucessor de Tales. Anaximandro recusa-se a ver a origem do real em um elemento particular; todas as coisas são limitadas, e o limitado não pode ser, sem injustiça, a origem das coisas. Do ilimitado surgem inúmeros mundos, e estabelece-se a multiplicidade; a gênese das coisas a partir do ilimitado é explicada através da separação dos contrários em consequência do movimento eterno. Para Anaximandro o princípio das coisas - o arqué- não era algo visível; era uma substância etérea, infinita. Chamou a essa substância de ápeiron. Anaximandro tinha um argumento contra Tales: o ar é frio, a água é úmida, e o fogo é quente, e essas coisas são antagônicas entre si, portanto um o elemento primordial não poderia ser um dos elementos visíveis, teria que ser um elemento neutro, que está presente em tudo mas está invisível.

Anaxímenes de Mileto (588-525 a.C.)

O princípio de tudo, o arqué, seria o ar e as coisas da natureza seriam o ar condensado em vários graus. A rarefação e condensação do ar forma o mundo. A alma é ar, o fogo é ar rarefeito; quando acontece uma condensação, o ar se transforma em água, se condensa ainda mais e se transforma em terra, e por fim em pedra. Foi o primeiro a afirmar que a Lua recebe a sua luz do Sol.

Xenófanes de Cólofon (570-528 a.C.)

O elemento primordial para ele é a terra, através do elemento terra desenvolve sua cosmologia.Combate acirradamente a concepção antropomórfica dos deuses, e defende um Deus único, eterno, imóvel.

Heráclito de Éfeso (540-476 a.C.)

Cognominado de "obscuro". Afirmava que todas as coisas estão em movimento como um fluxo perpétuo. O escoamento contínuo dos seres em mudança perpétua, e que esse se processa através de contrários. A lei fundamental do Universo é o devir, que significa contínuas transformações. Tudo flui e nada fica como é. Coisa alguma é estável. Tudo segue seu curso. Para Heráclito o princípio das coisas é o fogo. O fogo transforma-se em água, sendo que uma metade retorna ao céu como vapor e a outra metade transforma-se em terra. Sucessivamente, a terra transforma-se em água e a água, em fogo. Todas as coisas mudam sem cessar, e o que temos diante de nós em dado momento é diferente do que foi há pouco e do que será depois. Afirmou: "Nunca nos banhamos duas vezes no mesmo rio, pois na segunda vez não somos os mesmos, e também o rio mudou." Outros filósofos pré-socráticos não acreditavam em um princípio material para a natureza. Pensavam haver um princípio lógico, como se a natureza fosse estabelecida por um pensamento.

Pitágoras de Samos

É dele a idéia de que o número é o princípio ordenador de todas as coisas. Para Pitágoras, aquele que compreende todas as relações numéricas chega à essência das coisas. Portanto, a substância das coisas é o número. Pitágoras interpretou a forma dualista da teoria dos opostos e a descoberta de ordem matemática, sobretudo do famoso teorema que lhe é atribuído.

Parmênides de Eléia (530-460 a.C.)

É a doutrina mais profunda de todo o pensamento socrático, mas tambem a mais difícil interpretação. O poema divide-se: o prólogo, o caminho da verdade e o caminho da opinião. Parmênides afirma que a única coisa eterna é o ser; as mudanças são ilusórias. Não haveria, por conseguinte, mudanças nas coisas. Para conhecer o conteúdo verdadeiro e objetivo das coisas é necessário pensar. Conhecer o ser é conhecer a verdade. Parmênides combateu Heráclito que diz que tudo flui. Para Parmênides é absurdo e impensável considerar que uma coisa pode ser e não ser ao mesmo tempo. Parmênides considera que o movimento existe apenas no mundo sensível, e no mundo inteligível o ser é imóvel.

Empédocles de Agrigento (490-435 a.C.)

O princípio gerador de todas as coisas não seria um único elemento, mas quatro elementos: terra, ar, água e fogo, que se misturam em diferentes proporções e formam as várias substâncias que encontramos no mundo. O que unia e desunia os quatro elementos eram dois princípios: o amor e a luta. Os quatro elementos e os dois princípios seriam eternos, mas as substâncias formadas por eles seriam pouco duradouras.

Anaxágoras de Clazomena (500-428 a.C.)

Haveria um número infinito de elementos que Anaxágoras chamou de homeomerias, ou sementes invisíveis, que diferiam entre si nas qualidades. Todas as coisas resultariam da combinação das diferentes homeomerias.

Demócrito de Abdera (460-370 a.C.)

Acha que tudo o que existe é composto de átomos. Os átomos, infinitos em número, combinam-se uns aos outros e formam todas as coisas. Os átomos são invisíveis porque são muito pequenos e também porque não possuem qualidades. No universo somente existiriam átomos e vácuo. Todas as qualidades das coisas como cor, cheiro, peso, som, beleza, vida e outras, nada mais são do que movimento e modos de ser diferentes dos agregados de átomos que formam a respectiva coisa.

 

Outros: Zenão de Eléia,Melisso de Samos, Filolau de Cróton, Arquitas de Tarento, Diógenes de Apolônia e Leucipo de Abdera.

 

Texto de autoria do internauta:

Osvaldo Camargo

Bibliografia:

1) INTRODUÇÃO AO ESTUDO DE FILOSOFIA, A. Xavier Teles, Editora Ática Ltda, 4a edição, 1969, São Paulo-SP

2) CONVITE À FILOSOFIA, Marilena Chaui, Editora Ática, 8a edição, 1997

3) FILOSOFANDO-Introdução à Filosofia, Maria Lúcia de Arruda Aranha , Maria Helena Pires Martins, Editora Moderna, 2a edição, 1994

4) FILOSOFIA BÁSICA, Henrique Nielsen Neto, Atual Editora, 2a edição, 1985, São Paulo-SP