Pearl Harbor
A versão japonesa
Nunca o ataque-surpresa japonês a Pearl Harbor,no Havaí,esteve tão atual.Após 60 anos,o fantasma do polêmico bombardeio que precipitou a entrada dos EUA na Segunda Guerra chega ressuscitado em cores nas telas do cinema do mundo.Orçado em 145 milhões de dólares,o filme dos estúdios da Disney,dirigido por Michael Bay(de Armageddon),está em cartaz em 300 salas do Brasil.Já a distribuidora no Japão tenta diminuir a polêmica em torno do assunto e divulga a produção com o orçamento mais caro do cinema como sendo apenas " uma história de amor e amizade ambientada na Segunda Guerra: . Sob esse ponto de vista,o combate que custou a vida de mais 2,4 mil americanos e cem japoneses,é reduzido a um espetáculo distante,romântico e neutro.O cartaz do filme para o mercado nipônico deixa isso bem claro.Enquanto mundo afora a foto de divulgação mostra uma cena de bombardeio,no Japão estampa-se apenas uma cena apaixonada entre Ben Affleck e Kate Beckinsale.
O filme,no entanto,está longe de ser apenas um romance.A própria história em que um jovem piloto (Ben Affleck) apaixona-se por uma enfermeira
(Kate Beckinsale),mas é traído por ela e seu melhor amigo(Josh Hartnett),
sugere uma analogia com o ataque-surpresa.Além disso,Pearl Harbor tem pelo menos um terço das suas três horas de duração reservados às cenas do ataque,mostradas de uma maneira um tanto tendenciosa. A narrativa leva o público a criar um vínculo sentimental com os combatentes americanos,apresentados de maneira bastante pessoal para, em seguida vê-los mortos da maneira mais terrível no ataque.Em contrapartida,os combatentes japoneses são retratados sempre com faces sisudas,masrciais,sem sentimentos.São apenas soldados,não homens.
A produção,no entanto,tem o mérito de ser mais policamente correta que a média de Hollywood,e faz o possível para evitar rotular os japoneses como vilões.Ainda sim,o ataque nipônico aparece como uma ofensiva covarde e vel,sem chance de defesa para os jovens americanos.A narração do combate aéreo,por exemplo,que tem alguns dos melhores efeitos especiais
já mostrados no cinema,transmite a impressão de que pouquíssimos pilotos americanos conseguiram chegar até seus aviões.Estima-se,no entanto,que pelo menos 90 deles teriam decolado para reagir ao ataque dos 353 aviões japoneses.Umda das cenas mais controversas é aquela que os heróis Ben Affleck e Josh Hartnett decolam e derrubam sozinhos uma esquadra inteira
de aviões Zero (nome de caça nipônicos).
O filme também omite a tese de que o presidente americano Franklin Roosevelt teria conhecimento prévio da ofensiva japonesa,ainda que não
pudesse definir exatamente sua data e localização.Cogita-se que ele deixara o ataque ocorres,já que estava à procura de um álibi para convencer a opinião pública da necessidade dos EUA entrarem na guerra,pois cerca de 95% dos americanos não queriam que o país participasse do confronto.
nas estrelinhas,o filme mostra perda da inocência dos EUA,o momento em que o seu paraíso Havaí,aparentemente intocável,foi inesperadamente invadido numa manhã ensolarada de domingo.Há quem diga ainda que o filme Pearl Harbor tenha alguma analogia com as desavenças dos EUA e a China,como o recente atrito decorrente da captura da tripulação de um avião-espião americano,em abril desse ano,(2001)quando 24 militares ficaram detidos durante onze dias pelo governo chinês. Explica-se: o filme
tende a gerar uma antipatia do público americano em relação aos asiáticos em geral. Portanto o ataque-surpresa dos japoneses traz uma mensagem subliminar de alerta: fiquem atentos,uma tragédia assim pode acontecer a qualquer momento,  " As pessoas no Ocidente,especialmente nos EUA,
não sabem destinguir entre diferentes etnias da Ásia.Para eles,japonses e chineses são a mesma coisa." afirmou a Made in Japan Kieth Kitano,presidente da Japanese American Citizens League (JACL),a maior associação de direitos civis da Ásia nos Estados Unidos.
No Japão,a expectativa quanto ao filme é grande.Para não desagradar o público potencial,responsável por 20% da renda de Titanic,a produtora tomou o cuidado de excluir da versão japonesa os diálogos mais contundentes.A fala em que Beckinsale chama o ataque japonês de covarde,por exemplo,foi removida. " O filme praticamente não explica os motivos do ataque japonês a Pearl Harbor." critica Ikuhiro Hata,professor de História da Nihon University.

          
texto tirado da revista Made in Japan
     Reportagem: Rodrigo Brasil de Tokyo
     Colaboraram Jhony Arai e Cinthia Shimabukuro de São Paulo

Back to Home