TÉCNICAS DE TRANSMISSÃO
A montagem de transmissores não é algo que possamos considerar
simples e que ocorra sem problemas para os leitores menos experientes. Dedicamos
esse capítulo às
tecnicas de transmissão com muitas informações úteis
para os que montam, instalam
ou fazem a manutenção de equipamentos de transmissão.
Prevista por Maxwell, as ondas eletromagnéticas foram geradas pela primeira vez de modo artificial, em condições de laboratório, em 1887 por Heinrich Hertz e a partir de então por outros pesquisadores como Marconi, Popov na Russia e Landel de Moura no Brasil. As descobertas feitas por estes pesquisadores e outros que os sucederam levaram a tudo que hoje temos em termos de rádio-comunicações.
Para entender como funciona um transmissor, será interessante analisarmos o que são as ondas de rádio e como são produzidas.
Quando uma corrente elétrica de alta freqüência percorre um condutor que denominamos antena, em sua volta são criadas perturbações ou ondas eletromagnéticas que viajam pelo espaço a uma velocidade de 300.000 quilômetros por segundo.
Estas ondas não precisam de um meio ou suporte material para propagação, ou seja, podem se propagar inclusive no vácuo.
O importante para as telecomunicações é que as ondas produzidas num local podem viajar por longas distâncias e serem captadas em outros locais utilizando um condutor que intercepte estas ondas e ligando-o a um dispositivo que denominamos receptor. Se trabalharmos os sinais gerados e transmitidos de maneira apropriada, poderemos fazer com que eles transportem informações, conforme sugere a figura 1.Estas informações podem ser em código Morse, palavra falada, música ou imagens como no caso da televisão.
Um transmissor consiste basicamente num circuito eletrônico cuja finalidade é produzir correntes de altas freqüências, já contendo as informações que devem ser transportadas e aplicar estas correntes a um sistema de antenas.
O transmissor mais simples é um oscilador de alta freqüência
baseado normalmente num único componente como uma válvula ou um
transistor, no qual ligamos uma antena, observe a figura 2.
A
partir desta configuração mais simples, o circuito de um transmissor
pode adquirir diferentes graus de complexidade que dependem de diversos fatores
como a potência que deve operar, o tipo de informação a
ser transportada, além de outros.
Na figura 3, temos um exemplo de um transmissor mais elaborado, como os usados
em estações de rádio ou serviços de telecomunicações
e radioamadores.
Temos
então um setor de alta freqüência ou RF, em que um oscilador
gera de maneira precisa um sinal de determinada freqüência, que corresponde
a uma fração ou a própria freqüência a ser transmitida.
Este sinal, por exemplo, pode ser da metade da freqüência final, pois ele seria multiplicado por 2 nas etapas seguintes.
Para obter precisão na freqüência deste sinal, os transmissores de uso profissional utilizam cristais de quartzo no seu controle.
Os cristais de quartzo são dispositivos que ressoam numa determinada freqüência dependendo de sua forma, tamanho e da maneira como são cortados.
Quando submetidos a uma tensão elétrica, eles sofrem deformações
e se esta tensão for realimentada, eles podem entrar em oscilação
gerando um sinal de freqüência bem determinada, conforme
o circuito da figura 4, onde temos um oscilador
controlado por este componente.
O sinal de um oscilador como este normalmente é muito fraco para poder ser aplicado numa antena e ir muito longe, a não ser no caso de pequenos transmissores experimentais. Assim, num transmissor de maior potência, o sinal gerado pelo oscilador é levado a circuitos de amplificação que ao mesmo tempo (em alguns casos) podem também dobrar a sua freqüência.
Após a amplificação por esta etapa, já temos um sinal mais forte e na freqüência que deve ser transmitido, mas se quisermos ter uma potência ainda maior, precisamos de mais uma etapa amplificadora. Esta é a etapa de potência ou etapa final do transmissor.
No entanto, até este ponto, o sinal gerado consiste simplesmente numa alta freqüência pura e não carrega informação alguma. A informação que o sinal deve carregar deve ser processada por outros circuitos.
Para o caso do som (palavra falada ou música) os circuitos de modulação consistem basicamente em amplificadores de áudio. Temos então um pre-amplificador no qual é ligado o microfone (ou outra fonte de áudio), uma etapa de amplificação intermediária (driver ou impulsor) e uma etapa final de potência, exatamente como nos amplificadores de uso doméstico.
A potência do amplificador deve ser da mesma ordem que a do transmissor, para que o sinal seja totalmente modulado, ou seja, para que possamos ter 100% do aproveitamento da alta freqüência no transporte da informação.
Se o transmissor tem uma potência muito alta, da ordem de centenas ou mesmo milhares de watts, a modulação não é feita na etapa final, pois seria preciso um amplificador muito grande. Fazemos então esta modulação uma ou duas etapas antes.
Assim, com este procedimento para excitar uma etapa de saída de um amplificador
de 100 watts, precisamos apenas de 5 watts de áudio. Se a modulação
fosse feita na etapa final, seriam necessários 100 watts de áudio,
veja a figura 5.
Existem
diversas técnicas de modulação que serão analisadas
no item seguinte. O importante é lembrar que o número de etapas
de modulação e de etapas
de RF de um transmissor depende de sua
potência, do tipo de informação que deve ser transmitida
e de alguns outros fatores.
2. Modulação
O tipo mais simples de transmissão obtida
com o uso de ondas eletromagnéticas é a chamada
CW ou onda contínua (CW é a abreviação de
Continuous
Wave). Nesta modalidade de
transmissão, o sinal do transmissor que consiste
simplesmente num oscilador ou num circuito apenas
com etapas de RF é interrompido e estabelecido por
meio de um interruptor especial chamado
manipulador. Desta forma, as interrupções são
codificadas, gerando símbolos como letras, números,
etc (figura 6).
Este tipo
de transmissor emite portanto sinais
telegráficos. Estabelecendo e interrompendo o sinal
em intervalos diferentes formam os pontos (.) e
traços (-) que combinados no Código Morse permitem
a transmissão de mensagens. Um toque curto
(.) e um toque longo
corresponde a um ponto corresponde a um traço (-). Um ponto e um traço
formam a letra A.
Se bem que técnicas mais modernas de transmissão praticamente aposentaram a telegrafia, todos os operadores de rádio, escoteiros, radioamadores e quem quer que se dedique às radiocomunicações deve conhecer o Código Morse, pois se trata de um sistema que pode ser necessário em casos de emergência.
Na verdade, um transmissor telegráfico é tão simples que, numa situação de emergência, pode ser montado com componentes comuns, aproveitado de velhos televisores ou mesmo modificando um receptor de rádio comum, se não houver operador para ele, é claro.
Na figura 7, temos um exemplo de um receptor de rádio com sua etapa de saída modificada para se transformar num transmissor de rádio de boa potência. Unido, a uma antena externa pode transmitir seus sinais à distâncias de centenas de quilômetros numa situação de emergência.
O que se fez neste caso, foi retirar o transformador de saída e em seu lugar ligar uma bobina enrolada num cabo de vassoura ou num pedaço de PVC com 2 a 2,5 em de diâmetro.
Esta bobina conta com 15 + 15 espiras de fio aproximadamente 28 AWG permitindo que o aparelho transmita entre 3,5 e 7 MHz correspondendo à faixa de radioamadores dos 40 e 80 metros com uma potência que pode superar os 5 W, se a válvula for uma 6V6 ou 6L6 e um pouco menos para uma 6AQ6 ou 50C5.
Para usar o transmissor é só «manipular» o +B ou seja, a tensão positiva de alimentação.
Os primeiros transmissores que existiram eram muito mais simples, pois na época em que foram construidos não existiam nem as válvulas nem os transistores. Estes transmissores se baseavam na produção de centelhas, veja um exemplo na figura 8.
Neste circuito,
uma alta tensão produzia uma faísca sobre um circuito LC que então,
com muito ruído, gerava o sinal a ser transmitido por um sistema de antenas.
Marconi fez a primeira transmissão de rádio através do
Oceano Atlântico usando um transmissor como este.
Com a invenção da válvula, as técnicas de modulação puderam avançar um pouco indo além da simples interrupção dos sinais.
Injetando um sinal de áudio na portadora de alta freqüência
de modo a variar sua amplitude ou intensidade, avançamos em direção
a um sistema telegráfico modulado em tom, verifique a figura 9.
Depois, injetando o sinal de áudio proveniente de um microfone ou de outra fonte semelhante, partimos para a transmissão da palavra e da música.
Existem dois sistemas básicos para a transmissão de sons por meio
de sinais de rádio.
O primeiro sistema consiste em fazer a amplitude ou intensidade do sinal de
alta freqüência variar com o sinal de baixa freqüência,
ou seja, o sinal de áudio que deve ser transportado.
Por exemplo, se tivermos um sinal de áudio de 1 kHz, ele vai provocar 1.000 variações de intensidade por segundo no sinal de RF.
Nos picos do sinal de áudio, o sinal de RF terá sua intensidade máxima (ou mínima) e nos mínimos de áudio este sinal terá intensidade mínima (ou máxima), conforme figura 10.
Para que uma transmissão deste tipo tenha máxima eficiência, ou seja, aproveite toda a potência do transmissor, precisamos ter 100% de modulação, daí dizermos anteriormente que o sinal de áudio precisa ter a mesma ordem de potência que o sinal de alta frequência a ser transmitido.
Com 100% de modulação, as variações de intensidade do sinal de áudio fazem com que a intensidade do sinal de alta freqüência oscile dentro de 100% da sua faixa de valores. Na figura 11, mostramos o que ocorre com o sinal de alta freqüência quando a modulação é igual, maior ou menor que os 100%.
Veja que, com mais de 100%, quando o sinal «força» o transmissor ocorrem variações maiores do que são possíveis para a alta freqüência, começando a ocorrer problemas, como por exemplo, a produção de sinais espúrios, distorções que resultam em interferências, perda de alcance, qualidade de som sofrível, etc. Esse é um caso de «sobremodulação» que deve ser evitado. O processo de transmissão de sons ou sinais de baixas freqüências variando a intensidade de um sinal de alta freqüência (RF) é denominado AM ou Amplitude Modulada e apresenta algumas desvantagens.
Uma delas é a sua sensibilidade aos sinais interferentes e ruídos.
Estes sinais podem aparecer justamente nos instantes em que temos os mínimos da RF, quando os ruídos e interferências podem se sobrepor e aparecer na forma de estalos e ruídos desagradáveis no alto-falante de um receptor.
Outra técnica de modulação para a transmissão de
sons é a denominada FM ou Freqüência Modulada, que faz a freqüência
(e não a amplitude) do sinal de alta freqüência variar com
o sinal de baixa freqüência ou áudio que deve ser transportado,
veja figura 12.
Assim, se tivermos um sinal de áudio de 1 kHz modulando um sinal de 100
MHz, o sinal de 100 Mhz vai variar entre duas outras freqüências,
por
exemplo 99,9 e 100, 1 MHz, 1 000 vezes por segundo, acompanhando o sinal de
áudio.
Uma das vantagens deste sistema é que a intensidade do sinal de alta freqüência transmitido pelas antenas não varia e portanto, a sensibilidade aos ruídos e sinais interferentes é muito menor.
Este é um dos motivos pelo qual o sistema de FM se presta muito melhor que o AM para a transmissão de música com alta fidelidade.
Para produzir sinais de altas freqüências existem diversas técnicas. Os osciladores são os circuitos básicos utilizados e podem ter as mais diversas configurações, conforme a intensidade, a freqüência e outras características desejadas. Existem muitos tipos de osciladores e alguns deles recebem denominações especiais, normalmente associadas aos seus inventores.
Vejamos alguns desses osciladores:
Começamos com o oscilador a cristal na versão transistorizada
mostrado na figura 13.
Neste circuito o cristal, determina a freqüência do oscilador e a
bobina serve como carga transferindo o sinal para a saída, por meio de
um segundo enrolamento. Um circuito como este pode produzir sinais de algumas
centenas de quilohertz até algumas dezenas de megahertz. O capacitor
ajustável permite encontrar o melhor ponto de oscilação
e de transferência do sinal para o circuito externo.
Na figura 14, temos um outro oscilador com cristal, a gota do tipo Pierce que faz uso de um transistor de efeito de campo de junção (JFET).
Este circuito pode gerar sinais de freqüências de até algumas dezenas de megahertz com uma pequena potência da ordem de algumas dezenas de miliwatts; e que servem para excitar outras etapas de um transmissor.
Este circuito, como o anterior, gera um sinal de freqüência fixa
que depende do cristal utilizado.
Uma característica importante deste circuito é a operação
em sobretom, ou seja, ele pode oscilar numa freqüência múltipla
daquela que seja a do cristal. Assim, com um cristal de 7 MHz, podemos gerar
sinais de 14 ou 21 MHz.
Um outro circuito que permite multiplicar a freqüência de um cristal é mostrado na figura 15.
Neste circuito deve ser incluído um filtro para separar o sinal da freqüência desejada de sinais de outras freqüências que possam ser produzidos em conjunto.
Na figura 16, temos mais um exemplo de circuito a cristal em que podemos obter freqüências de 7, 14 ou 21 MHz usando um cristal de 7 MHz.
Uma característica importante desse circuito é que o capacitor variável em série com o cristal permite deslocar levemente sua freqüência. O capacitor CV do mesmo circuito ajusta a transferência de
sinal para o circuito externo. Um tipo de oscilador bastante popular e que pode produzir sinais até uns 100 MHz com boa potência numa aplicação em transmissão é o Oscilador Hartley mostrado na figura 17.
Nesta figura, temos tanto a versão transistorizada como a valvulada para este tipo de oscilador com a bobina ligada no circuito de anodo ou coletor. Podemos ter uma versão com a bobina ligada no catodo ou no emissor.Os circuitos mostrados na figura 17 servem como VFOs ou Variable Frequency Oscillator ou Osciladores de Freqüência Variável que, diferentemente dos osciladores de cristal, podem ser facilmente ajustados para mudar de freqüência de operação, numa faixa relativamente ampla.
A bobina e o valor assumido pelo ajuste do capacitor em paralelo determinam a freqüência deste oscilador.
O que caracteriza este tipo de oscilador é a realimentação de sinal feita pela derivação da bobina.No Oscilador Colpitts, a realimentação é feita por uma derivação capacitiva e não na bobina, mas o princípio de operação é o mesmo. Na figura 18, temos um exemplo de oscilador deste tipo cuja freqüência pode superar os 300 MHz, o que significa a produção de sinais na faixa de UHF, isso usando transistores de efeito de campo.
A sintonia desse oscilador é feita com um circuito LC série e não paralelo, como ocorre em muitos outros circuitos.
Um tipo muito comum de oscilador encontrado em projetos de pequenos transmissores
como controles remotos, microfones volantes entre outros é mostrado na
figura 19.
Este circuito opera satisfatoriamente em freqüências que vão
de algumas dezenas de megahertz até mais de 300 MHz, dependendo, é
claro, do tipo de transistor usado.
Nesta configuração, a bobina e o
trimmer
em paralelo determinam a freqüência de operação, enquanto
o capacitor entre o coletor e o emissor do transistor é responsável
pela realimentação de sinal que mantém as oscilações.
Veja que esta é uma configuração de base comum onde o sinal
entra pelo emissor e sai pelo coletor.
4. Potência dos osciladores
Os osciladores vistos podem gerar sinais cujas potências variam de alguns miliwatts a alguns watts para as versões valvuladas ou para aquelas que utilizam transistores de potência especiais.
Isso significa que alguns desses osciladores podem ser usados sozinhos como pequenos transmissores de baixa potência e portanto de curto alcance.
Dependendo da aplicação, basta modular o sinal gerado para que
tenhamos um transmissor completo em torno de um oscilador deste tipo. Um exemplo
pode ser visto na figura 20, onde temos um circuito que descrevemos em pormenores
em projetos deste livro.
Neste circuito, a bobina consiste em 4 espiras de fio 22 ou próximo disto,
com diâmetro de 1 cm e a operação ocorre na faixa de FM.
Trata-se de um microfone volante ou microtransmissor de FM cujo alcance com
alimentação de 6 V e antena de 20 a 40 cm chega a 200 metros.
Com a utilização de transistores mais potentes como o 2N2218 ou BD125 e alimentação feita com tensões de 9 V a 12 V o alcance pode ir além de 1 km, se também for usada uma antena apropriada.
Um circuito equivalente pode ser elaborado em tomo de uma válvula como uma 6C4 ou EL84, obtendo-se uma potência muito maior e alcance de vários quilômetros.
Na figura 21, por exemplo, temos um circuito para a faixa de OM, ondas curtas até uma freqüência de uns 200 Mhz que pode fornecer uma boa potência com transistores apropriados.
Com esta potência e uma antena apropriada, o alcance pode superar centenas de quilômetros em condições normais (observamos que o alcance de um transmissor, quando se trata de distâncias muito grandes, não depende somente da potência, mas também das condições de propagação).
Para operar na faixa de OM (Ondas Médias) com uma pequena estação
experimental de rádio (respeitadas as restrições legais),
a bobina consiste em 50 + 50 espiras de fio 28 num bastão de ferrite
e o transistor pode ser um TIP31 ou 2N3055 com alimentação de
até 15 V.
5. Amplificadores de RF
As etapas amplificadoras de potência de RF podem fazer parte do próprio circuito do transmissor, aumentando a potência do sinal gerado até o valor desejado ou ainda podem ser externas, ligadas a saída do transmissor para aumentar sua potência.
Um amplificador para uso externo, aumentando a potência de um transmissor recebe o nome de «amplificador linear» popularmente conhecido pelo nome de «botinas».
Estes amplificadores podem receber a potência de 0,5 W a 5 W de um pequeno transmissor e com elas produzir sinais de 50 W a 1.000 W para aplicação a uma antena.
Para o caso dos radioamadores é preciso observar (como para os demais serviços de telecomunicações), que as potências máximas permitidas são fixadas por lei e o uso de um amplificador que
Na figura 22, temos um exemplo de um amplificador linear com válvula
para um pequeno transmissor de FM. Este amplificador pode receber o sinal de
300 mW de um transmissor transistorizado e fornecer um sinal de até 5
W em sua saída.
A válvula 6C4 usada neste projeto é encontrada com facilidade
em muitos rádios antigos e até televisores, consistindo num triodo
amplificador de áudio.
Para o caso de circuitos amplificadores usados como etapas internas dos próprios transmissores temos diversas configurações, algumas das quais também podem dobrar ou triplicar a freqüência dos sinais com que trabalham.
Também deve ser observada a modalidade ou classe de operação
dos dispositivos usados nestes amplificadores em função do seu
tipo de polarização.
Na figura 23, temos um gráfico onde mostramos as diversas maneiras como
podem atuar os dispositivos amplificadores em relação a operação
e ao que ocorre com os sinais amplificados.
Na classe A, a polarização do dispositivo (válvula ou transistor) é feita de tal forma que pode amplificar os dois semiciclos do sinal de alta frequencia. No entanto, nesta modalidade de operação, está sempre circulando uma corrente pela válvula ou transistor. Logo, mesmo na ausência de sinal, ele consome energia e portanto, gera uma boa quantidade de calor.
Assim, o rendimento teórico máximo de um dispositivo operando nesta modalidade é 50%, ou seja para cada 10 W de energia gasta na amplificação, apenas 5 W no máximo são obtidos na forma de sinal de saída. Na prática, entretanto, este rendimento é ainda menor, da ordem de 25 a 30%. Por este motivo, em aparelhos alimentados por pilhas ou baterias, esta modalidade de operação não é muito usada.
Na polarização na classe AB temos a entrada em condução do dispositivo amplificador em um semiciclo completo e em parte do outro. O resultado é um rendimento maior, se bem que haja um pequeno corte do sinal. Este corte faz com que apareçam harmônicas, ou seja, oscilações de freqüências múltiplas que devem ser eliminadas por meio de filtros apropriados. Mas, a principal vantagem está no fato que, na ausência de sinal, o consumo de energia deste tipo de circuito é menor do que no anterior, pois a condução é apenas parcial.
Na classe B, temos a condução do dispositivo amplificador em apenas metade dos semiciclos do sinal amplificado. O rendimento obtido é muito maior, chegando a 60 ou 65%, mas também temos uma baixa linearidade, implicando na geração de muitas harmônicas.
Finalmente, temos a classe C em que o dispositivo conduz somente em uma pequena parte de um dos semiciclos. O rendimento desta etapa é o mais alto de todos, podendo ultrapassar os 80%, mas a distorção do sinal é elevada, acarretando a necessidade do uso de filtros para cortar as harmônicas.
Na figura 24, temos alguns exemplos de amplificadores de RF em classe A e em
classe C.
Uma variação para a classe B, que permite a obtenção
de excelente rendimento para os dispositivos usados como amplificadores é
a chamada Push Pull ou Contrafase, mostrada na figura 25.
Nesta etapa, cada um dos transistores opera com um dos semiciclos do sinal, de modo que, quando um conduz o outro não conduz, aproveitando-se praticamente 100% do sinal a ser amplificado. O resultado é um rendimento perto de 100%, uma vez que cada transistor não conserva energia a não ser quando está amplificando seu semiciclo.
Observe que os circuitos amplificadores de RF podem ter duas configurações quanto à sintonia.
As etapas amplificadoras podem ser «aperiódicas», quando não possuem circuitos sintonizados, podendo trabalhar com sinais de muitas freqüências.
Também podemos ter etapas sintonizadas que só conseguem trabalhar
com sinais para as quais estejam ajustadas. Estas etapas trabalham com uma única
freqüência de sinal, mas possuem um rendimento muito maior nesta
freqüência. Na figura 26, temos um exemplo de uma etapa amplificadora
com a saída sintonizada.
Existem etapas que podem ter circuitos sintonizados na entrada ou na entrada
e na saída.
6. Circuitos de saída
Para transmitirmos
todo o sinal produzido num amplificador, é preciso que a impedância
de saída do transmissor seja a mesma do sistema de antena, devendo haver
um casamento de impedâncias.
O uso de circuitos que casam a impedância do transmissor com a da antena
não é apenas importante para garantir o máximo rendimento,
mas também para suprimir sinais indesejáveis que poderiam ser
irradiados, como por exemplo, freqüências múltiplas.
Um tipo simples de «casador de impedâncias» para pequenos transmissores de FM e VHF ou mesmo de ondas curtas consiste em uma ligação da antena numa tomada da bobina da etapa final ou osciladora se o transmissor tiver um único transistor, conforme sugere a figura 27.
Este tipo de acoplamento é importante, porque uma antena vertical, como uma telescópica, normalmente usada neste tipo de transmissor possui uma impedância que depende de seu comprimento e da freqüência de operação, mas em geral é mais baixa do que a impedância apresentada pela bobina no circuito de saída denominada «tanque».
Desta forma, para obtermos o melhor casamento de impedâncias é comum escolher para a ligação uma espira que corresponda a uma impedância mais baixa. Isto significa que a bobina passa a funcionar como um autotransformador.
O cálculo do ponto onde deve ser feita a derivação envolve o conhecimento da impedância da antena e da impedância que a bobina usada no circuito apresenta na frequência de operação.Para os casos mais simples, como pequenos transmissores de baixa potência, podemos fazer a escolha do ponto de ligação por meio de tentativas, observando o local onde haja maior intensidade de sinal e maior estabilidade de funcionamento.
Uma outra maneira é mostrada na figura 28 e consiste em fazer o acoplamento
a uma antena, quando do tipo dipolo, por meio de um segundo enrolamento sobre
a bobina de saída. Neste caso, o número de espiras deste enrolamento
é obtido experimentalmente até ser obtido o melhor rendimento
do transmissor.
Para um acoplamento mais crítico, podemos fazer o cálculo do número
de espiras. Para tanto, devemos ter a relação entre o número
de espiras dos
dois enrolamentos, este cálculo também exige o conhecimento da
impedância que a bobina de carga (tanque) tem na freqüência
de operação. A fórmula é a seguinte:
XL = 2 x 3,14 x f x L
Onde f é a freqüência de operação do transmissor; L é a indutância da bobina. A indutância é calculada com base no valor ajustado no capacitor em paralelo e da freqüência de operação.
Um circuito de casamento de impedâncias e eliminação de
harmônicas bastante eficiente e usado nos transmissores de maior potência
e mais críticos é o denominado filtro PI, figura 29.
A bobina e C2 casam a ímpedâncía do circuito com a antena,
enquanto C1 faz a sintonia. Um circuito como este pode reduzir em até
50 dB a íntensidade do sinal correspondente à segunda harmônica.
Outras técnicas envolvendo transformadores do tipo
balanced to unbalanced (balun) também ajudam a casar impedâncias
e reduzir harmônicas.
7. Sistemas de Modulação
Na modulação em amplitude precisamos fazer com que a intensidade do sinal a ser transmitido varie com a intensidade do sinal de audio, para o caso da palavra falada, música e sons em geral.
Temos diversas maneiras para conseguir isso:
Nos circuitos com válvulas temos basicamente três processos de
modulação, veja figura 30.
O primeiro consiste na modulação pela grade de controle, caso
em que a válvula usada na saída de potência de RF ou
como osciladora
é um pentodo ou um tetrodo. Neste caso, o sinal de audio controla o fluxo
de elétrons entre o catodo e o anodo da válvula. A principal vantagem
deste sistema é que pode ser usada uma potência de audio bastante
baixa para controlar um sinal de alta freqüência de um transmissor,
pois a válvula também amplifica o sinal modulador.
Outra técnica é mostrada na mesma figura em (b) e consiste na modulação pelo catodo. Neste sistema, temos a aplicação do sinal entre o catodo e a terra por meio de um transformador. Desta forma, a tensão induzida no catodo para a operação da válvula sofre variações com o sinal de audio.
Na figura 31, temos uma outra forma de fazer a modulação pelo
catodo, utilizando uma segunda válvula em série com a primeira.
Neste circuito,
as potências das duas válvulas, a que trabalha com sinais de RF
(osciladora) e a que opera como moduladora, devem ser da mesma ordem.
Um capacitor em paralelo com o dispositivo de modulação (entre o catodo e o terra da osciladora) desacopla os sinais de RF evitando que apareçam na válvula de áudio (moduladora).
Finalmente, temos a modulação pela placa (anodo) da válvula (mostrada em c), em que controlamos a corrente de anodo ou placa da válvula a partir de um transformador com secundário cuja impedância deve ser calculada de acordo com as características do circuito.
Nesta configuração, a potência de áudio deve ser da mesma ordem que a potência do transmissor ou da etapa que está sendo modulada.
Para os transistores temos configurações equivalentes mostradas na figura 32, observando que para estes componentes temos apenas um elemento de controle que é a base, enquanto nas válvulas podemos ter diversas grades.
Na modulação
pela base do transistor, precisamos de potências menores do que a dos
outros dois casos.
O princípio de funcionamento de cada modalidade de modulação é o mesmo visto no caso das válvulas.
Para a modulação em freqüência (FM) precisamos fazer com que a freqüência do sinal transmitido varie com a intensidade do sinal de audio.
Para pequenos transmissores experimentais, em aplicações menos críticas, uma maneira de fazer a modulação em freqüência é atuando sobre a polarização do transistor, pois sua freqüência de operação pode variar sensivelmente com este parâmetro. Ocorre que a capacitância entre o coletor e demais eletrodos que aparece sobre a bobina osciladora, varia sensivelmente com a condução do transistor. Num circuito prático, basta aplicar o sinal de áudio na base do transistor oscilador conforme figura 33.
Nas aplicações
mais críticas podemos fazer uso de dispositivos especiais como os diodos
de capacitância variável ou varicaps. Estes diodos, quando
polarizados no sentido inverso, apresentam uma capacitância que depende
da tensão aplicada nos seus elementos (veja o projeto do potente transmissor
modulado por varicap nesta mesma série).
Um circuito modulador de FM usando um diodo varicap é mostrado na figura 34.
Neste circuito,
o sinal de áudio vai diretamente para os elementos do diodo, fazendo
com que sua capacitância se modifique conforme as variações
do sinal de áudio. O varicap está ligado com um capacitor em série,
de modo que sua capacitância mais a capacitância do capacitor e
a presença da bobina
determinem a freqüência central do oscilador. Esta freqüência
vai variar conforme as características do varicap e a intensidade do
sinal de áudio aplicado.
O choque de RF impede que o sinal de alta freqüência retorne, passando
para o circuito de áudio e o capacitor Cx impede que a tensão
contínua que controla o varicap passe para o circuito oscilador.
8. Antenas
Além das dimensões e formato de acordo com a freqüência do sinal transmitido e a direção em que devem ser concentrados, uma antena deve ter outras características para melhorar seu desempenho numa aplicação.
Na figura 35, temos o modo como as antenas podem irradiar os sinais, em função de seu formato, ou seja, temos os padrões de diretividade das antenas. Veja que existem os tipos que concentram a maior parte do sinal numa única direção, enquanto outras irradiam do mesmo modo em todas as direções.
Devemos optar por
uma antena com um padrão diretivo que concentre os sinais numa única
direção, se possível, na qual se encontra o receptor, pois
assim obtemos maior rendimento. Se a área onde se concentram os sinais
for 100 vezes menor que a área correspondente a todas as direções
possíveis, ou seja, uma esfera que envolve a antena, teremos um rendimento
100 vezes maior para o sinal transmitido. Na figura 36 mostramos o que ocorre.
A utilização de um transmissor de 1 W com uma antena como a indicada, teria o mesmo alcance que a obtida com um transmissor de 100 W, mas com uma antena não direcional.
Isso nos permite falar em ganho para uma antena, como a sua capacidade de concentrar a energia numa determinada direção e assim proporcionar maior rendimento.
Na mesma figura em que damos os padrões de irradiação damos
as dimensões que devem ter as antenas, em função do comprimento
de onda para que funcionem apropriadamente.
9.
Alguns circuitos práticos
Se bem que nesta série tenhamos muitos circuitos práticos de transmissores, podemos dar algumas sugestões adicionais com base neste artigo. Alguns projetos sugeridos apenas na forma de diagramas encontram uma descrição mais completa nesta série.
a) VFO de 1,5 a 10 MHz.O circuito apresentado na figura 37 pode gerar sinais numa faixa relativamente ampla de freqüências, dependendo basicamente de CV e da bobina L1.
Para L1 formada
por 60 espiras de fio 28 num núcleo de ferrite, de 1 cm de diâmetro
e com CV de 290 pF de capacitância máxima o circuito pode cobrir
a faixa que vai de 2 a 4 MHz.
Alterando-se a bobina com a redução do número de espiras,
o
circuito pode gerar sinais até 10 MHz.
O sinal gerado pelo transistor de efeito de campo (FET) passa por uma amplificação
por meio de outro FET que serve de Buffer e desta forma, é
jogado na
saída com grande estabilidade, de onde podemos fazer uso para amplificação
e modulação.
A alimentação do circuito deve ser feita com fonte estabilizada dotada de excelente filtragem.
Para operação na faixa de 3 a 8 MHz, a bobina L, pode ter aproximadamente 30 espiras de fio 28 ou 30 num tubo de PVC de 2 a 2,5 cm de diâmetro com tomada central.
O capacitor Vc deve ter uma capacitância máxima de 200 pF e tensão de isolamento entre as placas de pelo menos 500 V.
Os capacitores de 220 pF e 100 pF devem ter tensões de trabalho acima de 500 V.
A válvula usada é um triodo miniatura com base de 7 pinos, logo o aparelho deve ser montado num chassi metálico.
Lx é o enrolamento primário de um transformador comum de alimentação de 110 V ou 220 V. Os capacitores eletrolíticos da fonte devem ter tensões de trabalho de 300 V pelo menos (a tensão destes capacitores deve ser maior do que a tensão contínua obtida para alimentação da válvula). O manipulador será ligado entre os pontos A e B do diagrama.
c) Pequeno
transmissor de FM
Transmissores volantes para a faixa de FM são interessantes como microfones
volantes, escuta clandestina ou finalidades recreativas.
O circuito da figura 39 pode ser alimentado com pilhas e tem um alcance de pelo
menos 100 metros, dependendo
das condições locais e da antena.
Com 6 V de alimentação,
R1 deve ser de 4,7 kW e R4
de 47 W, caso em que teremos um menor alcance. O
transistor pode ser o BF494 ou 2N2218. Para alimentação de 9 V
ou 12 V aumente R1 para 6,8 kW ou 10 kW
e o transmissor pode ser o 2N2218 ou BD135. Neste caso, teremos o maior alcance,
ultrapassando os 500 metros.
A bobina L, consta de 4 espiras de fio 22 em fôrma sem núcleo de 1 m de diâmetro, e CV é um trimmer comum com capacitância máxima de 20 a 50 pF. A antena deve ser ligada entre a segunda e terceira espira da bobina e consiste numa vareta de metal de 20 a 60 cm de comprimento.
d) Transmissor telegráfico de ondas curtas
O
circuito mostrado na figura 40 fornece algumas centenas de miliwatts na faixa
dos 80 metros (3,5 MHz) e utiliza apenas dois transistores.
Neste circuito,
um dos transistores opera como oscilador e o outro
como amplificador de potência.