Mário Eugênio Saturno *
Sempre nos foi ensinado que o inventor do aparelho transmissor de rádio foi o italiano Guglielmo Marconi. Mas, o que pouca gente sabe, é que o homem que conseguiu a primeira transmissão da voz humana sem fio, ou seja, pela irradiação de uma onda eletromagnética modulada com um sinal de áudio, foi o padre Roberto Landell de Moura, no dia 3 de junho de 1900, sendo que a distância entre o aparelho emissor e o dectetor foi de aproximadamente oito quilômetros. Os pontos em que ocorreu a transmissão e a detecção do sinal estavam localizados entre o bairro Santana e os altos da Avenida Paulista, na cidade de São Paulo. Nesta época, o que se tinha em termos de comunicação por meios elétricos era o telégrafo por fios, invenção de Samuel Morse (1837), o telefone com fio, de Graham Bell (1876), e a radiotelegrafia, de Guglielmo Marconi (1895).
O grande desafio era justamente transmitir um sinal de áudio sem utilizar fios, feito conseguido pelo padre e cientista brasileiro. Pesquisava-se, mas ninguém ainda havia conseguido obter êxito. O mérito do padre Landell é ainda maior porque ele desenvolveu tudo sozinho. O padre era um gênio teórico e também um prático para construção de seus aparelhos. Ele era o cientista, o engenheiro e o operário ao mesmo tempo. Um ano após sua experiência, inédita no mundo, padre Landell obteve uma patente brasileira para um "aparelho destinado à transmissão phonética à distância, com fio ou sem fio, através do espaço, da terra e do elemento aquoso". Era 9 de março de 1901.
Consciente de que suas invenções tinham real valor, padre Landell partiu com destino aos Estados Unidos da América, quatro meses depois, com o intuito de patentear seus aparelhos. Com parcos recursos, teve que contar com a ajuda de amigos para levar adiante seu projeto. Apesar de todas as dificuldades, padre Landell conseguiu três cartas patentes: "Transmissor de Ondas", precursor do rádio, em 11 de outubro de 1904; "Telefone sem fio" e "Telégrafo sem fio", em 22 de novembro de 1904. Ainda naquele ano ele esboçou outro engenho ligado à vida moderna. Em 20 de agosto de 1904, um dos documentos ele batizou de "The telephotorama ou visão à distância". Tratava-se da televisão, que só em 1926 teria sua primeira demonstração pública.
Com o respaldo das patentes norte-americanas, padre Landell escreveu ao presidente da República, Rodrigues Alves, a quem solicitou dois navios para demonstrar suas invenções. Um assessor do governo o procurou, e o padre informou que desejava entre os navios a maior distância possível, só naquele momento, pois no futuro eles serviriam até a comunicações interplanetárias. Mais uma vez padre Landell foi julgado como louco. E o Brasil perdeu mais um gênio, mostrando que nossa classe política é estúpida há muito tempo...
Alguns documentos deixados por ele foram analisados por técnicos da Telebrás, que chegaram à conclusão de que alguns de seus esquemáticos configuram uma tentativa de construir um registrador telegráfico. Isso indica que, na pior das hipóteses, padre Landell pelo menos idealizou o controle remoto pelo rádio ou teletipo, invenções que na história oficial ficaram conhecidas, respectivamente, durante a primeira guerra mundial e em 1928. Fica o consolo de termos em Catanduva familiares daquele padre que além de servir a Deus tentou servir ao Brasil.
* Pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e coordenador diocesano das Congregações Marianas.
Obs.: Matéria publicada no Jornal O Pioneiro, da cidade de Caxias do Sul-RS
em 29 de julho de 2002, página 18.