* * * A R T I G O S * * *



DISNARD MALATER


           Por ocasião das brilhantes comemorações do centenário do nascimento do Monsenhor Roberto Landell de Moura, precursor da criação da radiotelegrafia e da radiofonia, Disnard Malater, que trabalhava na administração da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, em uma entrevista para o jornalista e seu amigo Archymedes Fortini, publicada no Jornal Correio do Povo, edição do dia 5 de fevereiro de 1961, domingo, página 15, comentou:

           "Desde o meu nascimento até o presente momento (Malater contava no momento com 73 anos de idade), vivi no bairro Menino Deus. Ainda eu era moço quando conheci o Padre Roberto Landell de Moura, à frente daquela paróquia, entre 1908 e 1915, mais ou menos.

           Vivia, aliás como sempre viveu, modestamente, sob grande humildade, sem dar mostra de ser um sábio. Cumpria religiosamente seus deveres de sacerdote, embora nunca dele se afastasse os sentimentos de homem de ciência.

           Admirávamos os seus conhecimentos de Botânica e o vimos colhendo diversas espécies de plantas e arbustos, especialmente no alto do morro do Menino Deus, para estudar as suas origens e qualidades medicinais. Mais de uma vez tivemos ocasião de vê-lo recomendar esta ou aquela erva aos seus paroquianos. Todas as observações que realizava, segundo me consta, encontram-se em um dos cadernos expostos na "Livraria do Globo".

           Disnard Malater, que entre a "juventude septuagenária" local era conhecido como "Almanaque", porque poucos como ele conhecia dados antigos da metrópole, prossegue sua entrevista, dizendo: "Houve, certa vez, um princípio de incêndio na Igreja do Menino Deus, o que não deixou de causar alarma entre os paroquianos. O Padre Roberto Landell de Moura acalmou-os e, após ter voltado tudo à serenidade, ele próprio, aos poucos, fez os reparos na instalação elétrica, como se fosse um velho profissional, o que constatei, pois do assunto, modéstia a parte, também entendo algo.

           Monsenhor Roberto Landell de Moura sempre se referia elogiosamente aos inventos de Edison, sendo por isso um dos seus grandes admiradores na apresentação dos gramofones, com suas grandes "trompas". Achava interessante o seu diagrama, mas também previa que, com o tempo, a trompa do gramafone haveria de desaparecer, com o desenvolvimento da radiofonia. Declarava isso baseado nos estudos feitos nos seus diversos inventos.

           Transferido da paróquia do Menino Deus para a de Nossa Senhora do Rosário, onde a morte veio colhe-lo, continuou a ter seu grande número de amigos e admiradores, sendo que, dentre estes, deve-se salientar Deoclécio Carvalho, que durante vários anos fez parte do corpo redatorial e administrativo do "Correio do Povo", e Antônio Monteiro Martinez, comerciante, que, na época era presidente do Clube Caixeiral, e a quem se deve a construção de sua grande sede social, atualmente ocupada pelo Sindicato dos Empregados no Comércio.

           O restaurante dali, fornecia-lhe comida em vianda, mediante o pagamento mensal de 45$000 (45 cruzeiros atualmente). Uma parte dela dava aos pobres, que as vezes apareciam na sacristia da paróquia e, a outra, colocava-a, misturada, para ferver em uma panela. Feito isso, tomava apenas o caldo, por achá-lo mais substanciado; acompanhado de pedaços de pão torrado.

           Monsenhor Roberto Landell de Moura era apreciador do fumo. Comprava pacotes da marca "Veado", então muito em voga entre os fumantes. E, com palha ou papéis adequados, ele mesmo fazia seus cigarros muito finos e compridos.

           A Rua 24 de Maio, mais conhecida outrora por beco do "Rosário", desapareceu com a abertura da avenida Otávio Rocha. Embora fosse uma "zona perigosa", Monsenhor Roberto Landell de Moura freqüentava-a, indo fazer suas compras em seus botequins. As vezes sentava-se em uma das mesa, para tomar leite com bolachas e fazer observações psicológicas. Dava conselhos a alguns dos presentes, no sentido de conseguir que homens e mulheres abandonassem aquele sistema de vida tão nocivo."

           E para terminar, Malater afirma:

           "Poderia ir longe, bem longe, contando coisas da vida do notável padre rio-grandense, mas vou terminar, acrescentando que, as roupas recebidas ou presentes para seu uso pessoal, comestíveis não os utilizava. O primeiro pobre a bater na sacristia, os recebia. Certa feita, Deoclécio Carvalho, deu-lhe vários pares de meias, visto ter, o antigo servidor do "Correio do Povo" constatado que ele muito as precisava. Mal saiu seu doador, apareceram pobres. E, como nada tivesse para dar, o piedoso padre desfez-se, logo dos pares de meias recebidas momentos antes.

           Parece-me que o registro deste fato demonstra que o padre Roberto Landell de Moura, além de sábio e inventor era, também, um grande benfeitor da humanidade, de vez que agia em todos os seus atos, com altos sentimentos de altruismo e filantropia."

           Abaixo transcrevo matéria publicada no Jornal Correio do Povo, de Porto Alegre, quinta-feira, dia 19 de janeiro de 1961.

PADRE LANDELL DE MOURA

           Em uma das vitrines da Livraria do Globo, acha-se exposta uma interessante exposição de documentos pertencentes ao cientista rio-grandense padre Landell de Moura, cujo centenário transcorrerá no próximo sábado.

           Entre os objetos expostos, figuram três cartas-patentes concedidas pelo governo dos Estados Unidos, pelas suas invenções de telegrafia sem fio, telefonia sem fio e transmissor de ondas; um exemplar de 1902 do jornal "New York Herald", cuja primeira página destaca a figura do padre Landell de Moura.

           Figuram ainda, na vitrine, além de um retrato do sábio patrício, quando contava 54 anos de idade, cadernos em que eram registrados seus estudos e teorias científicas, esquemas de aparelhos de sua invenção e descobertas, notas sobre botânica e observações psicológicas.

Colaboração de Ivan Dorneles Rodrigues - PY3IDR
e-mail: ivanr@cpovo.net  


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Publicado em 30 de junho de 2006
Atualizado em 04 de novembro de 2007