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A homeopatia existe há cerca de 200 anos, mas os relatos da mídia têm sugerido que ela é a medicina do futuro. Hoje em dia, a homeopatia é encontrada em quase todos os países. Tome-se a Europa: 40% dos médicos franceses usam homeopatia; 40% dos holandeses, 37% dos britânicos e 20% dos médicos alemães usam homeopatia.[1] Nos Estados Unidos, centenas de milhares de pessoas tomam remédios homeopáticos a cada ano. De fato, a homeopatia parece estar ficando cada vez mais popular.
Samuel Hahnemann, um médico alemão, criou a homeopatia em cerca de 1796. Ele estava insatisfeito com a medicina convencional de seu tempo. Os remédios aceitos naquela época eram freqüentemente perigosos para os pacientes. Havia uma piada contando que mais pessoas morriam devido ao tratamento médico do que devido à doença propriamente dita.
Hahnemann propôs dois princípios dessa homeopatia. Primeiro, disse que "semelhante cura semelhante" (Similia similibus curantur). Isso significava que uma substância que produz certos sintomas em uma pessoa saudável pode ser usada para curar sintomas semelhantes em uma pessoa doente.
Depois, disse que doses cada vez menores de um remédio seriam ainda mais eficientes (de certa maneira, talvez essa fosse uma boa idéia pois alguns dos remédios de Hahnemann eram venenosos). Assim, Hahnemann usou diluições cada vez maiores. Em um processo chamado "potentização", Hahnemann tomava uma substância natural original e a diluía a 1 para 99 (o que é chamado C1). Uma segunda diluição de 1 para 99 seria chamada "C2". Entre cada diluição, o remédio deve ser vigorosamente sacudido. Essa sacudida, ou sucucção, supostamente liberava a energia curativa do remédio. Essa energia curativa nunca foi adequadamente definida ou medida.
Hahnemann achava que as diluições C30 eram bastante eficazes. Para ele, essas diluições muito altas não apresentavam problema. Ele não acreditava em átomos, e achava que a matéria podia ser dividida ao infinito. Hoje sabemos que é improvável que qualquer diluição maior do que C12 contenha uma única molécula do remédio. Às vezes Hahnemann diluía uma substância na proporção de 1 para 9 (chamada de "D1"). Nesse caso, também seria improvável que qualquer diluição D24 ou superior contivesse alguma molécula do remédio.
A homeopatia afirma usar somente substâncias "naturais". Essa é uma tentativa de fazer contraste com a medicina convencional. Por exemplo, os remédios homeopáticos incluem testículos crus de boi, abelhas esmagadas (Apis mellifica), beladona [Belladonna: Toda a planta é extremamente venenosa e são conhecidos casos de envenenamentos mortais em crianças que confundem as bagas da beladona com as do mirtilo], cádmio (Cadmium), enxofre (Sulfur), noz vômica [Nux vomica: da qual se extrai a estricnina], cicuta (Conium), sílica [Silicea: mineral que compõe a areia], acônito [Aconite: A planta é tão venenosa que até sua manipulação é perigosa. A aconitina é um dos mais violentos venenos para o sistema nervoso, e os tubérculos colhidos servem essencialmente para obter esse alcalóide. É utilizada como componente de misturas medicinais analgésicas. O envenenamento manifesta-se por salivação excessiva, falta de ar, tremuras, aceleração do pulso e do ritmo respiratório. 10g de raiz constituem uma dose letal.], sal (Natrium mur), arnica, veneno de surucucu (Lachesis), arsênico (Arsenicum album), cantáridas (Cantharis), veneno de cascavel (Crotalus horridus), ipecacuanha [É ingrediente principal de várias marcas de remédios contra tosse. Irritante violento, estimula os sistemas gástricos e bronquiais, abaixa febres e previne formação de cisto em disenteria motivada por amebas. É usada interiormente para tosses, bronquite, tosse aguda, coqueluche e disenteria amebiana. Também usado em xarope para induzir vômito em crianças que ingeriram venenos. Excesso causa vômito severo e diarréia.], leite de cachorro (Lac canidum), hera venenosa (Rhus toxicodendron), e outros. Algumas dessas substâncias são perfeitamente inócuas, mas outras podem ser tóxicas (especialmente a diluições D4 ou inferiores).
Como Hahnemann sabia que um remédio era adequado para uma certa doença (na verdade, para um certo sintoma)? Hahnemann e seus estudantes testaram os remédios em si mesmos. Ele ingeriam diversas substâncias vegetais, animais e minerais e cuidadosamente observavam os sintomas. Isso era chamado de "prova". Essas reações (ou sintomas) foram coletadas em um livro chamado Materia Medica. Por exemplo, um dos sintomas de Pulsatilla [a planta anêmona] é "uma mensagem desagradável o faz muito triste e deprimido depois de 20 horas". Durante as provas, as pessoas sabiam que substância estavam tomando. Isso é um problema porque pode-se antecipar uma certa reação ou exagerar algum sintoma.
Hoje, em ciência moderna, tentamos impedir esse viés ao não permitir que a pessoa saiba o que está tomando -- um procedimento "cego". Quando se avaliam sintomas, também é importante que o pesquisador não saiba que remédio está sendo testado (procedimento duplo-cego) porque o pesquisador também pode sofrer viés.
Um recente estudo alemão [2] comparou um remédio (Belladonna C30) com placebo. As pessoas que receberam placebo relataram mais sintomas do que as que receberam o remédio. Os sintomas incluíam pequenas dores em diversas partes do corpo. O paciente erroneamente assumiu que uma dor normal estivesse associada ao medicamento? É possível que a dor fosse o resultado de um fator de confusão, como sono insuficiente.
Como se pode ver, a homeopatia não se importa com a doença. Ela se concentra nos sintomas relatados pelo paciente. Os homeopatas então encaixam esses sintomas aos causados em uma pessoa saudável. Em contraste, a biomedicina científica usa sintomas para identificar a doença e então tratá-la.
Existem dois pontos de vista sobre a homeopatia que estão em conflito. Um deles diz que a homeopatia não deveria tentar satisfazer os rigorosos padrões da medicina científica. É suficiente que tenha conseguido milhões de pacientes satisfeitos nos últimos 200 anos. A ciência não é relevante de qualquer jeito porque rejeita o conceito de energia da "força vital" que é essencial à homeopatia. Essa força vital é idêntica ao conceito de vitalismo -- um conceito primitivo usado para explicar doença e saúde. E, além disso, a medicina científica tem preconceito e viés injustos contra a homeopatia. Dana Ullman [3], uma proeminente porta-voz da homeopatia americana, afirma que a experiência pessoal é muito mais convincente do que qualquer experimento. A ênfase na experiência [pessoal] mostra que a maior parte das pessoas simplesmente não entende que a boa ciência, baseada em experimentos, é essencial ao desenvolvimento do conhecimento. [Esse primeiro ponto de vista é mantido somente pelos defensores da homeopatia.]
O segundo ponto de vista é o de que a pesquisa científica é necessária para a homeopatia ser aceita pela medicina e pela sociedade. Nos últimos 15 anos muitos estudos experimentais foram executados para examinar os medicamentos homeopáticos. Talvez dois reviews de homeopatia sejam os mais conhecidos.
J. Kleinjen, P. Knipschild e G. ter Riet [4] examinaram 107 testes clínicos controlados de homeopatia. Eles concluíram que as evidências não eram suficientes para apoiar as alegações da homeopatia. C. Hill e F. Doyon [5] examinaram 40 estudos clínicos. Eles também concluíram que não havia evidências aceitáveis de que a homeopatia é eficiente. Desde que esses reviews foram publicados, quatro outros estudos surgiram.
Em 1992, foi examinado o tratamento homeopáticos de verrugas plantares (nas solas dos pés).[6] O tratamento homeopático não foi mais eficaz do que placebo.
Um relato de maio de 1994 examinou o tratamento homeopático de diarréia em crianças da Nicarágua [7]. No terceiro dia de tratamento o grupo homeopático tinha um cilindro fecal não formado a menos do que o grupo de controle (3.1 Vs 2.1; p <.05). No entanto, os críticos[8] notaram que não só as crianças mais doentes foram excluídas, como também não havia diferenças significativas nos dias 1, 2, 4 ou 5. Isso sugere que a conclusão não é válida. Além disso, não havia garantia de que o remédio homeopático não foi adulterado (contaminado). Por fim, remédios-padrão que param a diarréia não foram usados como comparação.
Em novembro de 1994, um relato de pesquisa examinou os efeitos dos remédios homeopáticos em crianças com infecções do trato respiratório superior (como resfriados).[9] Oitenta e quatro crianças receberam placebo, e 86 receberam remédios homeopáticos individualizados. Os pesquisadores concluíram que os remédios não produziam melhora nos sintomas ou nas infecções.
Em dezembro de 1994 um quarto estudo examinou o tratamento homeopático de asma alérgica na Escócia.[10] Os 13 pacientes que receberam o remédio homeopático disseram ter-se sentido melhor e ter respirado melhor do que os 15 pacientes que receberam placebo. Depois os pesquisadores combinaram esses dados com vários outros experimentos anteriores. Eles concluíram que, em geral, a homeopatia não é placebo e que ela é reprodutível.
No entanto, havia poucos pacientes para uma análise significativa. Em segundo lugar, os relatos dos pacientes não são confiáveis. Se um paciente se sente melhor, isso é prova de que está se recobrando do mal? Há muitas doenças em que o paciente se sente bem mas na verdade está bastante doente. O que é necessário são várias medidas fisiológicas adequadas de melhora. Em terceiro lugar, não é apropriado combinar um estudo pequeno com estudos anteriores de males diferentes.
O estudo mais recente da Noruega[11] examinou o alívio na dor de extração dentária/cirurgia bucal causado por remédios homeopáticos e placebos. Dos 24 sujeitos, 14 eram estudantes de homeopatia, e dois dos cinco autores eram homeopatas. Pode-se dizer com segurança que a motivação pelo sucesso da homeopatia era alto. No entanto, não se acharam evidências a favor da homeopatia, tanto no alívio da dor como na inflamação do tecido.
O leitor pode perguntar por que tanta atenção foi dada à pesquisa científica quando as pessoas que apóiam a homeopatia rejeitam a relevância de testes clínicos para estabelecer sua validade. Mas as mesmas pessoas também alegam que o review de 1991 e os estudos da Nicarágua e da Escócia são provas de que a homeopatia de fato funciona. É importante perceber que toda a pesquisa que aparenta apoiar a homeopatia tem falhas sérias. A única conclusão que se justifica hoje é de que a pesquisa não mostrou conclusivamente que os remédios homeopáticos são eficazes.
Que resposta se pode dar a alguém que tomou um remédio e diz ter funcionado? A maior parte das pessoas não percebe que com o tempo a maior parte das doenças melhora mesmo se nada for feito. Como diz o ditado, um resfriado dura sete dias sem tratamento, e somente uma semana com ele. Um médico mais sábio dirá para o paciente não se preocupar, pois o medicamento não ajudará muito. (Por sinal, alguém já ouviu de algum homeopata dizendo ao paciente que não é preciso preocupar-se e que a doença irá embora sozinha?) Quando alguém diz que foi curado por um remédio homeopático, podemos perguntar se a pessoa não teria sido curada com a mesma rapidez se nada fosse feito.
Outro fator a se considerar é o efeito placebo. Isso significa que se as pessoas acreditam que estão sendo adequadamente tratadas, irão se perceber melhorando mais rapidamente. Pesquisas recentes mostram que até 70% dos pacientes médicos ou cirúrgicos relata bons resultados a partir de técnicas que sabemos hoje serem ineficazes.[12] (Na época do tratamento, tanto paciente como médico estavam convencidos da eficácia do tratamento.)
Desde 1842, os homeopatas afirmam que o argumento do placebo é irrelevante porque crianças e animais são beneficiados pela homeopatia. Mas crianças e animais respondem a sugestão quando pesquisadores e freqüentemente pais e proprietários de animais de estimação sabem que um medicamento foi dado.
Os defensores também alegam que não há riscos no tratamento homeopático. Eles dizem que os remédios ultra-diluídos são mais seguros e mais baratos que a maior parte das drogas encontradas nas farmácias. Em primeiro lugar, já se mostrou que muitos remédios homeopáticos para asma na verdade continham grandes quantidades de esteróides artificiais. Em segundo lugar, alguns remédios contêm de fato quantidades mensuráveis da substância crítica. Se um paciente ingere quatro tabletes diários de mercúrio D4, recebe uma dose potencialmente tóxica. Uma dose de cádmio D6 já não é segura. Por fim, uma dose D6 ou menor de Aristolochia contém quantidades significativas dessa erva cancerígena. Portanto, não podemos afirmar com facilidade e rapidez que remédios homeopáticos são sempre seguros.
Existe ainda um risco adicional em procurar remédios homeopáticos. Se alguém está doente e precisa de tratamento médico imediato, qualquer demora pode ter conseqüências sérias. Esse é o risco associado a todos os tratamentos alternativos.
Defensores da homeopatia freqüentemente afirmam que remédios diluídos são semelhantes a vacinas. Afinal, vacinas também utilizam substâncias muito diluídas. Novamente, a homeopatia tenta obter respeitabilidade mostrando que a medicina convencional usa procedimentos similares. Isso é enganoso por várias razões. Primeiro, as vacinas são usadas para prevenir doenças. Para pessoas doentes e com sintomas, a vacina não ajuda. O remédio homeopático é dado somente depois que se está doente. As vacinas usam microorganismos enfraquecidos similares ou idênticos, mas a homeopatia se preocupa com sintomas similares da doença. E por último, muitos remédios homeopáticos usam diluições D24 ou C12, em que nada resta da substância original. Vacinas, por outro lado, precisam conter uma quantidade mensurável de microorganismos ou suas proteínas.
Às vezes pode-se aprender bastante sobre um assunto examinando quem ou o que se associa com ele. Nos primeiros 100 anos, a homeopatia estava intimamente ligada com muitas pseudociências, incluindo o mesmerismo e a frenologia. Nos Estados Unidos, muitos dos primeiros homeopatas eram membros do culto místico do Swedenborg.
Infelizmente, isso não mudou. Especialmente nos Estados Unidos, a quiropraxia (terapia de manipulação da coluna) e a cinesiologia aplicada utilizam remédios homeopáticos. Muitos homeopatas utilizam iridologia, reflexologia, radiestesia e eletrodiagnose. Nenhum desses métodos tem validade científica. Nos Estados Unidos, se você quer aprender mais sobre homeopatia, o melhor lugar para ir é uma livraria ou local de encontro New Age.
Outra conexão da homeopatia com o movimento New Age está na ênfase em alguma energia mística (chamada "força vital") que, apesar de inquantificável, supostamente permeia o universo e é responsável pela cura. Fritjof Capra e Deepak Chopra alegam que os mistérios da física quântica apóiam esse conceito de "energia curativa". Mas Victor Stenger [13] mostrou que toda a física moderna (incluindo a física quântica) permanece materialista e reducionista e não apóia a misteriosa energia supostamente presente em remédios homeopáticos potentizados a diluições de C12 ou maiores.
Nos Estados Unidos, temos um ditado: "Se anda como um pato, soa como um pato e parece um pato, então provavelmente é um pato." Quanto a homeopatia se parece com e soa como charlatanismo?
Uma conexão clara da homeopatia com o charlatanismo é o uso de lógica falha pelos seus defensores. O primeiro exemplo é conhecido como argumento do "teste do tempo" – o fato de a homeopatia existir há muito tempo mostraria que ela é válida. Mas longevidade não garante validade. Astrologia, numerologia e radiestesia existem há muito tempo, mas são exemplos claros de pseudociências. A longevidade de uma idéia nunca substitui a boa ciência.
O segundo argumento é o de que muitas pessoas experimentaram remédios homeopáticos e todas estão satisfeitas, logo a homeopatia deve ser legítima. Na mesma linha, diz-se que as seguintes pessoas famosas e importantes apoiaram a homeopatia: a família real inglesa, Johann Wolfgang Goethe, Mahatma Gandhi, Madre Teresa, Mark Twain, O.J. Simpson, Yehudi Menuhin, Angela Lansbury e Mary Baker Eddy (fundadora da Ciência Cristã). Os chineses têm um ditado: se mil pessoas falam uma tolice, ela continua uma tolice. Nenhum voto de maioria é substituto para a ciência. Além disso, geralmente só se divulgam os sucessos, e os fracassos são convenientemente esquecidos ou ignorados.
Um terceiro argumento é o "non sequitur." Tipicamente, o charlatão diz "riram de Galileu, e ele estava certo. Hoje riem de mim, portanto devo estar certo" (na verdade, não riram de Galileu. Ele foi perseguido porque não tinha a fé cristã adequada para aceitar o dogma correto.). Os homeopatas dizem que ao longo da história muitos grandes gênios se rebelaram contra o conhecimento de sua época; reconheceu-se por fim que muitos deles estavam certos. Paracelso, William Harvey, Louis Pasteur e Joseph Lister foram recuperados pela história. Portanto, argumenta-se, Samuel Hahnemann e a homeopatia também serão reconhecidos como corretos. Mas esse argumento esquece que muitos outros que alegam ser gênios foram corretamente rejeitados.
No espírito de justiça, pode-se ficar tentado a conceder à homeopatia o benefício da dúvida e simplesmente dá-la como "ainda não comprovada". No entanto, o que devemos fazer quando muitos praticantes leigos relatam que simplesmente escrever o nome do remédio em um pedaço de papel e inseri-lo no corpo do paciente resulta em "cura". Mesmo dois respeitados porta-vozes nacionais não quiseram rejeitar esses relatos, e um deles sugeriu que a física quântica pode por fim explicar essas curas, assim como as relatadas por pacientes que recebem o remédio pelo telefone.
Deve-se concluir que a homeopatia certamente soa como charlatanismo.
Antes de 1920, a homeopatia era extremamente popular nos Estados Unidos. Havia muitos hospitais homeopáticos e escolas de medicina. Mas depois a medicina estabeleceu padrões mais rigorosos para treinar os estudantes. Além disso, a farmacologia e a descoberta de muitas drogas úteis aconteceram ao mesmo tempo. Hoje nos Estados Unidos, somente 500 dos mais de 600 mil médicos usam remédios homeopáticos.
No entanto, muitos cientistas estão preocupados com o crescimento da popularidade da homeopatia. Hoje em dia qualquer um pode comprar remédios homeopáticos sem prescrição. Isso porque em 1938 um homeopata que também era influente político (Royal Copeland, MD) conseguiu aprovar uma lei que deixava os remédios homeopáticos isentos de todas as leis relativas a medicamentos. Assim, não é preciso provar a efetividade dos remédios homeopáticos, como se faz com todos os outros medicamentos. Além disso, muitas pessoas sem treinamento e sem licenças podem dar remédios homeopáticos a qualquer um que lhes peça. Tanto as empresas homeopáticas francesas como as alemãs reconhecem o grande mercado americano potencial para seus remédios. As vendas estão crescendo 30% ao ano, e a maior parte dos remédios é vendida em lojas New Age e de alimentos integrais. Portanto, não existe controle da qualidade do tratamento homeopático recebido por pacientes, nem da qualidade ou pureza dos remédios.
Por Que as Pessoas Aceitam a Homeopatia?
Talvez haja na verdade duas perguntas aqui. A primeira diz respeito à New Age em geral. A segunda está ligada a muitas terapias alternativas, assim como à homeopatia.
Por que as pessoas lêem seus horóscopos? Por que acreditam em boa e má sorte? Por que procuram radiestesistas? Por que visitam videntes? As pessoas que fazem isso querem conhecer o futuro para evitar as incertezas e controlar suas vidas. Para muitas pessoas, as incertezas da vida são insuportáveis. Essas pessoas querem explicações que consigam entender. A ciência moderna tornou-se tão complexa que muitas pessoas se afastam devido à frustração. E uma pena que a maior parte da população mundial não entenda o que é e o que faz a ciência. Por exemplo, quantas pessoas sabem dizer por que é mais quente no verão do que no inverno? (Só 2 em 23 pessoas recentemente formadas em Harvard mencionou a inclinação do eixo da Terra.[14]) Ou quantas pessoas entendem as idéias básicas da evolução biológica? Uma pesquisa da National Science Foundation de maio de 1966 mostrou que 48% dos adultos norte-americanos crêem que humanos e dinossauros coexistiram; somente 47% sabiam que a Terra leva um ano para dar uma volta em torno do Sol. Esse analfabetismo científico, devido em parte a deficiências de nosso sistema educacional, permite que a superstição e a pseudociência avancem com facilidade.
Por que as pessoas procuram a homeopatia e outras medicinas "alternativas"? Muitos estão insatisfeitos com a medicina convencional. Eles não confiam em médicos que podem prescrever drogas caras ou cirurgias dolorosas. Muitas vezes, os médicos não acham nada de errado com os pacientes. Ou lhes dizem que o tempo curará a doença. E, é claro, os médicos freqüentemente não podem passar muito tempo falando com o paciente porque têm muitos outros pacientes para atender no mesmo dia. Se o médico não encontra nada de errado, isso pode ofender o paciente, porque sugere que a causa é psicossomática. O paciente que quer ser curado e ser curado imediatamente se aborrece quando o médico diz que o tempo, sozinho, curará a doença. O paciente também não fica satisfeito se o médico não lhe dá alguma medicação.
Uma visita inicial ao homeopata muitas vezes leva mais de uma hora. Os pacientes são encorajados a falar sobre suas preocupações e dores. Talvez se lhes pergunte se preferem maçãs ou laranjas, de que tipo de música gostam, se dormem de costas ou de lado.
Mais tarde o homeopata diz ao paciente que uma vez que o paciente é único, o remédio também será individualizado, somente para aquela pessoa específica. Assim, a homeopatia é sedutora tanto ao paciente como ao médico. Eles se tornam parceiros na luta contra a doença. O homeopata é visto como um agente de saúde consciencioso e empático.
Deve-se concluir que, por todos os padrões objetivos, racionais e médicos, a homeopatia não conseguiu estabelecer credibilidade científica. A homeopatia não se afastou das muitas características de pseudociência e charlatanismo. Como a medicina convencional a ciência e os pacientes devem responder a esse desafio?
Deve-se reconhecer o problema do analfabetismo científico. Por exemplo, se as pessoas entendessem a influência da sugestão e o efeito placebo com mais clareza, o poder da homeopatia poderia diminuir.
Pessoas inteligentes podem encorajar outras a pensar mais criticamente. Alegações extraordinárias exigem evidências extraordinárias. Uma cura miraculosa provavelmente não é nenhum milagre. Se alguma coisa parece ser incrível demais para ser verdadeira, provavelmente não é verdadeira. Devemos exigir que as alegações de diagnóstico e cura estejam substanciadas por boa ciência. Para parafrasear outro ditado americano: "Para se espalhar, o charlatanismo só precisa que as pessoas inteligentes não façam nada."
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Os comentários do tradutor aparecem como texto entre colchetes. Publicado originalmente em Scientific Review of Alternative Medicine. Vol. 1 No. 1, Outono/Inverno 1997. Mahlon W. Wagner, Emérito, Universidade do Estado de Nova Iorque em Oswego, Nova Iorque.
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Artigo publicado em 24 de abril de 2002
Tradução: Daniel
Sottomaior
O Quackwatch agradece a Sociedade
da Terra Redonda pela autorização da publicação do texto em português.