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        em português 
        Como Distingüir Ciência de
        Pseudociência
        Rory Coker, Ph.D. 
        Tradutor:
        Francisco S. Wechsler, Ph.D. 
        A palavra
        "pseudo" significa falso. O modo
        mais seguro de identificar algo falso é saber tanto
        quanto possível sobre o fato real -- neste caso, a
        própria ciência. Ter conhecimento científico não se
        restringe a saber fatos científicos (como a distância
        da Terra ao Sol, a idade da Terra, as diferenças entre
        mamíferos e répteis, etc.). Significa entender a
        natureza da ciência  os critérios para obter
        evidência, como projetar experimentos relevantes, a
        avaliação de possibilidades, os testes de hipóteses, o
        estabelecimento de teorias, os múltiplos aspectos dos
        métodos científicos que tornam possível estabelecer
        conclusões confiáveis acerca do universo físico. 
        Já que os meios de
        comunicação bombardeiam-nos com absurdos, torna-se
        útil ter em conta as características da pseudociência.
        A presença de apenas uma delas já deve despertar grande
        suspeita. Por outro lado, um material que não mostre
        nenhum destes vícios poderá ser pseudociência não
        obstante, pois seus adeptos inventam diariamente novas
        maneiras de se tapear. A maioria dos exemplos deste
        artigo relacionam-se à física, minha área de
        conhecimento, porém crenças e comportamentos
        semelhantes estão associados à astrologia médica,
        iridologia, quiropraxia baseada em subluxação,
        reflexologia, terapia dos meridianos, toque terapêutico
        e outras pseudociências da saúde. 
        A pseudociência
        exibe indiferença pelos fatos.  
        Em vez de se dar ao trabalho de consultar referências ou
        investigar diretamente, seus proponentes limitam-se a
        regurgitar falsos fatos sempre que
        necessário. Estas ficções são amiúde cruciais para
        os argumentos e conclusões do pseudocientista. Ademais,
        pseudocientistas raramente revisam seus textos. A
        primeira edição dum livro pseudocientífico é quase
        sempre a última, muito embora ele continue a ser
        impresso por décadas ou mesmo séculos. Até mesmo
        livros com erros óbvios de conteúdo e impressão são
        reimpressos sem modificação, vezes sem conta.
        Compare-se isto aos compêndios científicos que são
        reeditados a cada punhado de anos, devido ao rápido
        acúmulo de novos fatos e critérios. 
        A
        pesquisa pseudocientífica é invariavelmente
        mal feita.  
        Os pseudocientistas recortam notícias de jornais,
        colecionam boatos, citam outros livros pseudocientíficos
        e debruçam-se sobre antigas obras religiosas ou
        mitológicas. Raramente ou nunca empreendem uma
        investigação independente para verificar suas fontes. 
        A pseudociência
        parte duma hipótese  que geralmente possua apelo
        emocional e seja espetacularmente implausível  e a
        seguir busca somente os itens que a apóiem.  
        Desprezam-se as evidências conflitantes. De modo geral,
        a pseudociência visa racionalizar crenças fortemente
        arraigadas, ao invés de investigar ou testar
        possibilidades alternativas. A pseudociência se
        especializa em atingir conclusões
        apropriadas e espicaçar ideologias, ao
        apelar a idéias preconcebidas e mal-entendidos
        disseminados. 
        A pseudociência
        é indiferente aos critérios para estabelecer evidência
        válida.  
        A ênfase não reside em experimentos científicos
        relevantes, controlados e repetíveis. Pelo contrário,
        baseia-se em testemunhos não verificáveis, histórias e
        lorotas, boatos, rumores e relatos dúbios. A literatura
        genuinamente científica ou é desprezada ou distorcida. 
        A pseudociência
        confia muito na validação subjetiva. 
        José da Silva aplica gelatina na cabeça, e sua dor de
        cabeça some. Para a pseudociência, isto significa que
        gelatina cura dores de cabeça. Para a ciência, isto
        nada significa, pois nenhum experimento foi realizado.
        Muitas coisas estavam ocorrendo quando a dor de cabeça
        de José da Silva sumiu - era lua cheia, um pássaro voou
        por sobre ele, a janela estava aberta, José vestia sua
        camisa vermelha, etc  e sua dor de cabeça acabaria
        indo embora de qualquer modo, fosse por que fosse. Um
        experimento controlado colocaria muitas pessoas numa
        mesma situação, exceto pela presença ou ausência do
        remédio que se desejasse testar, e compararia os
        resultados, que então teriam alguma possibilidade de ser
        relevantes. Muitos acham que a astrologia deve ter algo
        válido, pois um horóscopo de jornal descreve-os
        perfeitamente. Mas um exame detalhado revelaria que a
        descrição é genérica o bastante para enquadrar
        praticamente qualquer um. Este fenômeno, chamado de
        validação subjetiva, é um dos pilares do apoio popular
        à pseudociência. 
        A pseudociência
        depende de convenções arbitrárias da cultura humana, 
        ao invés de regularidades imutáveis da natureza.  
        Por exemplo, a interpretação da astrologia baseia-se
        nos nomes de coisas, que são acidentais e variam de
        cultura a cultura. Se os antigos houvessem chamado de
        Marte ao planeta a que chamamos de Júpiter, a astronomia
        não daria a mínima, mas a astrologia seria totalmente
        outra, pois baseia-se exclusivamente no nome e nada tem
        que ver com as propriedades físicas do planeta em si. 
        A pseudociência
        acaba sempre em absurdo se levada adiante.  
        Talvez os rabdomantes possam sentir de algum modo a
        presença de água ou minerais no subsolo, mas quase
        todos afirmam poder detectá-los igualmente por meio de
        um mapa! Talvez Uri Geller seja um
        paranormal, mas será que seus poderes são a
        ele irradiados mediante uma ligação de rádio com um
        disco voador do planeta Huva, como ele alega? Talvez as
        plantas sejam paranormais, mas por que uma
        tijela de lama produz exatamente a mesma resposta no
        mesmo experimento? 
        A pseudociência
        sempre evita submeter suas alegações a um teste
        válido.  
        Os pseudocientistas nunca efetuam experimentos cuidadosos
        e metódicos  e geralmente também desprezam
        aqueles realizados por cientistas. Os pseudocientistas
        tampouco efetuam acompanhamentos. Se algum
        pseudocientista declara ter realizado um experimento (tal
        como os estudos extraviados de Hermann
        Swoboda sobre biorritmos, que constituem a suposta base
        da moderna pseudociência da biorritmologia), nenhum
        outro pseudocientista procura repetir o experimento ou
        fiscalizar o autor, mesmo quando os resultados são
        inexistentes ou questionáveis! Ademais, quando um
        pseudocientista alega ter realizado um experimento de
        resultado notável, ele não o repete para verificar seus
        resultados e procedimentos. Isto está em franco
        contraste com a ciência, na qual experimentos cruciais
        são repetidos por cientistas do mundo todo, com
        precisão cada vez maior. 
        A pseudociência
        amiúde se contradiz, mesmo em seus próprios termos.
         
        Estas contradições lógicas são meramente desprezadas
        ou racionalizadas. Portanto, não deveríamos nos
        surpreender se o Capítulo 1 de um livro sobre
        rabdomancia afirma que rabdomantes usam galhos
        recém-cortados, pois somente a madeira "viva"
        consegue canalizar e focalizar a "radiação
        telúrica" que possibilita a rabdomancia, ao passo
        que o Capítulo 5 afirma que quase todos os rabdomantes
        empregam varas de metal ou plástico. 
        A pseudociência
        cria deliberadamente mistério onde não há nenhum, 
        ao omitir informações cruciais e detalhes importantes. 
        Pode-se tornar qualquer coisa "misteriosa",
        omitindo o que se sabe a respeito ou apresentando
        detalhes imaginários. Os livros sobre o "Triângulo
        das Bermudas" são exemplos clássicos desta
        tática. 
        A pseudociência
        não progride.  
        Ocorrem modas, e um pseudocientista pode mudar de uma
        moda a outra (de fantasmas à pesquisa de percepção
        extra-sensorial, de discos voadores a estudos de
        paranormalidade, da percepção extra-sensorial ao
        Abominável Homem das Neves). Porém, não se faz nenhum
        progresso num dado tópico. Obtém-se pouca ou nenhuma
        informação nova. Raramente se propõem novas teorias, e
        conceitos antigos raramente se modicam ou são
        descartados à luz de novas "descobertas", já
        que a pseudociência raramente faz novas
        "descobertas". Quanto mais antiga a idéia,
        maior o respeito que recebe. Nenhum fenômeno ou processo
        natural até então desconhecido da ciência foi
        descoberto por pseudocientistas. Na realidade, os
        pseudocientistas quase invariavelmente lidam com
        fenômenos bem conhecidos pelos cientistas, mas pouco
        conhecidos pelo público em geral  de sorte que o
        público engolirá qualquer alegação que o
        pseudocientista queira fazer. Como exemplos temos o andar
        sobre brasas e a fotografia
        "Kirlian". 
        A pseudociência
        busca persuadir com retórica, propaganda e embuste,  
        no lugar de evidência válida (que presumivelmente não
        existe). 
        Os livros pseudocientíficos oferecem exemplos de quase
        toda a sorte de falácias de lógica e raciocínio
        conhecidas pelos estudiosos e têm inventado algumas
        novas. Um recurso favorito é o "non sequitur".
        Os pseudocientistas também adoram o "Argumento de
        Galileu". Este consiste em o pseudocientista
        comparar-se a Galileu, dizendo que, assim como o
        pseudocientista é tido como equivocado, também Galileu
        o era por seus contemporâneos; logo, o pseudocientista
        certamente tem razão, exatamente como Galileu. É claro
        que esta conclusão não procede! Ademais, as idéias de
        Galileu foram testadas, verificadas e prontamente aceitas
        por seus colegas de ciência. A rejeição proveio da
        religião oficial, que favorecia a pseudociência,
        contradita pelas descobertas de Galileu. 
        A pseudociência
        argumenta com base na ignorância ou numa falácia
        elementar. 
        Muitos pseudocientistas baseiam suas alegações na
        incompletude de informações sobre a natureza, ao invés
        de basear-se no que se sabe até agora. Mas não há como
        comprovar uma alegação mediante falta de informação.
        O fato de que as pessoas não identificam o que vêem no
        céu significa apenas que elas não identificam o que
        vêem. Isto não quer dizer que discos voadores provêm
        do espaço extraterrestre. A afirmação "A ciência
        não consegue explicar" é comum na literatura
        pseudocientífica. Em muitos casos, a ciência não tem
        interesse nos supostos fenômenos por não haver
        evidência de que existam; noutros casos, a explicação
        científica é bem conhecida e demonstrada, mas o
        pseudocientista não sabe disso ou despreza
        deliberadamente o fato para criar mistério. 
        A pseudociência
        argumenta com base em supostas exceções, erros,
        anomalias, acontecimentos estranhos, e alegações
        suspeitas  ao invés de regularidades da natureza
        bem demonstradas. 
        A experiência dos cientistas nos últimos 400 anos é
        que alegações e notícias que descrevem objetos bem
        estudados como se comportassem de forma estranha e
        incompreensível costumam ser reduzir-se, após
        investigação, a fraudes deliberadas, enganos honestos,
        descrições confusas, mal-entendidos, mentiras
        deslavadas e asneiras graves. Não é recomendável
        julgar tais notícias pela aparência, sem verificá-las.
        Os pseudocientistas sempre as tomam ao pé da letra, sem
        recorrer a comprovação independente. 
        A pseudociência
        apela à falsa autoridade, emoção, sentimento ou
        desconfiança de um fato comprovado. Um indivíduo
        que abandonou o curso secundário é aceito como experto
        em arqueologia, embora nunca a tenha estudado! Um
        psicanalista é aceito como experto em todos os aspectos
        da história humana, sem contar física, astronomia e
        mitologia, muito embora suas alegações sejam
        incompatíveis com tudo que se sabe nestas quatro áreas.
        Um físico diz que um "paranormal" jamais
        poderia enganá-lo com meros truques de mágica, embora
        ele nada saiba sobre mágica e prestidigitação. Apelos
        emocionais são comuns ("Se isto fá-lo sentir-se
        bem, deve ser verdade."; "No fundo de seu
        coração você sabe que isto está correto"). Os
        pseudocientistas gostam de conspirações imaginárias
        ("Há farta evidência sobre discos voadores, mas o
        Governo mantém segredo."). E argumentam com
        irrelevâncias; ao ser confrontados por fatos
        inconvenientes, limitam-se a retrucar: "Os
        cientistas não sabem tudo!" 
        A pseudociência
        faz alegações extraordinárias e aventa teorias
        fantásticas 
        que contradizem o que se conhece sobre a natureza.  
        Não apenas deixam de fornecer provas da veracidade de
        suas alegações, mas também desprezam todas as
        descobertas que contradigam suas conclusões. ("De
        algum lugar os discos voadores devem vir  portanto
        a Terra é oca, e eles vêm do seu interior.";
        "A faísca que produzo com este aparelho elétrico
        não é na verdade uma faísca, mas sim uma
        manifestação sobrenatural de energia
        psicoespiritual."; "Todo ser humano está
        rodeado por uma aura impalpável de energia
        eletromagnética, o ovo áurico dos antigos videntes
        hindus, que espelha fielmente o humor e condição deste
        humano.") 
        Os
        pseudocientistas inventam seu próprio vocabulário, no
        qual muitos termos carecem  
        de definições precisas ou sem ambigüidade, e alguns
        não possuem nenhuma definição.  
        Os ouvintes são amiúde forçados a interpretar as
        afirmações conforme suas próprias preconcepções. Por
        exemplo, o que significa "energia biocósmica"
        ou "sistema psicotrônico de amplificação"?
        Os pseudocientistas buscam com freqüência imitar o
        jargão científico e técnico jorrando uma algaravia que
        soa científica e técnica. Os curandeiros estariam
        perdidos sem o termo "energia", mas o emprego
        que dele fazem não tem absolutamente nada que que ver
        com o conceito de energia usado pelos físicos. 
        A pseudociência
        apela aos critérios de comprovação da metodologia
        científica,  
        ao mesmo tempo em que nega a validade destes.  
        Assim, um experimento realizado de forma inválida, que
        parece mostrar que a astrologia funciona, é proposto
        como "prova" de que a astrologia está correta,
        ao mesmo tempo em que se desprezam milhares de
        experimentos executados corretamente que provam que ela
        não funciona. O fato de que alguém se deu bem usando
        simples truques de mágica nalgum laboratório
        científico é "prova" de que ele é um
        super-homem paranormal, enquanto se despreza o fato de
        que ele foi flagrado tapeando em diversos outros
        laboratórios. 
        A pseudociência
        alega que os fenômenos por ela estudados são
        "sensíveis".  
        Os fenômenos só se manifestam em condições vagamente
        especificadas, porém vitais (como, por exemplo, quando
        não há incrédulos nem céticos presentes; quando não
        há expertos presentes; quando ninguém está observando;
        quando as "vibrações" estão corretas; ou só
        uma vez em toda história humana). A ciência afirma que
        fenômenos genuínos devem ser investigáveis por
        qualquer um que disponha do equipamento apropriado, e
        todos os experimentos executados de forma válida devem
        fornecer resultados consistentes. Nenhum fenômeno
        genuíno padece desta "sensibilidade". Não há
        como montar um televisor ou rádio que só funcionam na
        ausência de céticos! Alguém que alegue ser um
        violinista de concertos, mas jamais possuiu um violino e
        se recusa a tocar sempre que alguém possa ouvi-lo, está
        mui provavelmente mentindo sobre sua capacidade de tocar
        violino. 
        As
        "explicações" pseudocientíficas costumam
        limitar-se a descrições do cenário.  
        Ou seja, é nos contada uma história, e nada mais, não
        temos descrição alguma de qualquer possível processo
        físico. Por exemplo, o ex-psicanalista Immanuel Velikovsky (1895-1979) sustentava que
        um planeta que passou perto da Terra fez com que o eixo
        desta virasse de cabeça para baixo. É tudo que ele
        disse. Não forneceu nenhum mecanismo. Mas o mecanismo é
        essencial, porque as leis da física determinam a
        impossibilidade do processo. Isto é, a aproximação de
        um planeta não pode provocar a virada do eixo de
        rotação de outro planeta. Se Velikovsky houvesse
        descoberto algum modo pelo qual um planeta pudesse virar
        o eixo de outro planeta, presume-se que ele teria
        descrito o mecanismo que permitisse o acontecimento. Uma
        afirmação nua e crua, desprovida do mecanismo
        subjacente, não fornece nenhuma informação. Velikovsky
        disse que Vênus foi outrora um cometa, cuspido dum
        vulcão em Júpiter. Já que planetas não se parecem com
        cometas (que são restos de rochas ou gelo em forma de
        bola de neve, em nada relacionados a vulcões), e visto
        que não se conhece nenhum vulcão em Júpiter (nem mesmo
        uma superfície sólida!), não poderia existir nenhum
        processo físico real subjacente às afirmações de
        Velikovsky. Ele nos forneceu palavras, relacionadas entre
        si numa frase, mas estas relações eram estranhas ao
        universo real em que vivemos, e não deu nenhuma
        explicação de como elas poderiam existir. Ele nos
        forneceu histórias, não teorias genuínas. 
        Os
        pseudocientistas apelam freqüentemente ao antigo hábito
        humano de pensar magicamente.  
        Mágica, feitiçaria, bruxaria  baseiam-se em
        semelhanças espúrias, falsas relações de causa e
        efeito, etc. Ou seja, presumem-se desde o começo
        influências inexplicáveis e relações entre coisas
         não comprovadas por investigação. (Se você
        pisar numa fenda da calçada sem dizer a palavra mágica,
        sua mãe irá sofrer uma fratura; comer folhas em forma
        de coração faz bem a doentes do coração; expor o
        corpo a luz vermelha aumenta a produção de sangue; os
        carneiros machos são agressivos, portanto quem nasça
        sob o signo do Carneiro será agressivo; os peixes são
        "alimento do cérebro", porque sua carne se
        parece com tecido cerebral, etc.) 
        A pseudociência
        fia-se grandemente em pensamenos anacrônicos.  
        Quanto mais velha a idéia, mais atraente se torna à
        pseudociência  é a sabedoria dos antigos! --
        principalmente se a idéia for claramente errada e tiver
        sido há muito descartada pela ciência. Muitos
        jornalistas têm dificuldade em compreender este ponto.
        Um repórter típico, ao escrever sobre astrologia,
        talvez ache que possa realizar um trabalho bem feito
        entrevistando seis astrólogos e um astrônomo. O
        astrônomo diz que é tudo bobagem; os seis astrólogos
        dizem que é uma ótima coisa, e que, por cinqüenta
        dólares, terão prazer em confeccionar o horóscopo de
        qualquer um. (Sem dúvida!) Para muitos editores e seus
        leitores, isto confirmaria a astrologia por seis votos
        contra um! 
        A tabela seguinte
        contrasta algumas caraterísticas da ciência e da
        pseudociência. 
        
            
                Ciência 
                 | 
                Pseudociência 
                 | 
             
            
                | Suas descobertas são
                comunicadas principalmente por meio de
                periódicos científicos, que são revisados por
                colegas e mantêm padrões rigorosos de
                honestidade e acurácia. | 
                A literatura visa o público
                em geral. Não há revisão, padrões,
                verificação que preceda a publicação, nem
                exigência de precisão e acurácia. | 
             
            
                | Exigem-se resultados
                reproduzíveis; os experimentos devem ser
                descritos de forma precisa, para que se possa
                repeti-los à exatidão ou melhorá-los. | 
                Não se consegue reproduzir
                ou verificar os resultados. Os estudos, quando os
                há, são descritos de modo tão vago, que se
                torna impossível descobrir o que foi feito ou
                como foi feito. | 
             
            
                | Buscam-se e estudam-se as
                falhas atentamente, pois teorias incorretas
                amiúde levam a conclusões corretas, mas nenhuma
                teoria correta leva a predições incorretas. | 
                As falhas são desprezadas,
                desculpadas, escondidas, falsificadas,
                amenizadas, racionalizadas, esquecidas, evitadas
                a todo custo. | 
             
            
                | Com o passar do
                tempo, mais e mais se aprende sobre os processos
                físicos em estudo. | 
                Nunca nenhum fenômeno ou
                processo físico é descoberto ou estudado.
                Nenhum progresso é feito; nada de concreto é
                aprendido. | 
             
            
                | Convence pelo apelo à
                evidência, por argumentos fundados em
                raciocínio lógico e/ou matemático, procurando
                extrair a melhor informação que os dados
                permitam. Quando evidência mais recente
                contradiz idéias antigas, estas são
                descartadas. | 
                Convence apelando à fé e à
                crença. A pseudociência tem um forte componente
                quase-religioso: tenta converter, não convencer.
                Você deve acreditar apesar dos fatos, não por
                causa deles. Nunca se abandona a idéia original,
                qualquer que seja a evidência. | 
             
            
                Não defende ou
                comercializa práticas ou produtos não
                comprovados. 
                 | 
                Parte ou a totalidade de sua
                renda provém da venda de produtos duvidosos
                (tais como livros, cursos, suplementos
                dietários), e/ou serviços pseudocientíficos
                (tais como horóscopos, leituras de
                personalidade, mensagens de espíritos e
                previsões). | 
             
         
        Poder-se-ia
        expandir grandemente esta tabela, pois a ciência e
        pseudociência são modos diametralmente opostos de
        enxergar a natureza. A ciência confia  e insiste
         em no auto-questionamento, na testagem e no
        pensamento analítico, o que torna difícil enganar-se ou
        esquivar-se de enfrentar os fatos. A pseudociência, por
        outro lado, preserva as formas de pensar antigas,
        naturais, irracionais e não objetivas  que são
        centenas de milhares de anos mais velhas que a ciência
         processos mentais que deram origem a
        superstições e outras idéias fantasiosas e errôneas
        sobre o homem e a natureza  que vão desde o vudu
        até o racismo; deste a Terra plana até o Universo em
        forma de casa com Deus no sótão, Satã no porão e o
        homem no térreo; desde as danças da chuva até torturar
        e brutalizar os mentalmente enfermos para expulsar os
        demônios que os possuem. A pseudociência encoraja as
        pessoas a acreditar naquilo que quiserem. Fornece
        "argumentos" plausíveis para enganar-se a si
        mesmo até achar que toda e qualquer crença é
        igualmente válida. A ciência começa dizendo: vamos
        esquecer o que achamos que seja, e tentar, mediante
        investigação, descobrir o que realmente é. Estes
        caminhos não se cruzam e conduzem a direções
        totalmente opostas. 
        Alguma confusão
        sobre este ponto origina-se daquilo que chamamos de
        "encruzilhada". "Ciência" não é um
        distintivo honorário para se ostentar, é uma atividade
        que se exerce. Ao cessar tal atividade, deixa-se de ser
        cientista. Uma desoladora quantidade de pseudociência é
        gerada por cientistas bem treinados num certo campo, que
        se aventuram noutro em que são ignorantes. O físico que
        alega ter descoberto um novo princípio biológico 
        ou o biólogo que alega ter descoberto um novo princípio
        da física  quase invariavelmente estão praticando
        pseudociência. Também a praticam aqueles que falsificam
        dados, ou suprimem dados que conflitam com suas
        preconcepções, ou recusam-se a permitir que outros
        vejam seus dados para avaliação independente. A
        ciência é como um alto cume de integridade intelectual,
        imparcialidade e racionalidade. O cume é escorregadio, e
        é preciso um esforço tremendo para manter-se próximo a
        ele. O relaxamento carrega-nos embora, em direção à
        pseudociência. Algumas pseudociências são produzidas
        por indivíduos com pequeno grau de treinamento
        científico ou técnico, que não são cientistas
        profissionais, nem compreendem a natureza do
        empreendimento científico  porém consideram-se
        "cientistas". 
        Poder-se-ia
        perguntar se não há exemplos de
        "encruzilhadas" na direção oposta, isto é,
        pessoas que os cientistas consideravam como praticantes
        de pseudociência, mas acabaram sendo aceitos como
        praticantes de ciência válida, com idéias que acabaram
        sendo aceitas pelos cientistas. Pelo que acabamos de
        expor, seria de esperar que isto ocorresse
        raríssimamente, ou mesmo nunca. De fato, nem eu nem
        nenhum colega abalizado por mim questionado sobre o
        assunto conhecemos um único caso em que isto haja
        ocorrido durante as centenas de anos em que o método
        científico pleno passou a ser conhecido e empregado
        pelos cientistas. Há muitos casos em que um cientista é
        visto como equivocado por seus colegas, mas posteriormente
         quando surgem novas informações  mostra-se
        que estava certo. Como todo mundo, os cientistas também
        têm palpites de que algo é possível, sem dispor de
        evidência suficiente para convencer seus colegas de que
        estão certos. Estas pessoas não são pseudocientistas,
        a menos que continuem a defender suas idéias mesmo
        quando as evidências em contrário se acumulem. Errar ou
        enganar-se é inevitável, pois somos todos humanos, e
        todos cometemos erros e falhas. Os verdadeiros cientistas
        mantêm-se alertas quanto à possibilidade de falhas e
        são rápidos em corrigir seus erros. Os pseudocientistas
        não o são. De fato, uma definição abreviada de
        pseudociência é: "um método para desculpar,
        defender e preservar erros." 
        A pseudociência
        freqüentemente parece a pessoas educadas e racionais por
        demais desprovida de sentido e absurda para ser perigosa,
        e uma fonte de divertimento mais que de medo.
        Infelizmente, esta não é uma atitude sensata. A
        pseudociência pode ser extremamente perigosa.  
        Ao penetrar em
        sistemas políticos, justifica atrocidades em nome da
        pureza racial. Ao penetrar no sistema educacional, pode
        expulsar a ciência e o bom-senso. No campo da saúde,
        ela condena milhares a morte ou sofrimento
        desnecessários. Ao penetrar na religião, gera
        fanatismo, intolerância e guerra santa. Ao penetrar nos
        meios de comunicação, pode dificultar o acesso dos
        eleitores a informações concretas sobre questões
        públicas importantes. 
        Leituras Recomendadas
        
            - Science and Unreason, D. & M. Radner,
                Wadsworth, California, 1982. 
 
            - Exploring the Unknown, Charles J. Cazeau &
                Stuart D. Scott, Jr., Plenum, New York, 1979. 
 
            - Fact, Fraud and Fantasy, Morris Goran, A. S.
                Barnes, New Jersey, 1979. 
 
            - Flim-Flam! By James Randi, Prometheus, NAmherst,
                N.Y., 1982. 
 
            - How to Think about Wierd Things: Critcal Thinking
                for a New Age, Theodore Schick, Jr., Lewis
                Vaughn, Mayfield, Mountain View, Calif., 1995. 
 
            - Paranormal Borderlands of Science, Ed. by
                Kendrick Frazier, Prometheus, Amherst, N.Y.,
                1981. 
 
            - Science Confronts the Paranormal, Ed. by Kendrick
                Frazier, Prometheus, Amherst, N.Y., 1985. 
 
            - Science, Good, Bad and Bogus, Martin Gardner,
                Prometheus, New York, 1981; Avon, New York, 1982.
            
 
            - Science and the Paranormal, Ed. by George O.
                Abell and Barry Singer, Scribners, New York,
                1981. 
 
            - Extrasensory Deception, Henry Gordon, Prometheus,
                Amherst, N.Y.,1987. 
 
            - Pseudoscience and the Paranormal, Terence Hines,
                Prometheus, Amherst, N.Y., 1988. 
 
         
        
            - ________________________ 
 
            -   
 
            - O Dr. Coker é professor de física na Universidade
                do Texas em Austin. 
 
         
        Quackwatch em
        português 
        Este artigo foi
        publicado originalmente em 30 de maio de 2001.  
        Tradução publicada em
        4 de julho de 2002.  
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