Pacto de Almas
A NESTOR VITOR
Por devotamento e admiração
(12 de outubro de 1897)
I
PARA SEMPRE
Ah! para sempre! para sempre! Agora
Não nos separaremos nem um dia...
Nunca mais, nunca mais, nesta harmonia
Das nossas almas de divina aurora.
A voz do céu pode vibrar sonora
Ou do Inferno a sinistra sinfonia,
Que num fundo de astral e melancolia
Minha alma com a tua alma agora chora.
Para sempre está feito o augusto pacto!
Cegos seremos do celeste tacto,
Do Sonho envolto na estrelada rede,
E perdidas, perdidas no Infinito
As nossas almas, no clarão bendito,
Hão de enfim saciar toda esta sede...
II
LONGE DE TUDO
E livres, livres desta vida vã matéria,
Longe, nos claros astros peregrinos
Que havemos de encontrar os dons divinos
E a grande paz, a grande paz sidérea.
Cá nesta humana e trágica miséria,
Nestes surdos abismos assassinos
Teremos de colher de astros destinos
A flor apodrecida e deletéria.
O baixo mundo que troveja e brama
Só nos mostra a caveira e só a lama,
Ah! só a lama e movimentos lassos...
Mas as almas irmãs, almas perfeitas,
Hão de trocar, nas regiões eleitas,
Largos, profundos, imortais abraços!
III
ALMA DAS ALMAS
Alma das almas, minha irmã gloriosa,
Divina irradiação do Sentimento,
Quando estarás no azul deslumbramento,
Perto de mim, na grande Paz radiosa?!
Tu que és a lua da Mansão de rosa
Da Graça e do supremo encantamento,
O círio astral do augusto Pensamento
Velando eternamente a Fé chorosa;
Alma das almas, meu consolo amigo,
Seio celeste, sacrossanto abrigo,
Serena e constelada imensidade;
Entre os teus beijos de etereal carícia,
Sorrindo e soluçando de delícia,
Quando te abraçarei na Eternidade?!