Publicado no Jornal O DIA em 09/07/2001.
Abraço de fé sob suspeita
Delegacia de Repressão a
Entorpecentes investiga grupo de evangélicos fotografados
com o chefe do tráfico na Vila Vintém
Pastores e evangelistas fotografados ao
lado de Celso Luís Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém,
terão que explicar na polícia que tipo de relação
mantêm com um dos traficantes mais procurados do Rio. A
determinação para que a Delegacia de Repressão
a Entorpecentes (DRE) chame os religiosos para depor foi dada
pelo chefe de Polícia Civil, delegado Álvaro Lins,
com base na reportagem Pacto com o Diabo, publicada ontem no
DIA.
No retrato encontrado, no início do
ano, em um bunker do traficante, na Vila Vintém, em
Bangu, na Zona Oeste, aparecem os evangelistas Deoclécio
dos Santos, Luiz Carlos Leite, o pastor Marcos Batista e o
cantor evangélico Ricardo da Silva, que é ligado
ao subsecretário estadual de Gabinete Civil, pastor
Everaldo Dias Pereira, que em entrevista gravada disse que o
cantor trabalhava na Secretaria de Fazenda.
Assessores da Secretaria informaram,
ontem, que Ricardo da Silva era inspetor de alunos na Secretaria
de Educação, mas desde setembro de 1999 estava
emprestado à Fazenda. Na foto, o cantor evangélico
aparece entre Celsinho da Vila Vintém e seu gerente no tráfico,
Genivaldo Batista da Rocha, o Vadinho. O retrato foi tirado em
uma das casas da favela em 2 de outubro de 1995. Onze meses
antes, Celsinho escapara do Presídio Milton Dias Moreira,
no Complexo Frei Caneca.
Pastores poderão ter o sigilo bancário
quebrado
De acordo com o delegado Álvaro
Lins, os pastores serão chamados para depor na DRE. As
investigações sobre a relação dos
religiosos com o traficante podem resultar na quebra do sigilo
bancário e telefônico dos evangélicos. "Há
alguns inquéritos sobre as ramificações de
Celsinho da Vila Vintém em andamento na DRE. Por isso, a
especializada também passará a investigar a relação
desses pastores com o traficante", disse.
A Polícia Federal e o Conselho de
Controle de Atividades Financeiras (Coafi), órgão
ligado ao Ministério da Fazenda, investigam a relação
de missões religiosas com a lavagem de dinheiro do
narcotráfico no País. Para legalizar os lucros
obtidos pelos traficantes com a venda de drogas, algumas missões
depositam em suas contas os recursos como se fossem provenientes
de contribuições de fiéis.
