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ANTONIETA ARAÚJO
QUERIA SER
Queria ser minha alma
Mansa como um riacho,
Fluindo cheio de calma
Por solo alto ou baixo.
Se ele fosse passar
Por sendas de limo cheias,
Seria só sem manchar
O asseio das areias.
Alcançaria a planície
Sem sentir simples bulício,
Subindo à superfície
No sossego do início
Semearia a vida,
Ofertando a umidade
À margem toda florida,
Com sábia intensidade.
Que seus peixes trouxessem
Para si as níveas garças
E as outras que viessem
Em bandos ou só esparsas.
Sendo límpido espelho
Das
constelações sulinas
Seguiria
o seu conselho
Pelos
vales e colinas.
Ouviria o doce canto
Das aves dentro dos ninhos
Como suave acalanto
Nos arbustos ribeirinhos
Não
deixaria sofrer
A
sede tão crucial
A
quem quisesse beber
Do
puro manancial.
De acácia mais nobre
Teria sóbrias pontes
Onde andassem rico e pobre
Por cima de suas fontes.
Seus
vapores formariam
Grossas
nuvens imensas
Que
à terra tornariam
Em
forma de chuvas densas.
Transbordaria
os lagos
Do lugar em que nasceu,
Reverdeceria os pagos
Que um dia conheceu
Cumpriria
o trajeto
No
suave chão natal
Que
lhe merece o afeto
Estado
do Pantanal
Fitaria com orgulho
Sua natura pujante
Antes de dar um mergulho
Tranqüilo e triunfante,
Sentindo
que vale a pena,
Mesmo
por entre fráguas,
De
maneira tão serena
Ir
levando suas águas
LAGOA DE CRISTAL
Diante
do fulgor de suas águas
Já surgiram inúmeros poetas,
Cantando-lhe em versos ternas mágoas,
Sem ocultar-lhe as dores mais secretas.
Talvez
nem percebessem a grande frágua
Do sol ferindo-lhes a face como setas
Nem a suave chuva que enxágua
O fio de densas lágrimas concretas.
Somente
quando a noite traz magia
Das estrelas com o lindo luar,
Desce dos céus a triste nostalgia.
E
a doce inspiração faz retornar
Sobre a lagoa que se enche de poesia
Para a bela lua se mirar.