MÚSICA

No outro dia estava no cabeleireiro e ouvi algumas mulheres se queixando porque não havia mais em seus casamentos o romance, as centelhas e a animação dos primeiros anos.
Não havia mais arrebatamento, nem emoção.
Uma delas dizia: A vida é assim mesmo. O tempo passa. As coisas mudam.
- Queria ter aquela química de volta - uma outra disse.
Tenho inveja dos jovens apaixonados. Violinos e fogos de artifício.
Lembrei os primeiros tempos do meu próprio e especial romance, quando eu mais flutuava do que andava.
Nunca tinha fome e muitas vezes me esquecia de comer.
Meu cabelo brilhava e minha pele era lisinha e eu era educada, simpática e estava sempre bem-humorada.
Quando meu amor e eu estávamos longe um do outro, eu passava cada minuto pensando nele. A vida era composta de maravilhosos sobressaltos, um atrás do outro: quando será que o telefone iria tocar, será que ele apareceria de surpresa na minha casa ou quando nossas mãos iriam esbarrar por acaso.
Agora, este é o homem que, hoje, só se lembra do nosso aniversário de casamento de cinco em cinco anos...que dificilmente fecha a porta ou a gaveta do armário da cozinha que acabou de abrir... que resiste a comprar roupas novas até que eu, às escondidas, me livre de algumas coisas do armário para preservar a dignidade da família.
Eu não diria que ele é previsível, mas ele pergunta "O que você fez para o almoço?" seis dias na semana, depois de termos concordado, desde sua aposentadoria, que cada um cuidaria da própria comida na hora do almoço.
Ele só gosta de filmes ou programas de tevê se nele há perseguições de carros, explosões ou tiroteios a cada sete minutos e, naturalmente, sempre num volume de estourar os tímpanos.
É incapaz de falar em voz baixa ou fechar a porta da frente sem fazer estremecer a casa.
Mas... Este é também o homem que, quando eu decido fazer dieta, diz: "Por quê? Para mim, você está bem."
Que se levanta numa noite fria para apanhar mais um cobertor porque sabe que estou com frio.
Que me deu um colar maravilhoso pelo meu aniversário depois de eu ter pedido um agasalho para caminahr.
Ele tem mais dignidade no dedo mindinho do que qualquer outra pessoa que eu conheço tem no corpo inteiro.
Há pouco tempo, contou com orgulho aos meus parentes que eu me ocupei das despesas quando ele estava no início de carreira e o dinheiro era curto - isso trinta e quatro anos depois do acontecido.
É um homem que, apesar de sua frugalidade causada pelas épocas de vacas magras, empresta grandes quantias a nossos filhos adultos sem hesitar, sem prazo e sem cobrar juros.
Pode-se sempre contar com ele numa crise - calmo, racional, forte, justo e amoroso.
Durante todos esses anos, ele esteve ao meu lado, me abraçando e apoiando: quando minha mãe morreu, durante os partos dos nossos filhos e quando eu fiquei doente de cama.
Meu marido tomou conta do meu coração desde a primeira vez que o vi.
Outro dia fiquei me lembrando das mulheres no cabeleireiro enquanto esperava no carro por ele, que tinha ido do outro lado da rua dar um recado.
O que vi na calçada foi um homem magro, bem apessoado e forte.
Sua cabeça estava abaixada e ele caminhava, com as mãos no bolso, assobiando.
Muito atraente. Ele levantou a cabeça e sorriu. Zing!
O pai de meus filhos. O outro nome no meu talão de cheques.
O homem por quem me apaixonei.
História e química. Não há nada melhor.

E. Lynne Wright

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