Injustamente ignorado das primeiras páginas dos jornais, afastado da abertura dos noticiários televisivos e, perante a imperdoável distracção da comissão organizadora do Porto - 2001, teve lugar no dia 19 o baptizado do menino Dinis de Santa Maria Miguel Gabriel Rafael Francisco João de Bragança. A princípio eu próprio julguei tratar-se duma lista donde os padrinhos escolhessem o nome mais bonito. Só quando percebi que todos os nomes passavam a ser propriedade do novo cristão, me dei conta da relevância do evento, abrilhantado, aliás, pelo Senhor Bispo do Porto, numerosos membros do cabido, proeminentes plebeus e piedosas senhoras da melhor sociedade.
Foi com alguma emoção que soube libertado dos riscos do limbo o pequeno Dinis através da água do rio Jordão , embora eu preferisse por razões bacteriológicas a dos Serviços Municipalizados do Porto depois de convenientemente benzida. Escreveu Augusto Abelaira que o homem é o único animal que distingue a água benta da outra, mas nada referiu sobre a diferença da água captada no rio Jordão ou na bacia hidrográfica do Douro. Certo, certo, é que o menino ficou mais puro, liberto que foi do pecado original que carregava desde o dia 25 de Novembro do ano que finou.
Felicito os patrocinadores e as piedosas pessoas que contribuíram com mais de 6 mil contos para tão auspiciosa festa. Apenas temo, por se tratar duma virtude, que ao preço elevado a que ascendeu o primeiro sacramento possam tornar-se incomportáveis os primeiros vícios. No entanto, estou certo que as excelsas senhoras, que ora acompanharam piedosamente o neófito no caminho da virtude, o não abandonarão com a sua solicitude no primeiro pecado.
Alfredo Carlos Barroco Esperança
Coimbra, 19 de Fevereiro de 2000
Nota: esta carta de leitor foi publicada no Diário «As Beiras».