Senhor
Director:
A entrevista de Mariana
Cascais (MC) ao Diário de Notícias de 8 de Fevereiro é mais um libelo
contra a sexualidade do que o programa de quem tutela a Educação Sexual (ES)
nas escolas.
A secretária de Estado é
amiga do peito e da missa dos mais sólidos guardiões da moral e dos bons
costumes que, a partir do CDS, se esforçam por manter vivo o concílio de Trento
e actual o espírito da contra-reforma.
MC aceitou integrar o
Governo convicta de que «a religião católica é a religião oficial do Estado»,
advertindo disso os deputados. A amarga desilusão de quem passou o tempo a
estudar catecismo e deu pouca atenção à Constituição não lhe arrefeceu o ímpeto
de lutar pela promoção da virtude e prevenção do vício.
Quando afirma que «se eu
quisesse não havia educação sexual», percebe-se que a sexualidade é para a pia
governante o que o toucinho é para Maomé, uma coisa abominável, que compromete
a salvação da alma. Assim, não é de admirar que tenha dificuldade em aceitar a
ES que não exalte a castidade e que não lhe pareça errado que «a fidelidade é
um meio de prevenir a sida».
Depois de ler a referida
entrevista veio-me à memória Frei Gaspar da Encarnação a quem Camilo chamou
«uma santa besta». Claro que não me atreveria a usar semelhante epíteto para
tão devota criatura, por três razões: primeiro, porque é uma senhora, depois,
porque posso ser injusto, e, finalmente, porque ela pode não ser santa.