![]() Primeiro-ministro de Portugal desde 1995, António Manuel de Oliveira Guterres nasceu a 30 de Abril de 1949 na freguesia de Santos-o-Velho, em Lisboa. Filho de Ilda Cândida dos Reis Oliveira Guterres e de Virgílio Dias Guterres - um funcionário superior da Companhia do Gás e Electricidade de Lisboa -, António viveu a sua infância entre a capital e a terra natal da mãe, Donas, na Beira Baixa. Desde cedo o bebé Guterres demonstrou grande capacidade intelectual. Aos quatro anos, por ímpeto de uma tia, António aprende a ler e a escrever e chora quando as histórias infantis não têm um fim feliz. A caminho das Beiras, soletra as estações e apeadeiros por onde o comboio vai passando e deixa os passageiros estupefactos. À chegada, se encontra o padre Alfredo, que o baptizara, apressa-se a perguntar: "Como vai o senhor prior? A sua mãe e o seu pai estão bem?". Estava ainda longe de imaginar os problemas que viria a enfrentar devido à sua devoção católica. Aluno brilhante, António Guterres termina a Escola Primária no pódio e ingressa no Liceu de Camões, onde disputa a liderança da turma com Luís Miguel Cintra. Um dia, numa aula, o professor de matemática complica uma equação que apenas Guterres consegue resolver. "Olhe que você ainda há-de chegar a ministro de Portugal", disse-lhe o docente. No fim do sétimo ano, ganha interesse pela Física que afirma ter sido a sua "paixão platónica" e acaba o curso liceal com média de 18 valores. O feito chama sobre ele a atenção da "Opus Dei", que o recruta. Guterres aceita "sem fazer a mínima ideia" do que se tratava. Em 1965, chega ao Instituto Superior Técnico sob o desígnio de raridade. Afinal, tinha saído do Liceu com o prémio nacional de melhor aluno do ano, apenas ombreado por José Tribolet, que acabara o liceu com 20 valores, mas no Colégio Militar. Dedicado ao estudo e à família, António Guterres acompanha a mãe nas idas à missa e às novenas e era um "habitué" nos convívios da Juventude Universitária Católica. Nos tempos conturbados da segunda metade da década de 60, manteve-se sempre à parte da agitação, nunca participando nas manisfestações estudantis. Pensava na carreira e estudava. Em tempos de Estado Novo, nunca pisou o risco. Profundamente marcado pela educação católica, em grande parte inspirada por sua mãe, torna-se presidente do Centro Social Universitário e vive as misérias de bairros como a Curraleira ou a Quinta da Calçada. Curiosamente foram estas vivências e o choque da injustiça social que despertaram Guterres e o lançaram no panorama político português. Licencia-se em Engenharia Electrotécnica, em 1971, com a classificação final de 19 valores. Envolve-se nas discussões religiosas e sociais do "Grupo da Luz" - onde militam nomes como Helena Roseta, Marcelo Rebelo de Sousa, António Tavares e Victor Sá Machado - e onde conhece o padre Vítor Melícias, que em 1972 celebra o seu casamento com Luísa Melo. Dois anos mais tarde, pela mão de António Reis, Guterres filiava-se no Partido Socialista. Desencantado com o sistema e atraído pelos ideais socialistas de Marx, abandona a carreia universitária - era então regente das disciplinas de Teoria de Sistemas e Sinais de Telecomunicações no Técnico - e dedica-se à política. No pós 25 de Abril, na companhia de Manuel Alegre dinamiza a FAUL (Federação Distrital do Partido em Lisboa), cola cartazes, anda pelos comícios e está, pela primeira vez, na frente da tropa de rua do PS. São os velhos maçons do "Restelo" socialista, que em 1976 levantam dúvidas em relação aos ideiais de Guterres. Acusam-o de estar ligado ao "Opus Dei" e a sua veia católica causa mau-estar no seio de um partido laico. Factos que dão aso às exclamações de Mário Soares - "Ainda se não fosse à missa!…" - e a longas horas de conversa com o deputado-poeta. Mas a escalada de António Guterres no cerne do Partido Socialista havia já começado. A amizade com Salgado Zenha, ministro das Finanças de então, conduziu-o à chefia de gabinete. A dedicação dos tempos universitários mantêm-se inabalável e Guterres coordena o grupo de trabalho que elaborou o documento "10 anos para mudar Portugal - Programa do Partido Socialista para os anos 80", apresentado do congresso de 1979. No ano seguinte, bate o pé a Soares, que recusava o apoio à recandidatura do general Ramalho Eanes, e abandona o parlamento alinhando ao lado Zenha, Vítor Constâncio e Jorge Sampaio no grupo do ex-Secretariado. Divergências sanadas, e com Soares já em Belém, foi membro da Comissão de Integração Europeia (Comissão Negociadora da adesão de Portugal à Comunidade Europeia) e director de Desenvolvimento Estratégico do Investimento e Participação de Estado. Em 1988, torna-se presidente do Grupo Parlamentar do PS e um ano mais tarde entra para o Conselho de Estado. A década de 90 começa mal para as apirações socialistas, com Cavaco Silva a renovar a permanência dos socias-democratas no poder. Guterres considera ter chegado a hora da sua afirmação e no Congresso de Fevereiro de 1992 ganha a liderança do partido a Jorge Sampaio, apesar da cisão interna não lhe perspectivar um futuro áureo. Empenha-se, então, nas legislativas de 1995. Engenheiro solitário num projecto em que poucos socialistas pareciam acreditar, põe fim a dez anos de cavaquismo e pinta, quase absolutamente, a maioria dos distritos nacionais de rosa. Já como primeiro-ministro aplica-se na construção de um Governo aberto, marcado pelo "diálogo" entre as várias forças políticas e por paixões como a da educação. A verdadeira paixão, a sua esposa Luísa Guterres, morre em Janeiro de 1998. Em Outubro de 1999 volta a ser eleito pelos portugueses e quase simultaneamente assume a presidência da Internacional Socialista.
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