RESPIRAÇÃO HUMANA - Tese de Doutorado - Simão da Cunha Pereira - 1847

 

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por motivos comprobatórios, deve-se aceitar a da existência livre do ácido, o que aliás melhor se casa com a explicação dos fatos.

Falta ainda decidir uma questão, e de grande momento, para o perfeito conhecimento da sangüificação, e é se a dissolução pura e simples do oxigênio, acompanhada da descarbonização deste, a efetua ou não. A segunda suposição, isto é, a negativa, é que dever ser aceita atendendo-se a importantes experiências sobre o sangue feitas por Dumas e por ele publicadas, não há muito, em uma instrutiva memória.

Destas experiências se deduz que a dissolução do oxigênio no sangue é a primeira, mas não a mais importante parte da hematose, que só se completa pela íntima combinação desse gás com os princípios sólidos do sangue, determinada por afinidades químicas.

Na experiência, que é longa, praticada com o fim de obter inalterados e puros os glóbulos sangüíneos, ele viu que o sulfato de soda não os podia dissolver, enquanto conservavam o estado arterial, durante o qual eles se comportam como se fossem entes verdadeiramente vivos.

Era-lhes necessário conservar-lhes este estado, e conseguiu-o, submetendo-os à influencia continuada do ar: igualmente viu que os glóbulos do sangue venoso tomavam debaixo da influência do ar as propriedades arteriais, fazendo-se vermelhos rutilantes; e que neste fenômeno nem a albumina nem a fibrina é indispensável, pois que substituindo-se gradativamente no sangue, já privado da fibrina, o soro por uma dissolução do sulfato sódico, os glóbulos não se tornam menos vermelhos. A vista disto pode-se afirmar, senão com toda a segurança, ao menos com muita probabilidade, que o verdadeiro fim da respiração é, como diz Dumas, fornecer oxigênio aos glóbulos sangüíneos, e expelir os produtos em que eles se convertem; e que a matéria colorante do sangue é sobretudo própria para tomar a cor característica do arterial, quando se une aos glóbulos de que faz parte, propriedade que se modifica ou se perde na destruição ou alteração dos glóbulos. Esta matéria colorante vermelha é por Muller chamada hematina, e contém-se no interior das celular sangüíneas, formadas pela membrana parietal, dentro das quais celular acha-se ela talvez unida à globulina, que também supõe-se fazer parte da parietal. É justamente da combinação do oxigênio com esta hematina que provém a cor rutilante que toma o sangue, quando se arterializa; resultando igualmente o aparecimento de ácido carbônico. Estes fatos foram averiguados por Muller nas suas experiências sobre a dita hematina obtida perfeitamente pura.

Cabe ainda indagar, antes de ser fechado este trabalho, a sede da formação do ácido carbônico. Do estudo das diversas teorias da hematose infere-se que ele seguramente não provêm de uma fonte única. Com efeito, podem dar-lhe origem a decomposição de matérias orgânicas do sangue nos pulmões, a dos bicarbonatos