Navalha de Ockham
Sara Bizarro

A "Navalha de Ockham", também conhecida como o princípio da parcimónia, é uma máxima que valoriza a simplicidade na construção das teorias. A formulação mais comum desta máxima é (em Latim): Entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem, (As entidades não devem ser multiplicadas sem necessidade). Esta formulação é frequentemente atribuída a Guilherme de Ockham embora ela não se encontre em nenhum dos seus escritos conhecidos. A frase de Ockham mais próxima desta máxima é (em Latim): Frustra fit per plura quod potest fieri per pauciora, (É vão fazer com mais o que se pode fazer com menos). É, no entanto, defensável que Ockham se estava a referir a uma máxima bastante conhecida visto que o princípio da parcimónia pode até ser encontrado em Aristóteles. Pensa-se assim que esta máxima foi associada a Ockham não por ter sido ele o primeiro a utiliza-la, mas por causa do espírito geral das suas conclusões filosóficas.

Ockham é conhecido por afirmar que a doutrina segundo a qual os universais têm uma existência real é o "maior erro da filosofia". Por esse motivo ele é chamado de "o pai do nominalismo". Ockham defende que um universal só pode ser um signo, uma palavra ou um conceito mental que está em vez de um número indefinido de objectos, mas que não tem qualquer denotação, não representa nenhuma entidade real. A atribuição de categorias universais a objectos não era no entanto considerada como arbitrária, visto que Ockham defendia a existência de uma capacidade de abstracção (conceptualismo) e confiava, em geral, nas capacidade humanas envolvidas no processo de obtenção do conhecimento (fiabilismo). Nos seus argumentos "nominalistas" Ockham usava o princípio da parcimónia para eliminar categorias de entidades que ele considerava pseudo - explicativas, como por exemplo a noção de "espécie". Esta sua atitude indicava a sua preferência por uma ontologia económica e explica a atribuição que se lhe faz do princípio da parcimónia.

O princípio da parcimónia pode ser considerado como um princípio ontológico ou como um princípio metodológico e os parâmetros de simplicidade requeridos podem variar entre o tipo e o número de entidades a serem admitidas. Como princípio metafísico ou ontológico a "navalha de Ockham" diz-nos que devemos acreditar no menor número possível de tipos de objectos. Como princípio metodológico a "navalha de Ockham" diz-nos que qualquer explicação deve apelar ao menor número possível de factores para explicar o facto em análise. Embora o princípio de simplicidade seja, em geral, seguido pela ciência contemporânea, pode dizer-se que algumas teorias físicas mais especulativas seguem hoje um princípio que pode ser chamado de "anti-navalha", segundo o qual "quando menos entidades não são suficientes, postulam-se mais!"

Referências:

Marilyn McCord Adams, Wiliam Ockham, 2 vols, Notre Dame, 1987

Sara Bizarro
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