A "Navalha de Ockham", também conhecida
como o princípio da parcimónia, é uma máxima que valoriza a simplicidade
na construção das teorias. A formulação mais comum desta máxima é
(em Latim): Entia non sunt multiplicanda praeter necessitatem,
(As entidades não devem ser multiplicadas sem necessidade). Esta
formulação é frequentemente atribuída a Guilherme de Ockham embora
ela não se encontre em nenhum dos seus escritos conhecidos. A frase de
Ockham mais próxima desta máxima é (em Latim): Frustra fit per
plura quod potest fieri per pauciora, (É vão fazer com mais o que
se pode fazer com menos). É, no entanto, defensável que Ockham se
estava a referir a uma máxima bastante conhecida visto que o princípio
da parcimónia pode até ser encontrado em Aristóteles. Pensa-se assim
que esta máxima foi associada a Ockham não por ter sido ele o primeiro
a utiliza-la, mas por causa do espírito geral das suas conclusões
filosóficas.
Ockham é conhecido por afirmar que a doutrina
segundo a qual os universais têm uma existência real é o "maior
erro da filosofia". Por esse motivo ele é chamado de "o pai
do nominalismo". Ockham defende que um universal só pode ser um
signo, uma palavra ou um conceito mental que está em vez de um número
indefinido de objectos, mas que não tem qualquer denotação, não
representa nenhuma entidade real. A atribuição de categorias
universais a objectos não era no entanto considerada como arbitrária,
visto que Ockham defendia a existência de uma capacidade de
abstracção (conceptualismo) e confiava, em geral, nas capacidade
humanas envolvidas no processo de obtenção do conhecimento
(fiabilismo). Nos seus argumentos "nominalistas" Ockham usava
o princípio da parcimónia para eliminar categorias de entidades que
ele considerava pseudo - explicativas, como por exemplo a noção de
"espécie". Esta sua atitude indicava a sua preferência por
uma ontologia económica e explica a atribuição que se lhe faz do
princípio da parcimónia.
O princípio da parcimónia pode ser considerado como
um princípio ontológico ou como um princípio metodológico
e os parâmetros de simplicidade requeridos podem variar entre o tipo
e o número de entidades a serem admitidas. Como princípio
metafísico ou ontológico a "navalha de Ockham" diz-nos que
devemos acreditar no menor número possível de tipos de
objectos. Como princípio metodológico a "navalha de Ockham"
diz-nos que qualquer explicação deve apelar ao menor número
possível de factores para explicar o facto em análise. Embora o
princípio de simplicidade seja, em geral, seguido pela ciência
contemporânea, pode dizer-se que algumas teorias físicas mais
especulativas seguem hoje um princípio que pode ser chamado de
"anti-navalha", segundo o qual "quando menos entidades
não são suficientes, postulam-se mais!"
Referências:
Marilyn McCord Adams, Wiliam Ockham, 2 vols,
Notre Dame, 1987
Sara Bizarro
sarabizarro@yahoo.com