"O céu da Europa tem um novo encanto. Agradece ao homem vestido de gerbidé."
      DINO MEIRA E NE0

Os meus pais tinham um pequeno café na Damaia onde, nas férias grandes, eu passava a maior parte do tempo. Ajudava-os conforme sabia e podia (a tirar cafés, a atirar cafés, a servir às mesas, a servir de mesa, a lidar com armas automáticas e a pesar quantidades ínfimas dum produto branco a que os meus pais chamavam "açúcar")Durante os 3 meses das férias aconteciam sempre coisas mirabolantes que muito contribuíram para a formação do meu carácter e que pesaram na decisão de seguir uma carreira de vendedor ambulante de "açúcar" pelo país.
Esta é uma história, entre muitas, que marcaram a minha juventude.
Tudo aconteceu numa tarde de sábado, no Verão de 1994. Quando o artista Dino Meira, cliente habitual do café, entrou no estabelecimento. Fiquei nervoso.

EU- B-boa t-tarde... Vai tomar alguma coisa?
DINO MEIRA- Sim, queria um garoto, se faz favor...
EU- Sim, senhor... e para comer?
DINO MEIRA- Estes queques têm bom aspecto. Dê-me um...
EU- Quer portanto, um garoto queque...ahaha Não percebeu?...
DINO MEIRA- Não!
EU- Peço desculpa... É-é que eu gosto de dizer umas piadas...
DINO MEIRA- Isso era uma piada?
EU- Era... q-quer dizer... uma piadinha...
DINO MEIRA- Então dê-me antes um pastel de nata...
EU- Hã!?
DINO MEIRA- Em vez do queque...
EU- Aah... sim...sim...
DINO MEIRA- Eu estou a conhecê-lo de algum lado...
EU- É possível!
DINO MEIRA- Não é o Pedro Martins!?
EU- Sou, sim senhor...
DINO MEIRA- Quem diria, o Pedro Martins a servir-me um garoto...
EU- É verdade...
DINO MEIRA- Posso apertar-lhe a mão?
EU- Claro que sim...
DINO MEIRA- Dino Meira, um grande admirador seu...
EU- Muito prazer...
DINO MEIRA- O prazer é todo meu... Sabe eu tenho todos os seus discos...
EU- Discos? Quais discos!?
DINO MEIRA- Os da praia...
EU- Aaaah, então era o senhor que me roubava os discos da praia...
DINO MEIRA- Pois, tenho-os lá todos, sabe? E também guardo com muito carinho a sua bola de praia da chupa-chups...
EU- Mas isso já foi há muitos anos...
DINO MEIRA- Pois foi... Eu já o conheço desde que andava na escola primária...
EU- Ah, sim!? Em qual? Eu andei em duas...
DINO MEIRA- A nº1 da Buraca...
EU- A sério!? Foi onde fiz a primeira classe... Já lá vão uns bons anos...
DINO MEIRA- Uns 15... A minha mãe gostava muito de si, comprava todas as suas fraldas...
EU- É sempre bom saber que há gente que nos dá valor...
DINO MEIRA- Não se importa de me dar um autógrafo?
EU- Ora essa, com todo o gosto...
DINO MEIRA- Ponha aí, se faz favor: Para o Dino Meira, que eu atendi um dia no meu café...
EU- Sim, senhor... Pedro Martins...Aqui está...
DINO MEIRA- Não sei como lhe hei-de agradecer...
EU- Não tem nada que agradecer...
DINO MEIRA- Com isto tudo, esqueci-me de beber o garoto...
EU- Quer que eu tire outro? Esse já deve estar frio...
DINO MEIRA- Não, obrigado... Eu gosto do garoto frio...
EU- Veja lá...
DINO MEIRA- Não há problema... Não sei é se pus açúcar ou não...
EU- Tem aqui outro pacote...
DINO MEIRA- Não me fará mal? Deve ser o segundo...
EU- Faz lá agora...

E foi assim. Servi o ultimo garoto da vida de Dino Meira que nessa mesma noite acabaria por morrer de overdose em sua casa. As autoridades e a família do artista, dias mais tarde, deram como causa oficial da morte, um acidente cardiovascular.

(Dino Meira jr)