Ergastoplasma

À minha direita podemos ver o templo de Erecteu – apontava a nossa guia em um inglês quase ininteligível – Projetado por Mnésicles, começou a ser construído em 421 a.C., mas foi terminado apenas em 406 a.C, após um período de suspensão por causa da guerra contra os Medos.

Pela enésina vez, a guia teve que interromper a apresentação para explicar a um turista porque o ano de 406 a.C. vinha depois de 421 a.C. Nesse momento, eu, que já não estava a prestar a devida atenção ao passeio pela Acrópole, desliguei-me por completo dos pequenos dramas que moviam as pessoas do grupo. Não percebi que a guia havia retomado a falar sobre os detalhes pitorescos da arquitetura ateniense. Acompanhava os passos de todos mecanicamente, mas estava mais absorto em meus pensamentos.

Ergastoplasma. Foi um nome que me assombrou por muitos anos. Por causa dele não passei no vestibular. O que é ergastoplasma? – era a pergunta. O que era isso? Por que eu precisaria saber disso? Deixei a questão em branco. Perdi os pontos exatos que me deixaram fora da última chamada no curso de Arquitetura. Por que um arquiteto deveria saber do que se tratava um troço chamado ergastoplasma? Er-gas-to-plas-ma! Caramba, isso lá é nome que se dê a uma organela celular? Aliás, é nome que se dê a qualquer coisa sobre a face da Terra? Bem, talvez para xarope antiexpectorante...

Um nome complicado só poderia vir acompanhado de uma história igualmente complicada. Ergastoplasma foi apenas um dos muitos nomes que a estrutura recebera ao longo de sua tortuosa descoberta: corpúsculos basofílicos, substância cromofílica, retículo endoplasmático e substância de Nissl – todos verdadeiros trava-línguas – foram os nomes que recebeu dos cientistas a cada vez em que era redescoberto.

Após a invenção do microscópio (basicamente pela combinação de duas lentes de aumento), descobriu-se um novo mundo até então praticamente ignorado. O padre jesuíta Athanasius Kircher, por volta de 1660, estudava larvas e outros bichos crescendo em matéria orgânica em decomposição.