A selva: a visão de um imigrante português sobre o ciclo da borracha



FERREIRA DE CASTRO

Ao escolher a Amazônia como espaço de representação de seu romance, Ferreira de Castro não o fez como um absentista(12) , baseou-se na própria vivência de quatro anos num seringal localizado no rio Madeira que, coincidentemente com o topônimo dado ao local na ficção, também se chamava Paraíso. No Pórtico de abertura do romance, o autor declara: “Eu devia este livro a essa majestade verde, soberba e enigmática que é a selva amazônica, pelo muito que nela sofri durante os primeiros anos da minha adolescência e pela coragem que me deu para o resto da vida [...]”(13) . A edição comemorativa dos vinte e cinco anos de publicação da obra, em 1955, traz em “Pequena história de A selva” uma configuração maior do tom confessional que o romancista dá à criação do romance. Nesse texto, que é uma contribuição ao estudo da formação de um escritor, Ferreira de Castro expõe o quanto o contato e a experiência com a natureza amazônica impressionaram o seu espírito, impelindo-o a transformar em matéria ficcional todas as sensações de um mundo que não conseguia esquecer. Ao mesmo tempo, revela também um temor de registrar essas sensações e assim revivê-las: 

[...] durante muitos anos tive medo de revivê-la literariamente. Medo de reabrir, com a pena, as minhas feridas, como os homens lá avivavam, com pequenos machados, no mistério da grande floresta, as chagas das seringueiras. Um medo frio, que ainda hoje sinto, quando amigos e até desconhecidos me incitam a escrever memórias, uma larga confissão, uma existência exposta ao sol, que eu próprio julgo seria útil às juventudes que se encontrassem em situações idênticas às que vivi. (14)

Não obstante a recriação literária do ambiente amazônico significasse para o romancista rememorar uma experiência traumática do seu segundo decênio de vida, ele tinha convicção de que essa recriação só poderia se realizar a partir de um compromisso de fidelidade:

As selvas, fechassem elas o seu mistério nas vastidões sul-americanas ou verdejassem, mais permeáveis à luz solar, na Ásia, na África, na Oceania, representavam desde há muito, um assunto maculado literariamente. Maculado por milhentos romances de aventuras, onde a imaginação dos seus autores, para lisonjear os leitores fáceis, se permitira todas as inverossimilhanças, todas as incongruências.
Eu pretendera fugir à regra. Pretendera realizar um livro de argumento muito simples, tão possível, tão natural que não se sentisse mesmo o argumento. Um livro monótono porventura, se não pudesse dar-lhe colorido e vibração, mas honesto, onde o próprio cenário em vez de nos impelir para o sonho aventuroso, nos induzisse ao exame e, mais do que um grande pano de fundo, fosse uma personagem de primeiro plano, viva e contraditória ao mesmo tempo admirável e temível, como são as de carne, sangue e osso. A selva, os homens que nela viviam, o seu drama interdependente, uma plena autenticidade e nenhum efeito fácil – era essa minha ambição. (15).

A verossimilhança que procurou manter em relação a um mundo que fez parte de sua experiência de vida deu a Ferreira de Castro a possibilidade de ser defendido quando foi acusado de detratar a realidade amazônica.(16). 
O cosmopolitismo de Ferreira de Castro, as viagens que empreendeu a começar pela saída de Portugal ainda menino, a chegada a Belém do Pará e depois a partida para o rio Madeira, a viagem de volta ao mundo na idade adulta deram-lhe a possibilidade de conhecer diferentes países. Daí a sua obra apresentar expressões culturais tão diversas: do Brasil, e nele é preciso abrir um parêntese para a Amazônia, da Espanha, da França e de Portugal, sua terra de nascimento. Podemos deduzir que a experiência de viajante foi fundamental na construção da obra do romancista. Jaime Brasil, biógrafo do romancista,  enfatiza que “[...] sem a ida ao Brasil, na idade e nas circunstâncias em que o fez, Ferreira de Castro, embora viesse a ser um grande escritor, não teria escrito A selva [...].”(17)  Para Magalhães Júnior, A selva é um romance brasileiro pelo seu tema.(18)  Ferreira de Castro é um autor que desafia as fronteiras literárias e enseja a discussão que envolve nacionalidade e tema na literatura.(19) 
A nomeação do romance como amazônico parte do fato de que o ambiente em que se passa e a sua temática estão voltados para essa região, mas um outro fato que também deve ser levado em consideração é que esse romance tem um criador e um protagonista de nacionalidade portuguesa. Nesse ponto, a experiência de vida e a criação estão ligadas. Se, por um lado, não há impossibilidade de um romancista escrever um livro sobre um mundo que não conheceu pessoalmente, por outro, há também uma necessidade que o compele a escrever sobre um mundo que faz parte de sua experiência. Em A selva, a particularidade da experiência se confirma não somente pelas próprias palavras do autor como também porque, diferentemente do que ocorre em outro romance de sua autoria, A curva da estrada, em que a ação se passa na Espanha e é protagonizada por personagem espanhol, Ferreira de Castro criou para o romance que se passa em ambiente amazônico um protagonista português. A intenção do autor, portanto, era enfocar o ambiente amazônico pelo prisma de um imigrante. Convém destacar que o romance é documental no sentido de que o autor registrou aquilo que de fato observou , dando azo à criação do romance, não é, porém, um romance autobiográfico, pois contém mais distanciamento do que aproximação entre autor e protagonista. Um comentário do autor é esclarecedor a esse respeito: “Se é verdade que nesse romance a intriga tantas vezes se afasta da minha vida, não é menos verdadeiro também que a ficção se tece sobre um fundo vivido dramaticamente pelo seu autor[...]”(20) . Como Alberto, o protagonista, Ferreira de Castro foi enviado para o seringal. As condições que motivaram as viagens de ambos coincidem em alguns pontos, mas também se diferenciam. Foram enviados ao seringal porque tornaram-se dispendiosos, Alberto para o tio, Ferreira de Castro para o seu protetor. Alberto era um homem com convicções formadas, participara em Portugal da revolta monarquista. Ferreira de Castro, um menino pobre com intenção de escrever textos literários. Quando se trata da personalidade, nota-se uma franca oposição. Ferreira de Castro foi um humanista que não se filiou a facções políticas. (21)    Na ficção, Alberto é um monarquista que como tal defende os privilégios dessa classe, despreza  os humildes. Na terceira classe do barco onde vem a se encontrar pelas contingências da sorte a caminho do seringal, não quer se misturar aos nordestinos porque considera a natureza destes inferior. Despreza a democracia e a igualdade humana. Após um longo caminho de humilhações, sofrimento e resignação é que Alberto passa a ver a vida e os seres humanos de modo diferente, abandonando, no final da narrativa, os princípios monarquistas. A evolução por que passa o protagonista foi preferida pelo romancista que declara ter abandonado os planos de criar uma personagem estática: “[...] A personagem assim apresentada tinha idéias já formadas sobre a injusta organização do mundo em que vivia e, naturalmente, veria o mundo em que ia viver com uma atitude moral preconcebida, com um espírito apenas de confirmação, o que diminuiria, para quem não aceitasse as cores do seu horizonte, o sentimento de verdade naquilo mesmo que era verdadeiro. Preferi, portanto, uma figura evolutiva [...](22) .
O enredo de A selva começa focalizando o imigrante português Alberto, desempregado, vivendo às custas do tio em Belém. A situação que envolve o desconforto do protagonista por saber-se dispendioso e incômodo não demora a se alterar, pois o tio logo lhe expõe a oportunidade que se apresenta de ele partir para o seringal em busca de trabalho. Sem condições de recusar a quase imposição, Alberto se resigna, sabendo de antemão que se punha numa situação de risco, destacando-se para uma região desconhecida e perigosa.  O tio, cujo único objetivo é convencê-lo, alardeia uma chance promissora de fortuna:

- Para o Madeira, disse o tio?
- É o seringal chama-se o Paraíso.
- Rio Madeira... Rio Madeira... Não é lá que há muitas febres?
- No Madeira...
- É; em todos os seringais há muitas febres... - interrompeu-o, finalmente, Alberto.
[..]
- Que é que eu iria fazer lá?
- O que iria fazer?... Não sei. Cortar seringa, talvez não, porque é duro. Mas os seringais têm sempre um escritório, um armazém... Vamos a ver. Vamos a ver o que se arranja. E não te aborreças, pois aquilo, para quem tem saúde e juízo, são terras onde se enriquece em pouco tempo [...]. (23)

As considerações do narrador sobre o futuro que se afigura temerário para Alberto expõem o círculo que se constitui em torno da extração do látex: empregados de comércio, retirantes, oportunistas, buscando uma chance de fazer fortuna. Uma passagem do romance ilustra como se dá a riqueza de alguns e a miséria de outros:

Fora assim que o tio enriquecera e tinha já duas quintas em Portugal; fora assim que pobretões sem eira nem beira se transformaram, dum instante para o outro, em donos de casas aviadoras’ tão poderosas que sustentavam no dédalo fluvial grande frota de ‘gaiolas’. Aos que desbastavam a saúde e a vida no centro da floresta, vendiam por cinqüenta aquilo que custava dez e compravam-lhes por dez o que valia cinqüenta. E quando o ingênuo conseguia triunfar de toda essa espoliação e descia, sorridente e perturbado pelo contacto com o mundo urbano, a caminho da terra nativa, nos confins do maranhão ou do Ceará, lá estava Macedo com os colegas e as suas hospedarias, que o haviam explorado na subida e agora o exploravam muito mais ainda, com uma intérmina série de ardis, que ia da ‘vermelinha’ onde se começava por ganhar muito e se acabava por perder tudo, até, o latrocínio, executado sob a proteção do álcool. (24)

Alberto embarca rumo ao seringal e, ao se encontrar na terceira classe do “Justo Chermont”, depara-se com uma realidade que custa a aceitar. O convés úmido e escorregadio exala mal cheiro; os seres humanos que ali se encontram aglomeram-se numa promiscuidade de animais. Ele se põe intranqüilo com a situação mas tem esperanças de receber tratamento distinto. Sabe-se posto ao nível dos outros pelas contingências mas embasado em seus princípios monarquistas, acredita-se moralmente superior:

Magoava-o a facilidade com que outros recrutados dormiam tranqüilamente um sono que era, para o egoísmo dele, quase uma afronta. 
E sorria, depreciativamente, ao pensar no apostolado da democracia, nos defensores da igualdade humana que ele combatera e o haviam atirado para o exílio. ‘Retóricos, retóricos perniciosos! Queria vê-los ali, ao seu lado, para lhes perguntar se era com aquela humanidade primária que pretendiam restaurar o Mundo [...] Ele e os seus, declarados inimigos da igualdade, defensores de elites, eram bem mais amigos dessa pobre gente que os outros, os que a ludibriavam com a idéia duma fraternidade e dum bem-estar que não lhe davam nem lhe podiam dar. Só as seleções e as castas, com direitos hereditários, tesouros das famílias privilegiadas, longamente evoluídas, poderiam levar o povo a um mais alto estádio. Mas tudo isso só se faria com autoridade inquebrantável – um rei e os seus ministros a mandarem e todos os demais a obedecer [...] (25)

As esperanças de Alberto se desvanecem, não lhe é dado tratamento especial a bordo do vapor, sua última ação de recusa a aceitar o estado de subserviência igual ao dos outros recrutados é contrariar as ordens de Balbino, o agenciador,  desembarcando em Manaus e recorrendo a uma tentativa de escapar ao seringal. Assim, resolve fazer um pedido de emprego a um rico comerciante, mas o emprego é-lhe negado e a sua humilhação se acentua com a constatação de que o distinto comendador a quem recorre, um conterrâneo no qual supunha encontrar solidariedade, haja vista também ter passado por dificuldade antes de enriquecer, trata-o como um pedinte, dando-lhe uma esmola a fim de se livrar de sua presença incômoda. 
O aprendizado de Alberto rumo à mudança de suas convicções políticas terá prosseguimento no seringal, onde, como brabo, primeiramente será submetido ao trabalho árduo de extração do látex, trabalho que não suportaria não fosse a ajuda de um seringueiro experiente, Firmino, que torna menos penosa a sua lida diária nas estradas. Firmino passa a ser mais que um seringueiro manso, guia de um seringueiro brabo, demonstra afeição de amigo por Alberto, poupando-o ou defendendo-o dos ataques de Balbino e Caetano, os fiscais do trabalho de extração que não acreditam na capacidade de Alberto, por ser estrangeiro, e procuram desmoralizá-lo numa competição que travam entre si para ganhar a confiança e a preferência do patrão.
Isolado na monotonia da selva, oprimido pelo mundo verde, resta a Alberto apenas a certeza de ser impotente para mudar sua situação. A perspectiva da sucessão dos anos apresenta-se, então, como uma sentença que ele terá de cumprir tal qual os outros seringueiros. Um lance de sorte, porém, altera o que lhe parecia irremediável. O empregado do barracão que faz o despacho das mercadorias é remanejado para o trabalho de fiscalização das estradas e Alberto é chamado para substituí-lo. Com isso, o duro aprendizado interrompe-se. A ida para o barracão parece conferir-lhe uma distinção que lhe era atribuída inclusive pelo amigo Firmino: “ – Eu tenho pena de seu Alberto. O seringal não é para um homem de sua pele [...]”(26) .
A experiência na estrada do seringal, a impressão assombrosa que lhe causa a selva, o perigo dos ataques dos índios, que o punha sempre em estado de pavor, o trabalho para o qual não possuía habilidade, a humilhação que lhe haviam feito passar os empregados do seringal e também o patrão seringalista ao apontá-lo como inepto deram a Alberto uma nova dimensão da vida e também dos sofrimentos alheios. Ao se despedir de Firmino, a caminho de seu novo trabalho no barracão, ele já não demonstra a indiferença e o desprezo pela condição do outro que antes considerava de humanidade inferior. O sofrimento do outro compunge-o: 

Alberto estremeceu. Sim, era verdade, dali em diante Firmino seria a única existência humana na clareira de Todos-os-Santos noites e dias a sós consigo, sepultado na solidão, sem ninguém que o distraísse, sem ninguém partilhando a mesma vida, os mesmos perigos, sozinho e remoendo sempre os mesmos pensamentos, em condena e persistência de doido varrido. Teria de falar alto para ele somente se quisesse certificar-se de que não perdera a voz; e, por companheira, possuiria apenas a selva inquietante, que se debruçava quase sobre a barraca, a atestar o seu domínio. A selva e a possibilidade de os índios o surpreenderem isolado. (27)

Ainda restará, mesmo após a dura experiência na estrada de corte, parte do orgulho monarquista refletido no desejo de receber tratamento especial, de ser reconhecido como alguém que possui estudo e não como um bronco. Por isso, Alberto se sente satisfeito em aprender o trabalho contábil, mostrando-se lépido e diligente ao exercer uma atividade que não lhe parece humilhante, mas se indispõe intimamente com o trabalho de lavar e encher as garrafas de bebidas para o patrão, sob as ordens de Binda, a quem substitui. Ao ser chamado pelo cozinheiro para almoçar na cozinha e perceber que não lhe cabe lugar na mesa principal, onde comem o patrão seringalista, o guarda-livros e a sua esposa, reacende-lhe o sentimento de revolta por sentir-se desconsiderado tal como na terceira classe do barco que o levara para ali. Tivera que se contentar com o mesmo tratamento dado aos retirantes porque a primeira classe lhe era interdita. Agora, corroía-se e perdia a fome ao pensar no privilégio que também lhe era negado: “A mesa, que adivinhava lá dentro, com toalha branca, cristais e vinhos, enquanto ele comia na cozinha, ainda de mãos engelhadas pela água onde lavava as garrafas, provocava-lhe nova humilhação. (28)
A situação de se ver como inferior leva-o a pensar na criada de sua família, em Portugal, fazendo-o refletir no tratamento que a família lhe dispensava como um “ser à parte”. Dá-se conta de que ele próprio assim a considerava e sente-se incomodado. Recobra, porém, o orgulho quando percebe que seu sofrimento e resignação lhe renderam uma humildade postiça” que diante da dignidade recuperada não tem razão de ser: “[...] À medida que crescia no lugar ia regressando a si mesmo, de novo sentindo-se merecedor de tudo quanto de agradável lhe faziam: da deferência do senhor Guerreiro, da recente bonomia de Caetano e de Balbino – e de muito mais ainda.” (29)
É também na mudança para o barracão que Alberto constata a sua fraqueza moral perante os desejos carnais. Se no centro havia reprovado as alternativas dos companheiros Agostinho e Firmino para satisfazer o desejo sexual, considerando-as ignominiosas, no barracão, à margem, onde parecia estar menos afastado da civilização tanto pelas condições de vida, quanto pela possibilidade de um dia tomar um barco para deixar definitivamente o seringal, sente, para roubar a tranqüilidade daquele pequeno conforto que conquistara, o clamor sexual assomar incontrolavelmente, tomando conta da mente e do corpo. A esposa do guarda-livros, dona Yayá, é a principal causadora de seus delírios lúbricos. A obsessão de possuí-la leva-o a cogitar a morte do marido, mas uma estima que passa a ter por este, reconhecendo o tratamento digno que lhe dá, livra-o de cometer o ato criminoso quando tem a oportunidade de executá-lo durante uma caçada da qual ambos participam.
Não podendo ter dona Yayá, Alberto volta-se para a prática que mais considerara aviltante quando dela tomara conhecimento ainda no centro:

Sentindo-se ele próprio, com modos de autômato, dirigiu-se ao alpendre onde se guardavam os laços. Palpou as cordas na obscuridade, com os dedos escolheu uma, e cá fora ensaiou-a, abrindo-a e atirando-a várias vezes para um quadrúpede imaginário. E de novo se fundiu na noite morna e cúmplice. 
Quando voltou, já se havia desvanecido no seu espírito a ígnea imagem de dona Yayá. Mas ele cravava as unhas nas palmas das mãos, salivava constantemente e falava sozinho como nunca lhe acontecera:
- Bolas! Bolas! Não está certo! 
Despiu-se logo que chegou ao quarto, pôs a toalha no ombro e, atravessando o pequeno quintal, colocou-se ao lado dos barris. Esgotou toda a água no banho longo e persistente mas não conseguiu lavar-se da imensa repugnância que tinha por si mesmo. (30)

O arrependimento não impede que ele seja tomado novamente pelo impulso de satisfação, investindo contra nhá Vitória, uma das raras mulheres no seringal, que presta o serviço de lavar sua roupa. A mulher ressente-se de seu ato desrespeitoso, que não lhe considera sequer a idade avançada, e denuncia-o ao guarda-livros Guerreiro. Esse vexame cai-lhe como um balde de água fria e dá-lhe força para suportar a abstenção que, devido à carta da mãe, dando notícia da anistia aos monarquistas revoltosos, promete ser temporária. A possibilidade de deixar o seringal torna-se viável por fim com a ajuda em dinheiro que a mãe lhe remete e com o saldo que o patrão considera quitado pelo salário de balconista, abreviando em alguns meses a sua espera. O romance caminha, então, para o seu desfecho, a trajetória de Alberto, constituída por um processo de evolução de sua personalidade e transformação de seus princípios chega ao fim.
A transformação da consciência e a luta contra o instinto são os principais motivos que perpassam a estadia de Alberto no centro. O processo da transformação da consciência vai se dando de forma sutil, ora sua percepção avança, ora recua:

Melhor elucidado, via agora a situação dos ex-companheiros com maior amplitude crítica do que quando moirejava no mesmo plano deles; uma situação que lhe ocorria diariamente no próprio escritório onde seu âmago se encontrava. E nas horas de solidão, em que a austeridade e a fantasia tanto gostam de alternar, distribuía mentalmente justiça a todos eles, muitas vezes ofendendo durante esse devaneio, as suas idéias autocráticas, sem da agressão que lhes fazia se dar conta. Se as incoerências se denunciavam, quedava-se perplexo, todo confuso perante a nova inclinação que sentia e lhe provocava amargo conflito em lugar de uma consciência apaziguada. E então, buscando o equilíbrio que se lhe negava, discorria que naquela natureza o homem pertencia menos a si próprio do que em qualquer outra parte. (31)

Esse estado de oscilação é freqüente na consciência de Alberto. Beneficiado pela inesperada generosidade do patrão, ele se questiona sobre sua contradição interior e a contradição como parte da própria relação entre os seres humanos, decorrida de seus interesses e das posições que eles ocupam na sociedade:

[...] ‘Seria ele quem mereceria mais a legítima restituição? E os outros? Os outros? Os que haviam esgotado, no cativeiro da selva, muitos mais anos do que ele, toda a mocidade, toda a vida, as ambições e as quimeras? E se ele não fosse branco, se não tivesse a simpatia do senhor Guerreiro, se não se encontrasse apto para desempenhar o cargo de Binda, que as circunstâncias lhe abriram subitamene? Se em vez de estar ali, em contato com Juca, se em vez de jogar o solo com ele, de comer ultimamente a mesma mesa, estivesse em Todos-os-Santos, simples seringueiro como Firmino, como todos os outros que mantinham o seringal, que davam a vida por uma riqueza que não aproveitavam, a dívida ser-lhe-ia  também perdoada? Não, com certeza não! Era certo que os homens são bons ou maus conforme a posição em que se encontram perante nós e nós perante eles; e falso o indivíduo-bloco, o indivíduo sem nenhuma contradição, sempre, sempre igual no seu procedimento’. (32)

A rendição ao instinto e o reconhecimento da humanidade daqueles que não compartilhavam dos privilégios monárquicos ou os defendiam são interdependentes à medida que Alberto só reconhece essa humanidade após passar pela mesma degradação por que passaram os outros. Como os outros seringueiros, ele é dominado pelo instinto, sua natureza superior sucumbe da mesma forma que a natureza dos outros por ele considerada inferior: “ ‘Sou um miserável e um porcalhão como os outros’(33)
Cabe notar que a personagem atribui a vitória do instinto ao meio. Ante o meio bárbaro, de nada adianta ao homem lutar, sua rendição é inevitável: 

[...] Afirmava a si mesmo que a responsabilidade não era dele, era do meio, era essencialmente da Natureza, [...] Um instante, às suas faces, agora freqüentemente barbeadas pelo filho de nhá Vitória, sobrepuseram-se as faces sujas de barba que ele e os outros seringueiros traziam, desmoralizadamente, em Todos-os-Santos, durante a semana inteira, por vezes durante semanas a fio. ‘E para quê o contrário, se todos eles eram vítimas, se não havia ali presenças femininas a estimularem a presunção dos homens, se não havia exemplos a seguir, para quê se lentamente a selva impunha o regresso à negligência, o retrocesso dos civilizados, como se estivesse empenhada em reincorporá-los na selvageria de onde se tinham evadido?’ (34)

É a selva também a responsável pela truculência humana, o patrão se alia a ela para executar sua obra de escravidão. Nesse ponto, a reflexão de Alberto nega que a injustiça decorra da relação entre os seres humanos e a atribui ao papel implacável do meio que degenera o humano, fazendo com que não se pertença nem se domine.
O processo de aprendizagem de Alberto, compreendendo a sua tomada de consciência sobre o sistema de injustiça em que está calcado o funcionamento do seringal, a reavaliação de suas convicções políticas, mostra-se concretizado quando o principal motivo que o infelicita cessa. Podendo deixar o seringal e a selva, ele se permite uma nova mentalidade. Não mais acredita que a evolução da humanidade dependa das velhas castas e de seus direitos adquiridos, visualiza que a vida humana só transporá o simples rastejar, se os “velhos processos” forem abandonados e novas experiências tentadas: “[...]‘Não era, decerto, no que estava feito, era no que estava por fazer, que o homem viria a encontrar, talvez, o melhor de si próprio’(35) ”.
No diálogo que mantém com Juca Tristão, sente-se à vontade para admitir que não se considera mais nem monárquico nem republicano e que almeja “justiça para todos”. Faz um prognóstico que o patrão não entende, comunicando que sonha com a evolução do ser humano mas que acredita ser a evolução lenta e a sede de justiça mais profícua.
A transformação de Alberto, compreendendo uma reflexão e uma prática não é completa, seu individualismo se sobrepõe ao seu senso de justiça social. A decisão de ajudar Firmino a fugir do seringal, fornecendo a lima para cortar as correntes da canoa na qual ele pretende fugir revela-se um ato temerário, uma vez que ajuda o amigo e considera justo que ele deseje a liberdade, mas teme se comprometer, arriscando seu futuro. Quando Firmino e os demais seringueiros fugitivos são capturados, vem-lhe o receio de que se descubra que ele teve participação na fuga. Ao tomar conhecimento do castigo imposto aos fugitivos, ele se horroriza, mas se cala. Não defende os seringueiros, apesar de estar convicto de que eles nada devem, não ousa questionar o patrão. Sabe que reagir significará perder a chance de partir, de recomeçar sua vida em Portugal e terminar seus estudos.
Seu comportamento em defesa da monarquia fora diferente. Pelos princípios monárquicos, arriscara-se, exilara-se, afastara-se da mãe, da pátria. Como o pai, que não traíra esses princípios nem mesmo para ter uma vida mais cômoda, aceitando cargos oferecidos pelos republicanos em troca de adesão, ele defendeu a monarquia veementemente. 
A mudança de mentalidade ocorrida no seringal não leva de fato a uma ação em favor da justiça social, da “justiça para todos”, aspiração que ele revela ter ao patrão. Existem motivos que justificam a omissão de Alberto. Não há condições objetivas para que ele possa reagir contra as injustiças que presencia no seringal. Está totalmente isolado, não tem apoio de ninguém. Na revolta de Monsanto, ele contava com o apoio de outros que pensavam como ele, jovens dispostos a se insurgir contra o regime republicano. O enredo do romance demonstra que Alberto não encontra apoio nem no guarda-livros nem no seu substituto de balcão. O primeiro parece-lhe também insatisfeito com a tortura dos seringueiros, mas como ele, teme se envolver;  o segundo age como um capacho do patrão.
Ao final do romance, a justiça será feita pela personagem menos provável de praticá-la: o negro Tiago, submisso a Juca Tristão a ponto de oferecer a cabeça como suporte para o objeto com o qual ele pratica o tiro ao alvo, mas não capaz de tolerar no seringal as práticas de tortura empregadas durante a escravidão negra. O fogo ateado por Tiago tem como principal objetivo atingir  Juca Tristão, pois tranca as portas do barracão, impedindo que o seringalista possa sair. Desse modo, a destruição se faz pela via mítica do fogo e atinge a fonte da injustiça. (36)
O percurso do enredo de A selva informa o assunto e a conseqüente organização do romance. De acordo com o que expusemos, A selva faz a abordagem dos principais tópicos de um romance do “ciclo da borracha”. Grosso modo, temos conhecimento da saga de uma personagem recrutada para o seringal e o detalhamento das condições de viagem, comum a muitas obras, a passagem pelo centro e depois pela margem. No centro, são abordados assuntos como o trabalho do seringueiro, sua vida e suas privações, principalmente a privação sexual, as ameaças do meio assombroso e dos seus habitantes selvagens; na margem, focalizam-se os motivos que geram o sofrimento e a escravidão dos seringueiros, trabalhadores que não progridem: a extorsão através do aviamento, o poder do seringalista que controla com mão de ferro o dia-a-dia no seringal, o seu enriquecimento, em contraste com a pauperização dos seringueiros. 
Numa consideração inicial, em termos de conteúdo, A selva não apresenta uma abordagem diferenciada quanto às obras da primeira fase do ciclo nem quanto às análises empreendidas por alguns autores em obras não ficcionais. O escorchante sistema extrativo já havia sido analisado por Euclides da Cunha em À margem da história; os problemas da escassez da mulher e da sua conseqüente negociação foram expostos por Alberto Rangel e Carlos de Vasconcelos. Através da escritura desses autores, das passagens literárias às mais informacionais, tinham sido expostos os principais aspectos que iriam caracterizar a abordagem sobre o ciclo. Salientamos que, apesar disso, A selva atinge uma maior compreensão e aprofundamento do caráter documental e histórico do ciclo. Dentro da temática histórica, é a obra que melhor contempla todos os aspectos. Da viagem do recrutado à revolta representada individualmente pela personagem Tiago, A selva fornece um amplo painel para entendimento do processo econômico do ciclo através do discurso romanesco. A obra apresenta os principais atores envolvidos nesse processo. Os tipos, como o tio Macedo, que se comunicam com o migrante ainda antes de ser seringueiro e que também o extorquem quando ele consegue ganhar algum dinheiro e volta à cidade; o aviador, representado pela personagem do Comendador Aragão, aventureiro português que faz fortuna; o seringueiro nordestino (Firmino, Agostinho); o seringalista (Juca Tristão); seus auxiliares (Balbino, Caetano, Binda); o filho do seringalista (Juquinha); o agregado (Tiago), que não participa do processo de extração, mas tem importância na vida do seringal ; o caboclo (Lourenço), que no romance é o contraponto para os arrivistas, pois não é movido pelo desejo de ganhar dinheiro; o guarda-livros (Guerreiro), uma personagem bem delineada, e o estrangeiro, protagonista (Alberto) e personagem secundária (Elias), aparecida já no fim do romance.
A preocupação de Ferreira de Castro de dar ao romance um plano verossímil e bem arquitetado aproxima-o do documentário. Nas palavras de Márcio Souza, o romance atinge a mesma precisão de um “relatório crítico e consegue resumir “os trinta anos de loucuras nos seringais”.(38)
Em relação ao epigonismo característico da primeira fase, ao qual já nos referimos na introdução desse capítulo, A selva dele se afasta, haja vista o autor Ferreira de Castro não estar inserido num mesmo contexto de produção, tal como Cunha, Rangel e Vasconcelos. Desse modo, a criação romanesca de Ferreira de Castro se origina fundamentalmente do fato de necessitar pôr em cena o mundo do seringal, fruto de sua vivência, como ele próprio informa. Para que Ferreira de Castro desse continuidade a um discurso literário, seria necessário que representasse o trabalho continuado de vários romancistas num mesmo contexto de produção, fosse esse trabalho de caráter semelhante ou antagônico.(39)  O que não significa, por outro lado, que a obra A selva não possua expressão amazônica. Contexto de produção deve ser entendido como as condições e as motivações que levam o autor a criar, que se distinguem de ambiente que ele efetivamente enfoca. 
Um dos diferenciais que apontamos na obra de Ferreira de Castro quanto à produção desses outros autores é a linguagem. A selva é escrita num estilo límpido, preciso e objetivo. Algumas passagens descritivas do romance ostentam a preocupação com o detalhe, mas não transmitem informações através de torneios sintáticos característicos a Cunha e Rangel. A clareza de linguagem apresentada por Ferreira de Castro distingue-se mesmo em comparação aos outros autores portugueses. Para Brasil, a sua escrita despoja-se da herança de escritores como Camilo Castelo Branco, Alexandre Herculano, Eça de Queiroz, Fialho de Almeida, pois opta por não explorar a opulência verbal ou o vernaculismo, preferindo um estilo “rico da seiva da vida, sem artificialismo.” (40)
Num plano, porém, a expressão lingüística de Ferreira de Castro e de Euclides da Cunha e seus epígonos confluem: na criação de um discurso voltado para as excentricidades do meio amazônico.(41)  Embora sem a grandiloqüência destes, Ferreira de Castro expressa os mesmos espasmos diante da natureza assombrosa, de sua fantasmagoria de luzes e sombras, seus silêncios inquietantes e seus ruídos assustadores, suas árvores portentosas e seu entrançado de cipós traiçoeiros, tudo concorrendo para a tese apresentada no romance de que o ambiente amazônico animaliza o ser humano: “[...] o homem, simples transeunte no flanco do enigma, via-se obrigado a entregar o seu destino aquele despotismo. O animal esfrangalhava-se no império vegetal e, para ter alguma voz na solidão reinante, forçoso se lhe tornava vestir pele de fera [...]”. (42)
A selva distingue-se das obras da primeira fase como distinguir-se-á também de obras da fase posterior por apresentar um plano narrativo que não se detém no decalque de um aspecto do ciclo, abordando-o superficialmente. O patrão seringalista articula-se num grupo econômico, possibilitando a compreensão do significado de seu papel nesse grupo. Apresenta-se para além do estereótipo de um homem mau; é a representação de um homem enriquecido pela super exploração do trabalho de outros; é o patrão que defende a sua riqueza acumulada e não pode prescindir de sua fonte geradora, tal qual depreende-se deste trecho do romance em que encolerizado com a fuga dos seringueiros, Juca Tristão toma conhecimento das suas “dívidas” acumuladas:

Inclinado sobre o ‘contas-correntes’, Alberto elucidou: 
- O Manduca devia um conto e setecentos e vinte e três... O Firmino um conto e duzentos... Quem eram os outros?
- O Romualdo e o Aniceto – comunicou Balbino. 
Alberto folheou de novo: 
- O Romualdo, dois contos e seiscentos e quarenta...
Juca voltou a exaltar-se: 
- Dois contos e seiscentos! Cachorro! Cachorro! E eu a ter pena dele! Sou tolo mesmo! Vinha chorar para o pé de mim e, só em pílulas para a febre, lhe vendi uma fortuna! Que morresse, que fosse para o inferno! Mas eu fui tolo e ele agora me paga assim!
Ao pequeno silêncio sucedeu a voz de Alberto:
- O Aniceto devia oitocentos e noventa...
- Oitocentos e noventa... – Um conto! Com dois e seiscentos do outro, quase quatro. Quanto devia o Manduca? 
- Um conto e setecentos...
- Cinco contos e tal! E o Firmino? 
- Um conto e duzentos...
- Seis contos! Quase sete contos por água a baixo! Eu aqui a sacrificar-me longe da minha mulher e do meu filho, para que esses cachorros me roubem assim! Porque é um roubo! É um roubo! E eu que podia estar mesmo descansado na minha fazenda do Marajó! Se os apanho!... (43)

Apontado por Djalma Batista como romance social, A selva atinge essa perspectiva ao apresentar as contradições do mundo do seringal. A passagem do romance em que os seringueiros fugitivos são capturados por outros seringueiros demonstra uma dessas contradições, que é refletida pelo protagonista nos seguintes termos: “[...] ‘Como podia ser, como podia ser que as vítimas saboreassem também o papel de algoz? De que sórdida matéria era formada a alma de alguns homens, que gozavam em castigar a desgraça alheia, mesmo quando era igual à deles?’(44) ”
Por outro lado, a contradição também constitui o plano ideológico do romance que propaga a tese do meio como responsável pelos desajustes humanos. De acordo com Lucas, o romance de tese costuma aplicar o método dedutivo para exame dos problemas sociais, significando que o conceito antecede a realidade.(45)  Analisando o determinismo do meio esboçado em A selva, é essa precisamente a noção – ante um meio estabelecido como bárbaro, todos os indivíduos se barbarizam. 
O ficcionista e ensaísta Jorge Tufic, ao fazer um levantamento da produção ficcional sobre o “ciclo da borracha”, declara que A selva e La voragine, obra do romancista José Eustásio Rivera, encerrariam essa produção e destaca que as obras do ciclo não atingiram “um vago contorno geral da realidade em causa”. (46) Há, na avaliação do autor primeiramente, uma falha ao não considerar um veio de produção que continuou aberto para a temática do ciclo e, em segundo lugar, um juízo precoce sobre o grau de aprofundamento das obras.
Ao destacarmos A selva como um romance que, seguindo a linha da abordagem histórica do ciclo, propicia uma compreensão abrangente do tema, não desconsideramos que em outros romances, como, por exemplo, Coronel de barranco, ocorra também uma construção ficcional contundente. O tratamento dado à obra em relação ao ciclo recebe o mesmo detalhamento didático de A selva. A selva e  Coronel de barranco são, por isso, dois romances em que a realidade em causa – “o ciclo da borracha” – é tratada com aprofundamento. Entretanto, a obra de Ferreira de Castro apresenta um diferencial em relação à de Araújo Lima que nos levou a elegê-la como recorte para esse estudo. Seu protagonista é partícipe e analista no mundo do seringal, enquanto Matias, de Coronel de barranco, é basicamente analista. O fato de ser Alberto um protagonista que vive as próprias situações que analisa confere densidade à narrativa através do embate que se cria entre sua consciência e o sistema com o qual se depara. 
Tufic também observa que o romance La voragine diverge de A selva por possuir um caráter de libelo ou revolta enquanto o último somente relataria os dramas vividos no seringal. Embora não possa se assemelhar a um libelo, a abordagem do romance A selva denuncia a extorsão e a escravidão num seringal amazônico e seu desfecho propõe uma destruição desse sistema injusto, determinando também um sentido de revolta. Revolta que não é arquitetada nem praticada por seringueiros indignados. O fato de essa revolta ser praticada por uma personagem negra demonstra que a visão de mundo do autor, expressa pelas suas palavras de que em seu espírito sobrepõe-se “[...]‘uma causa mais forte, uma razão maior: a da humanidade’ ”(47) , não tem como objetivo pôr em evidência apenas uma forma de injustiça. O negro Tiago, despojo de outro processo de espoliação é, por isso, o escolhido para pôr fim ao local que representa a injustiça (o barracão) e o elemento humano que a executa (o seringalista). Suas palavras de justificativa do ato que pratica surtem o efeito de uma sentença: “O homem é livre.” (48) A destruição não é eficiente, uma vez que o seringalista é apenas um elo, e inclusive o não mais poderoso, da grande cadeia de espoliação montada em vista da extração do látex, mas é a destruição que o romancista elege como possível no contexto em que se desenvolve o romance.
Apesar de possuir características em consonância com o romance neo-realista português o qual recebe influência da ficção sócio-realista brasileira dos anos 30 ,(49) A selva apresenta os pontos básicos do que Alfredo Bosi considera um romance de tensão crítica em oposição a um romance de tensão mínima, mais em acorde com a prosa neo-realista. Segundo o autor, o romance de tensão crítica alcança “uma verdade histórica muito mais profunda”, não se restringindo apenas a enfocar a cor local ou datar os fatos. (50)
É, pois, A selva um romance que não se limita à perspectiva de enfocar fatos isolados característicos do ciclo e que procura concentrá-los e organizá-los sistematizando-os. Abrangendo tanto o centro quanto a margem, a narrativa demonstra o nexo causal entre eles. Não aleatoriamente, Alberto vive antes a experiência do centro e depois a da margem. Quando vem a se instalar na margem, já não é mais possível considerá-la sem a outra experiência. A manipulação do contas-correntes do seringal o põe a par de uma verdade que suspeitara ao receber a nota de seu aviamento e compará-la com a dos outros seringueiros no tempo em que ainda era um brabo como eles. As faturas lançadas evidenciam que os débitos dos seringueiros e o conseqüente crédito para Juca Tristão resultam de uma cobrança extorsiva do preço da mercadoria aviada e de um pagamento ínfimo pela produção da borracha, depois vendida a um alto preço. Paralelamente, toma conhecimento de que o trabalho não pago dos seringueiros proporciona as altas despesas do seringalista: 

Estavam ali as faturas, vendendo a Juca Tristão por cinco o que ele entregava ao seringueiro por quinze e muitas vezes até por vinte. Estavam as notas da borracha, que se comprava ali por dois e se vendia por cinco e seis na praça de Manaus. 
Alberto sentia uma curiosidade dolorosa ao ler toda essa papelada, confrontando algarismos e inventariando o tempo que cada um trabalhava a mais em proveito do amo. Depois, chamado pelas disparidades das situações, quedava-se absorto sobre as cifras da mesada que Juca enviava à mulher – três contos de réis que significavam o preço dos muitos anos que um seringueiro necessitava para o seu resgate. Alberto juntava aquilo às viagens do patrão a Belém, sempre marcadas por grandes quantias recebidas da ‘casa aviadora’, as maiores que se viam em todos os lançamentos verificados  e ficava mais pensativo ainda. Doíam-lhe essas descobertas, esses números e contrastes. Poder absoluto, por herança ou outro conceito estabelecido, em prol dum só todos os demais se sacrificavam. Confirmava-se, assim, tudo quanto se dizia sobre a vida dos seringais, desde o Pará à Bolívia e do Ceará distante às fronteiras do Peru, onde a sorte dos párias não seria melhor. (51)

Além do sistema de aviamento, base de sustentação econômica do ciclo, o romance expõe as conseqüências que a saga da extração traz para a população humana, transformando o encontro do migrante nordestino e do nativo amazônico num desfecho traumático através do assassinato do caboclo Lourenço pelo seringueiro Agostinho. O motivo causador do assassinato não é a riqueza da terra, mas o segundo motivo de cobiça no seringal, a mulher. Agostinho pratica a vingança sangrenta contra Lourenço porque este não lhe concede em casamento a filha ainda criança. No romance, Lourenço é o símbolo do homem nativo. Indiferente à sede de enriquecimento, sua existência se orienta apenas pela posse de “uma barraca, uma mulher e uma canoa.” Os homens nordestinos que vêm desbravar a selva, atraídos pela promessa de enriquecer, despertam-lhe piedade, pois ele os vê sucumbirem vencidos pelo meio que lhes é adverso. A vida na selva só é fácil para ele que “letargicamente” aceita viver sem ambições. O processo de exploração da riqueza natural, trazendo com ele o ádvena e conseqüentemente a cobiça, as necessidades incontidas, aniquila o ritmo de vida dos habitantes cordatos e hospitaleiros como Lourenço.
A repercussão mundial que alcançou o romance A selva, tendo sido traduzido na Alemanha, Bélgica, Bulgária, Tchecoslováquia, França, Holanda, Inglaterra, Espanha, Iugoslávia, Itália, Noruega, Romênia, Suécia, Suíça, Canadá, Estados Unidos, ampliou conseqüentemente o seu leque de estudos.
Uma parte da crítica estrangeira enfatiza a grande capacidade da obra de evocar o exotismo da natureza amazônica. Em prefácio escrito em 1932 para a tradução alemã , o tradutor Richard Bermann refere-se à selva como o inferno verde e à capacidade de Ferreira de Castro de descrever a sua “trágica beleza”(52).
Para o crítico italiano Alberto Viviani, a novidade na obra de Ferreira de Castro acha-se no ambiente ou, mais precisamente, no poder que a obra demonstra estar concentrado na natureza, soberana em relação ao ser humano. Põe, por isso, a natureza no papel de protagonista do romance: “[...] tudo o mais não passa de complemento necessário [...] tudo está subordinado à vastidão primitiva da selva que hostiliza e aniquila”. (53)
A crítica estrangeira, que não nos cabe detalhar nesse trabalho, é por nós enfocada à medida em que sua percepção do meio amazônico ressaltada pela leitura do romance se articula com a percepção da crítica brasileira.
A Amazônia, definida por Euclides da Cunha como a última página ainda a escrever-se do Gênesis”(54)  é um referencial geográfico e literário difundido amplamente no Brasil. Exótica para os próprios brasileiros, é caracterizada da seguinte maneira por Peregrino Júnior: 

O homem que penetra a Amazônia  o mistério, o terror, ou se se quiser, o deslumbramento da Amazônia  escuta desde logo uma voz melancólica: a voz da terra. Abandonado na vastidão potâmica das águas fundas, dos igarapés e igapós paludiais, das ásperas florestas compactas, perdido naquele estranho mundo de assombração, acossado pelo desconforto do calor sem pausa e pela agressão da mata insidiosa, com seus bichos, suas febres, suas sombras, seus duendes, êle logo de entrada recebe um golpe terrível, e desde então trava a luta mais trágica da vida, que é a da adaptação ao meio cósmico. As fôrças que o esmagam – fôrças telúricas de aparência indomável – são um convite permanente à retirada e ao regresso. Paraíso dos aventureiros, dos charlatães, dos mercadores e dos flibusteiros, a Amazônia em geral não retém ninguém, expulsa os seus desbravadores, que dela, no entanto, se recordam sempre com temor e nostalgia ao mesmo tempo. Daí o destino nômade dos seus habitantes, que dificilmente ali se fixam e permanecem. O homem é, na selva, o intruso descrito por Euclides, sempre insatisfeito e instável, esperando a hora de enriquecer para voltar, para fugir, para se libertar em suma... Afinal de contas só o caboclo – fatalista, taciturno e triste, - na inércia do seu conformismo congênito, ali fica, e não quer sair. O homem daquele mundo é assim um ‘ser destinado ao terror e à humilhação diante da natureza’. Todos, de resto, nativos e adventícios, vivem lá num estado permanente de perplexidade, que explica a atitude literária de quantos viram de perto a Amazônia [...]. (55).

Peregrino Júnior veicula essa concepção em 1955, demonstrando ainda o mesmo referencial exposto por Euclides da Cunha, em 1908, no prefácio de Inferno verde ou em 1909, em À margem da história. De forma significativa, na expressão crítica brasileira, o tema do ambiente aparece como subsidiário ao tema do ciclo na análise de A selva. Um dos textos que mais se destaca como estudo do romance foi escrito por Humberto de Campos sob o título “Um romance amazônico”. Neste texto, Campos toma a defesa do romancista português em virtude da acusação que lhe foi feita por setores da crítica brasileira de ter o escritor enunciado inverdades sobre a realidade amazônica. 
Campos ressalta que o verdadeiro conhecimento sobre a Amazônia foi revelado a partir da escrita de Ferreira de Castro, respaldada pela experiência, esta, segundo ele, imprescindível para conhecer a fundo o seringal. A verdadeira dimensão do assunto teria sido ignorada ou não compreendida pelos outros autores que tentaram expressá-lo porque o perceberam externamente, apenas como visitantes. Neste assunto, Campos faz do homem o foco central: [...]o que interessa, na Amazônia, à literatura, é o homem, e, particularmente, o seringueiro e a sua tragédia”. (56)
Conquanto ponha na linha de frente da expressão amazônica a aventura do homem como desbravador, a natureza não deixa de figurar com um poder grandioso, a ponto de a luta que o homem contra ela travou se assemelhar para o autor como o “combate de Siegfredo contra o dragão”. A seu ver, essa heróica luta em que a natureza saíra vencedora, fazendo milhares de vítimas não tinha encontrado a justa expressão antes de A selva. Campos também se deixou fascinar pela espécie de “retórica do assombro”, expressa tanto pelos críticos quanto pelos ficcionistas. Uma passagem de um conto de sua autoria, intitulado “O furto: um conto amazônico” , exemplifica-o:

Na quietude daquela hora de assombros, afugentando ou convocando os demônios da terra, coaxavam os sapos, martelando, monótonos na bigorna do silêncio nas moitas húmidas de onde partiam, confundindo-se, tantas vozes anônimas, os pirilampos eram como a centelha dessa oficina monstruosa, onde os batráquios batiam, talvez, a couraça de ouro do sol. (57)

O enfoque no exotismo já não se faz presente na análise empreendida por Márcio Souza em seu ensaio A expressão amazonense. Numa severa avaliação da produção literária amazonense, o autor aponta a sua inconsistência por não criar uma representação autêntica da realidade amazônica, isolando-se na ostentação e proporcionando apenas desfrute para alguns pares de literatos que não almejavam atingir um público abrangente e sim uma pequena elite interessada na literatura como um ornamento. Para Souza, durante o “ciclo da borracha”, essa tendência atingiu o ápice:

Não há nenhum escritor do “ciclo da borracha”, com exceção de Ferreira de Castro, marcado com a tarefa de escrever como um escritor. Eram todos bacharéis que escreviam e a literatura algo de não desmesuradamente perigoso. O bacharel que escrevia tinha um público especializado, da mesma forma que as diversas qualidades da borracha possuíam seus compradores determinados. Raramente publicavam  um livro, eles tinham os jornais. O livro já pressupunha uma universalidade, um alcance que não interessava. O jornal satisfazia pela postulação do indefinido, do punhado de leitores fiéis e selecionados que iriam escolher os poemas entre o noticiário e o reclamo.(58) 

Souza aponta em A selva o desmascaramento da ostentação. A face que a prosperidade do ciclo oculta por intermédio da cidade com sua parte economicamente prestigiada da população é revelada pelo discurso literário de Ferreira de Castro: “[...] Mostrando o reverso da ostentação, ele sentiu a vertigem dessa natureza submetida e a sorte dos miseráveis errantes. A selva possui o discurso exato, diariamente sofrido, onde a realidade não era uma aparência incômoda, obrigando a literatura a se tornar uma boêmia perdida.”(59).
Ferreira de Castro realizou a expressão lúcida do “ciclo da borracha”, distinguida por Souza, como um autor à margem do processo de produção literária amazonense. A visão do ciclo que logrou romper o marasmo de uma literatura provinciana, sendo o romance, nas palavras de Souza, o primeiro a marcar encontro público com os leitores do mundo, possui o acento do escritor estrangeiro que mantém uma concepção de mundo eurocêntrica. Em algumas passagens do romance, isto pode ser observado através de uma negatividade na descrição da natureza amazônica em relação a uma positividade da natureza européia:

[...] A árvore solitária que borda melancolicamente campos e regatos na Europa, perdia ali a sua graça e romântica sugestão e, surgindo em  brenha inquietante, impunha-se como inimigo. Dir-se-ia que a selva tinha, como os monstros fabulosos, mil olhos ameaçadores, que espiavam de todos os lados. Nada a assemelhava às últimas florestas do velho mundo, onde o espírito busca enlevo e o corpo frescura [...]. (60)

Ferreira de Castro retoma o discurso de viajantes, cronistas e cientistas sobre a Amazônia à medida que os motivos que compõem a trajetória do protagonista Alberto no seringal são os da confrontação com o meio bárbaro. O enredo do romance termina com a destruição da fonte de injustiça mas também com a possibilidade de Alberto deixar o meio que poderia levá-lo à condição de fera.
Toda a constituição do enredo se volta para a aprendizagem subordinada à libertação do meio. Alberto perde a soberba ao passar pela experiência do seringal, constatar o sistema de espoliação do trabalho humano ali implantado, mas o mesmo meio que o faz descobrir a solidariedade para com os homens humildes que consomem a vida num trabalho de que não tiram proveito se torna o algoz de todos esses homens e dele próprio. Dando este contorno à obra, o ficcionista segue uma tendência do romance naturalista, destacada por Brayner:

Reduzindo todos os homens a uma mesma fórmula – criaturas dominadas pelo meio, raça e momento  o romancista naturalista parte sempre do princípio mestre que todos os homens são fundamentalmente iguais. Não importa a classe social a que pertençam e nem mesmo o grau de cultura a que se liguem; submetidos ao ambiente e às paixões instintivas, agem todos de forma idêntica [...]. (61)

A selva significa essa redução da personagem protagonista que chega ao meio desconhecido como um ser distinto perante os outros. É estudante de direito enquanto os demais recrutados não possuem instrução; leva para a barraca livros entre seus pertences ao passo que os demais muitas vezes além das roupas do corpo levam apenas as ferramentas básicas aviadas pelo seringalista; é moço fino, não adaptado para o trabalho grosseiro de penetração na mata e corte das seringueiras e os outros, seres rudes dos quais se espera adaptação ao meio. Entretanto, o meio irá igualar o protagonista no decorrer da narrativa aos outros. O cerne desse momento se estampa na passagem do romance em que o protagonista, ao se olhar no espelho, não vê sua fisionomia atual, mas o mesmo rosto embrutecido, animalizado dos homens com os quais labutou outrora nas estradas de corte. A única chance que se apresenta à não capitulação ao meio é deixá-lo, fugir de sua barbaria em busca da civilização. Essa é a ambigüidade da realização social do romance: documentar as relações econômicas que promovem o ciclo e, ao mesmo tempo, apresentar uma justificativa determinista, fatalista, para essas relações.
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NOTAS
12)  Na definição de Mário Ypriranga Monteiro, o absentismo se caracteriza pela falta de vivência que tem o autor do meio que enfoca em sua obra. Dessa forma, ele cria através do talento ou da imaginação ou baseado em conhecimentos que não os da experiência direta. O autor absentista pode ser total ou parcial, sendo o último aquele que, apesar de ter estado no meio que retrata, conheceu-o superficialmente. Monteiro chama a atenção de que o autor absentista também pode criar uma falsa percepção da realidade. Não condena o trabalho de criação do absentista total, mas faz notar que todo aquele que escreve, mesmo tratando-se de ficção, arca com a responsabilidade de transmitir informações, de ilustrar, ou de recriar estados sociais, de manter-se numa posição de respeito à fidelidade de um compromisso não escrito mas aberto às sanções de fato (e até de direito, não raro), compromisso esse que se espera contenha apreciável volume de interesse honesto em permutar com o leitor, usuário que espera por sua vez encontrar na obra-de-arte um motivo estético ou algo mais que isso, componente satisfatória , uma terapêutica [...]” (Fatos da literatura amazonense, p. 65).
13)   José Maria FERREIRA DE CASTRO, A selva,  p. 21.
14)  José Maria FERREIRA DE CASTRO,  A selva,  p. 26.
15)  Ibid.,  p. 29-30.
16)  Em “Um romance amazônico”, Humberto de Campos aponta a originalidade de A selva justamente pelo fato de o romance ter sido escrito por um autor que viveu no seringal. Para Campos, somente a vivência neste poderia resultar na sua justa expressão. Comprova a legitimidade da escrita de Ferreira de Castro e absolve-o das críticas de ter sido autor de inverdades, recorrendo a exemplos presenciados por ele próprio como gerente de seringal, demonstrando que Ferreira de Castro não expressou exageros em sua obra (1962, p. 427-467).
17)  Jaime BRASIL, Ferreira de Castro: a obra e o homem,  p. 21.
18)  MAGALHÃES JÚNIOR Apud Jaime BRASIL, Ferreira de Castro: a obra e o homem,  p. 95.
19)  Abordando os problemas que envolvem a nacionalidade na literatura brasileira, Lúcia Miguel Pereira questiona a sua existência, notando que as realidades brasileiras não podem apresentar uma feição homogênea: “[...] a brasilidade totalitária é um mito, uma lenda, um tabu a que se apega a nossa vaidade. Não existe, nem poderia existir, ao menos no sentido em que o queremos tomar, de feitio moral especificamente brasileiro, igualando os homens do Rio Grande do Sul, e os diferenciando dos outros povos [...] (Regionalismo e espírito Nacional In: A leitora e seus personagens: seleta de textos publicados em periódicos (1931-1943) e em livros,  p. 39).  Quanto a Ferreira de Castro ser um escritor estrangeiro cujo romance trata da realidade amazônica, a autora faz a seguinte apreciação: [...] É mesmo de notar que um dos grandes romances sobre o Brasil (ou sobre a Amazônia?) seja de um estrangeiro. Ao fato acidental de ter nascido em Portugal o Sr. Ferreira de Castro devemos não se ter o ‘espírito brasileiro’ encarnado num seringueiro.” (Ibid, p. 39).
20)  José Maria FERREIRA DE CASTRO. Pequena história de A selva. In: José Maria FERREIRA DE CASTRO. A selva, 1972, p. 27
21)  Jaime Brasil faz notar que o romancista, enquanto homem independente, “detesta a política e as suas baixas manobras, mas ama a liberdade com fervor religioso.” (Ferreira de Castro: a obra e o homem, p. 52). A feição humanista da personalidade de Ferreira de Castro é ressaltada na mensagem que lhe é entregue em Portugal por vários intelectuais em 20 de junho de 1953, subscrita por milhares de cidadãos portugueses: [...] Todos aqueles que conhecem Ferreira de Castro sabem que a piedade humana, que vibra em cada uma das suas páginas, não é um simples processo literário e muito menos um artifício do seu talento de escritor; esse mesmo amor e compreensão vivem no romancista, são a sua força, a sua riqueza e tormento, o traço mais fundo na sua personalidade, são ele mesmo debruçado sobre a dor do mundo. Dificilmente se encontrará outro escritor cuja obra seja, tão fielmente, a expressão da sua própria alma. (Apud Jaime BRASIL, Ferreira de Castro: a obra e o homem,  p. 76). 
22)  José Maria FERREIRA DE CASTRO, A selva,  p. 30.
23)  Ibid., p. 39-40.
24)   José Maria FERREIRA DE CASTRO, A selva,  p. 41-2.
25)  José Maria FERREIRA DE CASTRO, A selva,  p. 54-55
26)  José Maria FERREIRA DE CASTRO, A selva,   p. 125.
27)  Ibid., p. 193.
28)  José Maria FERREIRA DE CASTRO, A selva,  p. 204.
29)  Ibid., p. 247.
30)  José Maria FERREIRA DE CASTRO, A selva, p. 236-7.
31)  José Maria FERREIRA DE CASTRO, A selva,  p. 217-8.
32)  Ibid., p. 277.
33)  José Maria FERREIRA DE CASTRO,  A selva,  p. 232.
34)  Ibid., p. 249.
35)  Ibid., p. 244.
36)  Em seu livro Amazônia, mito e literatura, Marcos Frederico Krüger salienta: “o fogo como elemento de destruição é, tal como o dos duplos, motivo mitológico bastante utilizado na produção literária [...]” ( p. 177).
37)  O agregado é personagem recorrente na ficção do ciclo. No romance Terra de ninguém, é Epifânio, negro que atua como feiticeiro no seringal; em Dos ditos passados nos acercados do Cassianã, é o índio Pacatuba, afilhado do seringalista; em Coronel de barranco, Inácio, caboclo que vem parar no seringal após lutar junto a Plácido de Castro. Geralmente aparecem como rebotalhos devotados e fiéis, mas em romances como A selva e Dos ditos passados nos acercados do Cassianã revoltam-se e atentam contra a vida do patrão.
38)  Márcio SOUZA, A expressão amazonense: do colonialismo ao neo-colonialismo,  p. 137.
39)  Essa premissa para criação de uma novelística  é exposta por Alejo Carpentier em Literatura e consciência política na América Latina ( p. 10).
40)  Jaime BRASIL, Ferreira de Castro: a obra e o homem,  p. 47.
41)  Sobre as fontes da engendração desse discurso, ver: Neide GONDIM, A invenção da Amazônia, 1994.
42)  José Maria FERREIRA DE CASTRO, A selva, p. 114.
43)  José Maria FERREIRA DE CASTRO, A selva,  p. 281.
44)  Ibid., p. 291.
45)  Fábio LUCAS, O caráter social da  ficção do Brasil,,  p. 17.
46)  Jorge TUFIC, Existe uma literatura amazonense?,  p. 21.
47)  José Maria FERREIRA DE CASTRO Apud  Humberto de CAMPOS, Um romance amazônico. In:.Crítica,  p. 432.
48)  José Maria FERREIRA DE CASTRO, A selva,   p. 306.
49)  FERREIRA DE CASTRO estudava a produção dos autores brasileiros da geração de 30, conforme se evidencia por artigo que publica em 1934, intitulado Literatura social brasileira”. O autor é considerado um precursor do neo-realismo português, embora o termo tenha sido efetivamente empregado por Joaquim Namorado, no artigo “Do neo-realismo, Amando Fontes”, em 1938. Um dos principais postulados do neo-realismo constitui a denúncia social, especialmente da injustiça praticada contra os humildes. (Cf. Massaud MOISÉS, Neo-Realismo In: Dicionário de literatura portuguesa,  p. 244).
50)  Alfredo BOSI, História concisa da literatura brasileira, p. 443.
51)  José Maria FERREIRA DE CASTRO, A selva,  p. 212-13.
52)  Richard BERMANN apud Jaime BRASIL, Ferreira de Castro : a obra e o homem,  p. 198.
53)  Alberto VIVIANI apud Jaime BRASIL, Ferreira de Castro: A obra e o homem,  p. 112.
54)  A frase encontra-se no prefácio escrito por Euclides da Cunha para a obra Inferno verde, de Alberto Rangel (Euclides da CUNHA In: Alberto RANGEL, p. 10). As considerações de Euclides da Cunha sobre o caráter desconhecido e fabuloso da região amazônica são tecidas ao longo desse prefácio e de outras obras suas, como, por exemplo, À margem da história.
55)  João da Rocha Fagundes PEREGRINO JÚNIOR, Grupo nortista. In: Afrânio COUTINHO (Dir.). A literatura no Brasil, p. 153.
56)  Humberto de CAMPOS, Um romance amazônico. In: Humberto de CAMPOS, Crítica,  p. 429.
57)  Humberto de CAMPOS, O furto. In: Humberto de CAMPOS, O monstro e outros contos,  p. 89.
58)  Márcio SOUZA, A expressão amazonense: do colonialismo ao neo-colonialismo,  p. 125.
59)  Ibid.,  p. 140.
60)  José Maria FERREIRA DE CASTRO, A selva,  p. 114-115.
61)  Sônia BRAYNER, Labirinto do espaço romanesco,  p. 29.

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