INTRODUÇAO
Todo ser humano saudável nasce com a capacidade para produzir sons e cantar. Antes, porém, da utilização do aparelho vocal como instrumento específico do canto, este já havia sido e continua sendo, ao longo da vida do cantor, parte de outras funções, por ser inseparável do corpo.
No canto, não existe separação entre a voz-instrumento e o cantor-instrumentista. O próprio cantor é o instrumento e todos os fatores que englobam a pessoa concorrem também para a definição das características e particularidades do instrumento e interferem, direta ou indiretamente, no processo do aprendizado do canto. Por isso, torna-se quase impossível fazer uma observação desse instrumento de forma separada e, assim, estabelecer uma relação definida entre sujeito e objeto em termos de estudo.
Até mesmo no processo de conservação esta diferença se evidencia. Se compararmos a voz a outro instrumento, não teremos a possibilidade de reposição de cordas, ou mesmo a troca por outro instrumento mais conservado, como acontece no caso do violino.
Pode-se dizer que o instrumento do cantor engloba a pessoa de forma total. E não existe uma só pessoa que seja igual à outra em todos os seus aspectos.
O instrumento do cantor carrega em si características muito subjetivas e particulares. Mesmo ao se tratar de vozes com igual classificação, em termos de extensão, por exemplo, como os sopranos, teremos os mais variados tipos: líricos, dramáticos, espinto, etc. Particularizando ainda mais, se observarmos dois sopranos com a mesma classificação, ainda assim, suas vozes terão características que as tornam únicas. Isso quando às suas características fisiológicas, sem contar com o aspecto psicológico do aprendizado, que está ligado à forma como ele aprendeu a usar seu instrumento, inclusive através da fala.
Para conhecer e dominar a voz, faz-se necessário o estudo de uma técnica vocal bem orientada. Existem várias técnicas e métodos de canto. Cada técnica tem fundamentada sua concepção particular com relação aos vários aspectos do canto. Sejam eles respiração, emissão, ressonância, articulação, etc.
É importante observar que cada técnica produz um resultado diferente. Tal diferença se faz presente não somente quando, num mesmo aparelho vocal, aplicam-se técnicas distintas, visto que, como já foi apontado, o aparelho vocal é algo bastante particular e individual, podendo adotar uma infinidade de comportamentos ou condutas fonatórias.
Além disso, mesmo que não se tenha consciência, a escolha por uma determinada técnica, e os procedimentos que o professor adota com relação aos seus alunos revelam, explicita ou implicitamente, uma postura de ensino.
É muito comum, no Brasil, ouvirmos comentários a respeito das diferentes técnicas e métodos adotadas por professores de canto, questionando uma técnica e a adaptação dos alunos às mesmas. Mas, geralmente, o levantamento dessas questões não apresenta embasamento suficiente para que o assunto possa ser abordado com profundidade.
Muito se ouve da insatisfação de alunos de canto quanto aos professores e verifica-se que muitos deles em fase de formação acadêmica possuem outros professores fora da universidade, o que denota uma insatisfação com o ensino que recebem.
Observa-se também que a questão da competência de um professor, passa por questões complexas: um professor é tido, muitas vezes, como bom profissional por uns, e ruim por outros. Assim como, por parte dos professores, um aluno pode ser avaliado como talentoso ou não. A questão da validade de uma técnica ideal também é outro assunto muito comentado pela classe dos cantores.
Dada a observação dessas e outras questões e da insatisfação dos alunos é que se sentiu a necessidade de respostas relativas ao ensino-aprendizado do canto no Brasil.
Em princípio, a idéia deste trabalho seria a de alertar sobre a importância do conhecimento dos procedimentos pedagógicos por parte do professor de canto, de forma que o mesmo pudesse transmitir mais efetivamente seus conhecimentos. Vimos então que não havia material que pudesse esclarecer-nos quanto à formação das características deste quadro do ensino de canto no Brasil e que isso seria importante para compreendermos nosso processo pedagógico atual.
Decidimos, então, fazer uma revisão de todo material sobre o canto publicado no Brasil, desde o início do século, sob o ponto de vista da pedagogia, e a partir daí, analisar como se dá a formação do profissional do canto e o que as universidades brasileiras oferecem ao profissional que queira dedicar-se ao magistério de canto.
O enfoque na pedagogia e na defesa de uma formação pedagógica para o ensino do canto justifica-se a partir de duas premissas. Em primeiro lugar devido às características do canto lírico no Brasil, o magistério torna-se uma opção no campo de trabalho desse profissional, o que foi comprovado através de recente pesquisa feita por MACIEL (1996). Em segundo lugar, apesar dessa confirmação, há uma falta de opção à formação pedagógica nos cursos oferecidos ao profissional cantor em nosso país, que queira dedicar-se ao magistério.
Os objetivos principais dessa pesquisa são: 1) caracterizar o ensino de canto no Brasil neste século, a partir de uma análise da bibliografia publicada sobre o assunto, desde o início do século, até os dias de hoje; 2) caracterizar e analisar os conteúdos dos cursos de bacharelado em canto das universidades brasileiras, sob o ponto de vista da pedagogia, propondo diretrizes para uma revisão do conteúdo dos cursos de graduação, no que diz respeito à formação pedagógica do professor de canto.
A opção pela pesquisa bibliográfica, num primeiro momento, vem como uma forma de traçar um perfil histórico da pedagogia de canto no Brasil desde o início do século, e a partir daí, compreendermos a formação e o desenvolvimento de algumas características de ensino de canto no Brasil.
Fazem-se necessárias algumas considerações à respeito dos comentários críticos das informações obtidas através da leitura da bibliografia. Cabe lembrar que, na revisão bibliográfica, não enfatizaremos alguma técnica em particular e nem tampouco analisamos a veracidade das informações a respeito dos procedimentos técnicos adotados pelos autores. Somente, faremos uma análise dos conteúdos apresentados, de forma a delinear o desenvolvimento da formação do ensino de canto no Brasil sob o ponto de vista dessa bibliografia.
No segundo capítulo, apresentamos as características do ensino do canto nas universidades brasileiras, no seu aspecto pedagógico. No terceiro capítulo, fazemos uma análise dos currículos dos cursos de bacharelado, quanto à sua proposta curricular e quanto às disciplinas aplicadas ao ensino.
A partir desses dados, lançamos, no último capítulo, algumas propostas aos currículos de canto, privilegiando o relacionamento e a comunicação professor-aluno.
No que se refere ao aspecto pedagógico do ensino, utilizamos uma bibliografia na qual pudéssemos enfocar os aspectos e características particulares do ensino-aprendizagem do canto. Citamos alguns autores: AZENHA (1995), DUARTE JUNIOR (1981), LIBÂNEO (1995), PAULA (1997).
Constata-se que, apesar da importância do assunto tratado nesta pesquisa, o mesmo ainda não foi muito abordado. Portanto, observou-se, no decorrer da pesquisa, falta de material, no qual pudéssemos embasá-la. Foi necessário lançar mão de material que, mesmo não estando diretamente ligado ao assunto, pudesse de certa forma nos servir como referência. Dois trabalhos de tese (FREIRE, 1992 e MACIEL 1996), nos serviram como base e referência à análise dos currículos.
Esperamos que este trabalho possa abrir espaço para o questionamento da importância na formação pedagógica do cantor lírico profissional. Principalmente no Brasil, onde ainda há grande dificuldade na aceitação quanto ao profissionalismo nas artes, em geral, não havendo uma clareza da importante função social que este profissional exerce.
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