Traumatismo,Vergonha e Exclusão
Guy Briole
" Para trás, fora daqui, povo das sombras,
Vão embora. Eu não suplantei ninguém,
Não usurpei o pão de ninguém,
Ninguém morreu em meu lugar. Ninguém.
Retornem às brumas!
Não é minha culpa se vivo e respiro,
Se como e se bebo, se durmo e se estou vestido."
O Sobrevivente, de Primo Levi
 
O olhar é algo que não se esquece em um encontro. O olhar, aquele que se volta sobre o sujeito, aquele que faz com que alguma coisa no mundo "omnivoyeur" o olhe, este que volta da "sombra", não são aqueles olhos onde se pode ler reprovação, amor, raiva, compaixão etc. Este olhar que o visa é outra coisa, é a manifestação da presença do Outro. Assim, "esta janela, si está um pouco escuro e se tenho razões para pensar que há algo por tràs, é desde já um olhar". A existência deste olhar faz com que alguma coisa mude também para aquele que se sente olhado: ele pode se sentir objeto do olhar do Outro. Está lá, precisa Lacan, a estrutura da fenomenologia da vergonha.
É isso também que é sentido pelos sujeitos que se encontram com o horror quando eles são conrfrontados com o olhar de outros. E lá, onde, para todos, pode se ver nos olhos de um outro a reprovação que induz a sua culpa, aqui, com um encontro traumático, o sujeito se sente olhado por um olhar crítico que o atravessa e desencadeia um sentimento de culpa.
 
Durante a noite, os mortos se levantam.
 
"Tenho medo da noite" diz a criança. "Durante a noite, os mortos se levantam". Alguém disse isso, ou talvez ele mesmo o imaginou. Foi-lhe explicado que não deveria ter medo da noite e sim, que era preciso distingui-la do dia. Esse é o conselho que lhe foi dado: "Olhe sempre uma janela e, se você não encontrar, olhe os olhos de um ser-humano; e olhando um rosto, não importa qual, você saberá que a noite suscedeu o dia. Então, saiba que a noite possui um rosto".
Desde então, para a criança, passou a haver sempre um rosto do outro lado da janela. "Não era sempre o mesmo, já que a noite não era sempre a mesma". "As vezes," diz a criança: " eram desconhecidos que emprestavam à noite seus rostos em lágrimas ou seu sorriso esquecido. Eu não sabia nada deles, salvo que estavam mortos". Isso foi antes da guerra, precisa Elie Wiesel, depois houve o caos, a indistinção do jure da noite, a aurora reduzida ao crepúsculo. E em todo lugar, estes olhos imensos da morte e das lembranças. Por toda parte onde o sujeito, que presenciou este encontro com o real, por toda parte onde este sujeito vá, estes olhos o seguirão. Esta marca que o diferencia dos outros, que volta sem parar sob a forma de um julgamento dos outros ao qual ele rapidamente renunciou a se dirigir, para se render ao que lhe é implicitamente pedido: se calar, e ocupar o lugar que lhe é designado e onde ele não perturbe a consciência coletiva, aquela da vítima.
O máximo da covardia para aquele a quem ele se dirige ainda, poderia se dizer nesta fórmula:
"por que você diz isso a mim? Não sou eu que devo ser julgado". Que o sujeito escute responder que o Outro - na ocorrência suportável por um pequeno outro - não pode ser o seu juiz, eis aqui o que o convencerá ainda mais de que aquilo mesmo que o recusa, o acusa. Tudo o que o Outro diz, ou não diz, faz ou não faz, dá consistência a este Outro, ou a estes outros pelos quais ele se sente rejeitado, estrangeiro e julgado em uma apresentação muda e repetida, frente ao "tribunal do Outro"
 
A vergonha de existir"
 
Uma suspeita silenciosa é o que nossas sociedades induzam mesmo sem saber. O que elas fazem com seus deportados, com seus combatentes, com seus refens, vítimas de atentados? Se lembrar. Se lembrar ainda é o que impõe a estes sujeitos,na repetição induzida pela marca do encontro traumático. Nesta rememoração, as palavras faltam para dizer o insuportável, na medida em que cessam os lugares aos quais se dirigrir. A quem e como dizer esta solidão que implica e reforça a vergonha? O coletivo não se incomoda com o que acontece a alguns de ter que suportar em silêncio o peso dos resarranjos e do mal estar atuais. Elie Wiesel em "Tous les fleuves vont à la mer" (Todos os rios dão no mar) faz esta afirmação: "Na verdade, podeira, até o fim dos meus dias, consagrar minha vida, minha sobrevida, somente para falar de todos aqueles que a tempestade de cinzas levou. Mas eis o dilema: falar é proibido, se calar é impossível". Eis a questão de saber se isto pode ser ouvido, se o mundo não prefere saber de mais nada, ou pior. Alguns autores deram-se ao trabalho da escrita (Primo Levi, Robert Antelme, Bruno Bettelheim, Elie Wiesel, Jorge Semprun) a força de um testemunho a fim de que reste uma marca que pese no esquecimento. A função é bem outra no nível do coletivo, onde se coloca a questão do esquecimento, e se, no íntimo do sujeito, o apagar da memória é de pura necessidade, do ponto de vista do coletivo, o esquecimento é falta, traíção, cumplicidade com o ressurgimento da barbárie.
Cada um reconhece - e sobretudo se acomoda com- o fato de que uma "reparação" deva ser feita. É a palavra chave. Mas, ao mesmo tempo, ninguém é verdadeiramente tolo, enganado pelo que isso recobre, salvo que ninguém possa denunciar alguma coisa que foi reparada, marcada de um traço indelével. Os olhares estão no registro da desconfiança, que inspiram os homens para os quais alguma coisa de humano foi tocada.
Não se diz exaustivamente: "eles não tinham nada mais de humanos", "o que eles viveram é desumano"? Sem que todos saibam, eles são suspeitos, mas esta suspeita é tocada pela possibilidade de ser dita, sobretudo pelos próprios sujeitos que vivem lá com a acuidade de uma dor indizível. Esta suspeita silenciosa, é o que torna o sujeito excluído da sua própria pátria, excluído dos seus, excluído dos homens. É o que faz dele um estrangeiro, marcado por este encontro com o real, que o lança na vergonha de existir.
Esta vergonha de existir pode ser distinta da "culpa do sobrevivente". Este testemunho de origem americano, apareceu no pós-guerra em 1945. Adotado de primeira por definir um estado particular de prisioneiros sobreviventes, escapa aos utilizadores do termo que ele define as suas próprias posições subjetivas em relação a este sujeito: eis o que eles deveriam sentir! Pois eles, que dizem eles? Primo Levi grita em "Le Survivant" (O Sobrevivente): "ninguém morreu em meu lugar". Elie Wiesel questiona o saber do porquê deveria ser ele o culpado e não aqueles que cometeram atos de barbárie e aqueles que se fizeram de cumplices. Ao homem que, na sua catividade, vir isto, mantém a idéia de que ele reencontrará os seus, a sua pátria brilhando os fogos de sua vida. Freud lembrou que quanto mais ele se aproximasse dele, mais ele se descobriria ‘todo nu e coberto de poeira". "Uma vegonha, uma angústia sem nome, toma conta de você. Você tenta correr e se esconder e você acorda banhado em suor. Enquanto houver homens, lá estará o pesadelo do homem atormentado, rejeitado por todos os lados". O melhor para ele, o que este sujeito poderia saber, é que não há nada a esperar dos outros neste caminho doloroso que se abre em sua frente. Entretanto, ele quer acreditar neste ouro reparador, neste outro que lhe estende a mão onde ele não consegue encontrar ajuda. A questão ética, os outros que citamos anteriormente a chamam assim: fazer algo da vida com todos estes mortos, com a morte.
Se, como nós havíamos dito, Elie Wiesel e outros recusam a culpa, aquela dita do sobrevivente, eles testemunharam ter experimentado a vergonha. Vergonha que produz o encontro traumático, que deixa o sujeito nu sob o olhar do outro. Na verdade, é importante sublinhar que não é pertinente ver o traumatismo do lado da culpa ou de uma vergonha de ter sobrevivido, mas dentro dos efeitos produzidos por essa experiência traumática singular para cada sujeito. A culpa tem relação do que nós poderíamos ter feito e não fizemos. Disto nós podemos nos sentir culpados. Mas a questão fundamental não é de ter sobrevivido lá onde outros morreram. É de ser a partir de onde voltamos, considerado como um estrangeiro, suprimido dos seus. Esta é a questão da vergonha. Não escapa a este sujeito que no grupo ao qual pertence ele é um excluído em inclusão. "Os sujeitos excluídos são sujeitos envergonhados.
 
Que rosto teríamos um para o outro?
 
Esta questão aparece no final de um poema, Buna, escrito em 28 de dezembro por Primo Levi depois da sua libertação dos campos de concentração. Esta percepção do olhar que se volta sobre ele produz um sentimento de culpa. Se ver no olhar de outros leva, aqui, a evocar os olhares dos carrascos encontrados no universo do campo de concentração: os carrascos foram feitos do mesmo tecido que nós, eram seres humamos médios, mediamente inteligentes, de uma maldade média, eles tinham o nosso rosto". Primo Levi faz uma leitura radical do encontro com o olhar dos outros. Não somente como dos carrascos, e o "rosto" que eles tem para nós, mas aquele que nós temos para eles. É sobre este mesmo ponto, aquele do olhar, que Jorge Semprum começa o testemunho da sua experiência. No dia seguinte da libertação de Buchenwald, ele evoca os soldados da armada de Paton que acabavaam de penetrar no campo: "eles estão em minha frente, o olho redondo, e eu me vejo de repente, neste olhar de medo: do pânico deles. [...] eles me olham com olhar desvairado, cheios de honra, [...] só sobra o meu olhar [...] que os possa intrigar. É o horror do meu olhar que revela o deles, horrorizado". Este horror toca na vergonha, vergonha do corpo, no que há de mais real, no que ele revela do real e da morte. Este olhar é visto. Ele não é visto no sentido de um olhar visível, mas imaginado. Levado pelo sujeito ao campo do outro. É isto que surpreende, "reduz o sujeito ao sentimento de vergonha".
 
Produzir uma "vergonhologia" (nota de trad.: hontologie é homófono à ontologie)
 
Esta escrita, esta invensão de Jacques Lacan, "hontologie" é feita para indicar com precisão, que na dimensão ontológica que é causal do sujeito e que é isso que descobre o encontro traumático com a morte, com o horror, além do fantasma que aparece.
É neste surgimento do real que se sente a vergonha no seu laço com o originário e na relação escópica do semelhante: o real aparece no olhar do outro, companheiro ou carrasco. É o que toca Franz Kafka em O Processo, uma obra que comoveu Primo Levi pelo sofrimento lascinante de Joseph K. O sofrimento de uma marca indelével. A condenação à morte de Joseph K. náo é resultado de um processo a partir de um erro, mas a resposta ao fato de existir, dado por um tribunal que não é localisável, salvo por estar em toda parte. Estar condenado à morte pelo fato mesmo de sua existência é o ponto que Primo Levi vê em toda parte: a aprtir de sua experiência no campos: a descrição de modalidades de execussão de Joseph K. é para ele "uma página que tira o fôlego, eu fugitivo de Alshevitz , nunca teria escrito.[...] o condenado deveria tomar para si a responsabilidade de sua própria morte, tomar a faca das mãos do carrasco, fazer um último gesto para que as "autoridades" não tivessem que o fazer.
"Que aquele que possui a marca assegure sua própria disparição", é o que sente Joseph K. Ele deveria consentir nisso, se enfiar a faca, mas ele não cede a esta lógica a que resiste. "Um Homem que quer viver". Assim, aquele que já está condenado, designado a desaparecer recusa a cumprir esta última tarefa e continua a existir, sob o olhar de outros que já o apagaram dos homens. Esta lógica da vergonha é a do existir. Então, não deveríamos mais tê-la , por rejeição ao arbitrário. Esta questão é a do tribunal dos homens, pemanente oculta que julga a existência de um sujeito enquanto tal e, completa Primo Levi, "Joseph com a faca já plantada em seu coração sente a vergonha de ser um homem". Esta vergonha de estar lá tem uma relação muito estreita com o olhar voltado sobre todos aqueles aos quais ele é enviado para se perguntar sobre sua culpa de sobrevivente. Um deslocamento, por covardia.
 

por Guy Briole, psicanalista em Paris

 

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O texto, em francês:

 

Le regard c’est ce qui ne s’oublie pas dans la rencontre traumatique. Le regard, celui qui s’est posé sur le sujet, celui qui fait que quelque chose dans le monde " omnivoyeur " le regarde, celui qui revient de " l’ombre ", ce ne sont pas ses yeux où peut se lire du reproche, de l’amour, de la haine, de la réprobation, de la compassion, etc. Ce regard qui le vise, c’est autre chose, c’est la manifestation de la présence de l’Autre. Ainsi, " Cette fenêtre, s’il fait un peu obscur, et si j’ai des raisons de penser qu’il y a quelqu’un derrière, est d’ores et déjà un regard " . Que ce regard existe fait que quelque chose change aussi pour celui qui se sent regardé : il peut se sentir objet du regard de l’Autre. C’est là précise Lacan la structure de la phénoménologie de la honte.
C’est aussi ce qu’éprouvent les sujets qui ont fait cette rencontre avec l’horreur quand ils sont confrontés au regard des autres. Et là où, pour tous, peut se voir dans les yeux d’un autre le reproche qui induit sa culpabilité, voici qu’ici avec la rencontre traumatique, le sujet se sent regardé par un regard critique qui le perce et déclenche le sentiment de honte.
La nuit les morts se lèvent
" J’ai peur de la nuit " dit l’enfant. " La nuit, les morts se lèvent ", lui avait-on dit, ou peut-être l’avait-il imaginé. On lui expliqua qu’il ne devait pas avoir peur la nuit, et pour cela qu’il fallait savoir la distinguer du jour. Voilà le conseil qu’on lui donna : " Regarde toujours une fenêtre et, si tu n’en trouves pas, regarde les yeux d’un être humain ; en y voyant un visage, n’importe lequel, tu sauras que la nuit a succédé au jour. Or, sache le, la nuit possède un visage. "
Depuis, pour l’enfant, il y eut toujours un visage de l’autre côté de la fenêtre. " Ce n’était pas toujours le même, la nuit n’étant pas toujours la même ". Parfois, dit l’enfant : " Ce furent des inconnus qui prêtèrent à la nuit leur visage en larmes ou leur sourire oublié. Je ne savais rien d’eux, sauf qu’ils étaient morts ". C’était avant la guerre, précise Elie Wiesel. Après, il y a eu le chaos, l’indistinction du jour et de la nuit, l’aube réduite au crépuscule. Et partout ces yeux immenses de la mort et du souvenir. Partout où le sujet, qui a fait cette rencontre avec le réel, partout où ce sujet ira, ces regards le suivront. C’est cette marque qui le fait différent des autres, qui lui revient sans cesse sous la forme d’un jugement des autres, auquel il a très vite renoncé à s’adresser, pour se rendre à ce qui lui est implicitement demandé : se taire et occuper la place qui lui est désignée et où il ne dérange pas la conscience collective, celle de la victime. Le comble de la lâcheté, pour celui auquel il veut encore s’adresser, pourrait se dire en cette formule : " Pourquoi me dis-tu ça, à moi ? Ce n’est pas à moi d’en juger ". Que le sujet s’entende répondre que l’Autre - en l’occurrence supporté par un petit autre - ne peut être son juge, voilà qui le convaincra encore plus que celui-là même qui se récuse, l’accuse. Tout dans ce que l’autre dit ou ne dit pas, fait ou ne fait pas, donne consistance à cet Autre ou à ces autres dont il se sent rejeté, étranger et jugé dans une présentation muette et répétée devant ce " tribunal de l’Autre ".
La honte d’exister
Une suspicion silencieuse, c’est ce qu’induisent nos sociétés, même à leur insu. Que font-elles de leurs déportés, de leurs combattants, de ceux qui ont été otages, victimes d’attentats ? Se souvenir. Se souvenir encore et toujours, c'est ce qui s'impose à ces sujets, dans la répétition induite par la marque de la rencontre traumatique. Dans cette remémoration, les mots manquent pour dire l'insupportable, d'autant plus que ne cesse de se dérober un lieu où l'adresser. À qui et comment dire cette solitude qu'implique et renforce la honte ? Le collectif s'arrange bien de ce que revienne à quelques uns de porter en silence le poids des dérèglements et du malaise actuels. Élie Wiesel dans Tous les fleuves vont à la mer fait cette remarque : "En vérité, je pourrais jusqu'à la fin de mes jours raconter, ne consacrer ma vie, ma survie, qu'à déposer pour tous ceux que la tempête de cendre a emportés. Mais voilà le dilemme : parler est interdit, se taire est impossible." Il se pose la question de savoir s'il peut être entendu, si le monde ne préfère pas ne plus rien en savoir, ou pire. Certains auteurs ont donné à leur travail d’écriture (Primo Levi, Robert Antelme, Bruno Bettelheim, Elie Wiesel, Jorge Semprun) la force d'un témoignage, afin que reste une trace qui fasse poids à l'oubli. La fonction est toute autre, au niveau du collectif où se pose la question de l'oubli. Et si, dans l'intime d'un sujet, l'effacement est de pure nécessité, du point de vue du collectif, l'oubli est manquement, trahison, complicité avec la résurgence de la barbarie.
Chacun reconnaît - et surtout s’accommode - qu’une " réparation " est due. C’est le maître mot. Mais en même temps personne n’est vraiment dupe de ce que cela recouvre, sauf qu’aucun ne peut l’énoncer : quelque chose qui a été réparé reste marqué d’une trace indélébile. Les égards sont à la mesure de la méfiance qu’inspirent ces hommes pour lesquels quelque chose de l’humain a été touché. Ne le dit-on pas suffisamment : " Ils n’avaient plus rien d’humain ", " ce qu’ils ont vécu est inhumain ". A l’insu de tous, ils sont suspects. Mais cette suspicion est frappée d’une impossibilité à être dite, surtout par les sujets eux-mêmes qui la vivent avec l’acuité d’une douleur indicible. Cette suspicion silencieuse, c’est ce qui fait le sujet exclu de sa propre patrie, exclu des siens, exclu des hommes. C’est ce qui fait de lui un étranger, marqué de cette rencontre avec le réel, qui le rejette dans la honte d’exister.
Cette honte d’exister est à distinguer de la " culpabilité du survivant ". Cette terminologie, d’origine américaine, est apparue après la guerre, en 1945. Adoptée d’emblée, pour définir un état particulier des prisonniers survivants, il échappe aux utilisateurs que cela définit davantage leur propre position subjective par rapport à ces sujets : voilà ce qu’ils devraient ressentir ! Car eux, que disent-ils ? Primo Levi le crie dans Le survivant, " nul n’est mort à ma place ". Elie Wiesel pose la question de savoir pourquoi ce serait lui qui devrait porter la culpabilité et pas ceux qui ont commis les actes de barbarie et ceux qui s’en sont faits les complices ?
A l’homme qui, dans sa captivité, se soutient de l’idée qu’il retrouvera les siens, sa patrie brillant des feux de la vie, Freud avait rappelé que plus il s’en rapprocherait, plus il se découvrirait " tout nu et couvert de poussière ". " Une honte, une angoisse sans nom s’emparent de vous, vous essayez de courir et de vous cacher, et vous vous éveillez baigné de sueur. Aussi longtemps qu’il y aura des hommes, ce sera là le rêve de l’homme tourmenté et rejeté de toutes parts ". Au mieux pour lui, ce que ce sujet pourrait savoir, c’est qu’il n’a rien à attendre des autres sur ce chemin douloureux qui s’ouvre devant lui. Pourtant, il veut y croire à cet autre réparateur, à cet autre qui lui tend des bras où il ne peut trouver aucun secours. La question éthique, les auteurs que nous avons cités précédemment la rappellent ainsi : faire de la vie avec tous ces morts, avec de la mort.
Si, comme nous l’avons dit, Elie Wiesel et bien d’autres récusent la culpabilité - celle dite du survivant - ils ont témoigné avoir éprouvé de la honte. Honte que produit la rencontre traumatique, à laisser le sujet nu sous le regard de l’Autre. En effet, il importe de souligner qu’il n’est pas pertinent d’envisager le traumatisme du côté d’une culpabilité ou d’une honte d’avoir survécu, mais bien dans les effets produits par cette expérience traumatique, singulière à chaque sujet. La culpabilité se rattache à ce qu’on aurait pu faire et qu’on n’a pas fait. De cela on peut se sentir coupable. Mais la question fondamentale n’est pas d’avoir survécu là où d’autres sont morts, c’est d’être, à partir de là d’où on revient, considéré comme un étranger, exclu parmi les siens. Ça, c’est la question de la honte. Il n’échappe pas à ce sujet que dans son groupe d’appartenance il est un exclu, en inclusion. " Les sujets exclus sont des sujets honteux ".
Quel visage aurions-nous l’un pour l’autre ?
Cette question est celle qui surgit à la fin d’un poème, Buna, écrit le 28 décembre 1945 par Primo Levi après sa libération des camps. Cette perception du regard qui se pose sur lui produit un sentiment de honte. Se voir dans le regard des autres l’amène, ici, à évoquer celui des bourreaux rencontrés dans l’univers concentrationnaire : " Les bourreaux étaient faits de la même étoffe que nous, c’était des êtres humains moyens, moyennement intelligents, d’une méchanceté moyenne, ils avaient notre visage… ". Primo Levi donne une portée radicale à la rencontre avec le regard des autres, pas seulement avec celui des bourreaux, et au " visage " qu’ils ont pour nous et à celui que l’on peut avoir pour eux.
C’est sur ce même point, celui du regard, que Jorge Semprun débute le témoignage de son expérience. Au lendemain de la libération de Buchenwald, il évoque les soldats de l’armée de Patton qui viennent de pénétrer dans le camp : " Ils sont en face de moi, l’œil rond, et je me vois soudain dans ce regard d’effroi : leur épouvante. […] Ils me regardent l’œil affolé, rempli d’horreur. […] Il ne reste que mon regard […] qui puisse autant les intriguer. C’est l’horreur de mon regard que révèle le leur, horrifié. " Cette horreur touche à la honte, la honte du corps dans ce qu’il a de plus réel, dans ce qu’il révèle du réel de la mort. Ce regard se voit. Il ne se voit pas au sens où ce serait un regard vu, mais un regard imaginé, reporté par le sujet au champ de l’Autre. C’est ce qui surprend et " réduit le sujet au sentiment de honte ".
Produire une " hontologie "
Cette écriture, cette invention de Jacques Lacan, " hontologie " , est faite pour indiquer avec précision que, dans la dimension ontologique, c’est le réel qui est causal du sujet et que c’est ce que découvre la rencontre traumatique avec la mort, avec l’horreur, au delà du fantasme qui y faisait écran. C’est dans ce surgissement du réel que s’éprouve la honte dans son lien à l’originaire et dans le rapport scopique au semblable : le réel saisi dans le regard d’un autre, compagnon ou bourreau.
C’est ce que touche Franz Kafka dans Le Procès, une oeuvre qui avait bouleversé Primo Levi par la souffrance lancinante de Joseph K. La souffrance d’une marque indélébile. La condamnation à mort de Joseph K. n’est pas l’aboutissement d’un procès, à partir d’une faute, mais la réponse au fait d’exister, donnée par un tribunal qui n’est pas localisable, sauf à être partout. Etre condamné à mort du fait même sa propre existence est ce point que Primo Levi rencontre partout, à partir de son expérience des camps. La description des modalités de l’exécution de Joseph K. est pour lui : " une page qui coupe le souffle. Moi, rescapé d’Auschwitz, je ne l’aurais jamais écrite [...] ". Le condamné se devrait de prendre à son compte sa propre mort, prendre le couteau des mains des bourreaux, faire un dernier geste pour que les " autorités " n’aient pas à le faire. Que celui qui porte la marque assure sa propre disparition. C’est ce que ressent Joseph K., il devrait y consentir, se planter le couteau, mais il ne cède pas à cette logique à laquelle résiste " un homme qui veut vivre ". . Ainsi, celui qui est déjà condamné, donc désigné pour disparaître refuse d’accomplir cette dernière tâche et continue à exister sous le regard des autres qui l’avaient déjà effacé des hommes. Cette logique de la honte est celle d’exister alors qu’on ne le devrait plus, par refus de l’arbitraire de la ségrégation. Cette question est bien celle des hommes, de ce tribunal des hommes, permanent et occulte, qui juge de l’existence d’un sujet en tant que tel. Et, ajoute Primo Levi : " [...] Joseph, avec le couteau déjà planté dans le cœur, éprouve la honte d’être un homme ".
Cette honte d’être là est dans un rapport très étroit avec le regard porté sur tous ceux auxquels il est renvoyé de s’interroger sur leur " culpabilité de survivant ". Un déplacement, par lâcheté.
Guy Briole é psicanalista em Paris




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