CONTEMPLACÃO
  
 Se nossos olhos são normais e estão abertos, nós olhamos as coisas que nos cercam. 
 Ás vezes olhamos e não vemos. Ver requer atenção. 
 Então olhar não é a mesma coisa que ver. 
 As vezes detemos o nosso olhar em alguma coisa e descobrimos nela detalhes, nuanças, significados. Chegamos a ultrapassar aquela realidade e transportarmo-nos pela imaginação para uma outra realidade invisível, mas real. Podemos chamar a isto contemplação. 
 Contemplar é mais que olhar, que ver. É ir mais fundo. É ir além da aparência. É perceber o invisível. 
 Ver o invisível... 
 Como pode isto acontecer? 
Já dizia o Pequeno Príncipe: "O essencial é invisível para os olhos. Só se vê bem com o coração". 
 O que é o coração? É o íntimo da pessoa. É o seu centro, o seu núcleo. É a partir daí que se vê o invisível. 
 Esta é a maneira de ver a Deus que é invisível. 
 É procurá-lo, não com a imaginação ou a inteligência, mas com o coração, no mais profundo do ser. 
 A contemplação é um fixar-se em Deus. É um movimento essencial e natural do ser que se volta para a sua origem sua fonte, seu autor. 
É um olhar que não é faculdade da imaginação, nem da inteligência. Pertence ao ser total, Exprime a posição da criatura diante daquele a quem deve tudo que é. 
A contemplação pode ser tão natural quanto é natural para uma criança olhar para seu pai ou sua mãe. 
Acontece às vezes que o olhar da criança volta-se para o pai ou a mãe com tal intensidade de amor, de necessidade, de dependência e isto passa despercebido pelos pais. 
Com Deus acontece o contrário. O olhar de Deus nos acompanha sempre. Nós é que não o percebemos. 
Quando o nosso olhar se volta para Ele e encontramos o seu olhar, nós nos tornamos contemplativos. 
Para que isto aconteça há necessidade de partirmos a caminho da busca de Deus. Ao empenharmos nosso esforço nesta procura, temos a impressão de estarmos agindo sozinhos e sem resultado. 
Aos poucos o caminho vai clareando. Deus vai se manifestando a nós de maneira clara, 
porém inexplicável. 
Deus vai invadindo o nosso ser, a nossa vida, a nossa atividade. 
Começa então um tempo em que entraremos em nova fase da vida espiritual em que Deus age tão fortemente em nós, que suas manifestações serão tão claras que nos colocamos no estado passivo de nos deixar guiar por ele. 
São Paulo expressa sua experiência dizendo: "Já não sou eu que vivo. É Cristo que vive em mim". 
É todo um processo com características e caminhos diferentes para cada pessoa. 
Podemos tentar lembrar alguns passos que poderemos dar para empreendermos a nossa caminhada em busca da contemplação, ou seja, do encontro íntimo com Deus. 
É necessário que tenhamos uma certeza de que isto é possível. 
Existe em nós um desejo profundo de viver uma vida de intimidade com Deus. Este desejo,  este impulso, esta necessidade foi colocada em nós pelo próprio Deus. É algo inerente á natureza humana. 
Deus está á nossa espera. Acompanha-nos com seu olhar. Está nos atraindo e nos dando meios de encontrá-lo. 
Baseando-se nesta certeza que a fé nos dá, teremos a coragem de aplicar com os meios de que dispomos para alcançarmos nosso objetivo. 
E começamos a procurá-lo. 
Reservamos cada dia um tempo para a oração. Cada um já sabe de quanto tempo pode e quer dispor, qual o local e o jeito mais apropriado para fazê-lo. 
Necessitamos de  perseverança na oração, na leitura e meditação da Palavra de Deus. 
Aos poucos Deus vai se revelando a nós, e vamos penetrando no seu mistério. 
A vida divina, da qual participamos vai, por dom de Deus, impregnando nosso ser, penetrando nossa atividade. 
Vai-se realizando em nós o sonho de Deus que nos criou para sermos santos e irrepreensíveis diante dele no amor. 
Percebemos então que tudo acontece gratuitamente por puro dom de Deus. 
Ele se revela a nós de tal maneia que deixa de ser uma idéia para ser uma pessoa com a qual nos encontramos numa experiência pessoal inexplicável. 
Impregnados por esta presença, por esta vida, passaremos a ver o mundo com outros olhos, descobrindo nele uma presença misteriosa que propicia, em todas as circunstâncias da vida,  o encontro com alguém que nos transcende, nos plenifica e dá um sentido novo á nossa realidade pessoal. 
A caminhada que fazemos nos grupos nos leva a este aprofundamento espiritual que cria condições para receber as manifestações amorosas de Deus no íntimo de cada um. 
Isto refletirá, e já reflete nas suas atividades, seus relacionamentos, na sua visão do mundo. 
Mesmo que as lutas, as fragilidades perdurem, continuemos a nossa caminhada. 
Entre quedas e soerguimentos vale a pena prosseguir na escalada do Monte Carmelo. 

Irmã Ilma Duarte Martins   
C.D.P.