Crucifixão
    Neste icone de autoria de um pintor russo do século XVI, vemos o corpo de Cristo curvado para a direita, com a cabeça inclinada e os olhos fechados. Isso é para mostrar que o Senhor crucificado está morto. Mas tem a face voltada para sua mãe e há uma expressão de majestade no sofrimento. O corpo do homem-Deus permanece incorruptível na morte para mostrar a perfeita harmonia entre a natureza divina e a humana na pessoa única de Cristo. 
     A vitória sobre a morte e os infernos é simbolizada por uma caverna aos pés da cruz, abaixo do Gólgota, a rocha que se fendeu no momento da morte de Cristo, para permitir que um crânio aparecesse. É o crânio de Adão, que, segundo a tradição, foi enterrado ali, "o lugar do crânio". Essa narrativa apócrifa tem um nítido ponto dogmático que o ícone da Crucifixão exemplifica: o primeiro Adão foi redimido pelo sangue de Cristo, o novo Adão. Essa redenção estende-se a todo o universo e encontra seu simbolismo mais completo nas três dimensões da cruz descritas no ícone.   
    O madeiro transversal  e o suporte para os pés representam a extensão quádrupla do espaço terrestre; o eixo vertical aponta para o encontro vivificante entre o céu e a terra. A cruz de Cristo abraça o mundo todo e produz uma nova criação
     A arquitetura por trás da cruz representa a muralha de Jerusalém. Além de corresponder à verdade histórica, este detalhe comunicaum preceito espiritual: do mesmo modo que Cristo sofreu do lado de fora das muralhas de Jerusalém, assim também os cristãos precisam seguir Cristo, deixando para trás a segurança do lar da pátria e do próprio mundo. A parte superior da cruz ergue-se acima da muralha, tendo o céu como pano de fundo, simbolizando que a crucifixão no espaço aberto tem significado cósmico - a redenção de todo o universo.     A composição do icone é equilibrada e sóbria, os gestos das figuras são comedidos e circunspectos e a expressão de dor na face da Mãe está reprimida pela fé. A Mãe de Deus parece exortar São João a juntar-se a ela na contemplação do mistério da salvação forjado pela morte de seu Filho. Há uma espécie de terror religioso na expressão de São João, que estende a mão esquerda para a cruz, enquanto com a direita parece tentar cobrir os olhos diante da morte de Jesus. A santa mulher atrás de Maria tem as feições contraídas de dor com a mão esquerda apoiada no rosto em um gesto de lamentação. O centurião que está atrás de São João olha para Jesus na cruz, reconhecendo sua divindade, com os dedos curvados em um gesto ritual de bênção.