LEITURA ORANTE

Meu barquinho  
estava ancorado  
à beira do grande rio  
da "Tradição da Igreja"  
que há milênios  
desagua no Mar,  
ao qual pretendo chegar.  

O barquinho é de tronco bruto,  
mas, de madeira de lei.  
Muito rústico e pobre,  
tem dois remos e um banco  
Desenconstei-o do barranco  
do meu comodismo  
e pus-me a navegar.  

Ainda bem que esse esporte,  
quando mocinha,  
cheguei a praticar!  

Mas o rio é imenso  
em comprimento e extensão!  
Como fazer para chegar então?  

Já sei, me encoraja uma certeza,  
a de que meus irmãos carmelitas  
estão unidos a mim em oração.  
Eles partiram muito na minha frente,  
já desembocaram no Mar  
e lá estão a me esperar.  

Saí devagarinho  
antes do sol nascer.  
A paisagem começou a se descortinar  
logo que o dia clareou.  

Passei pelo Gênesis  
e vi lá na amplidão  
o grande arco iris bimbolizando   



a primeira aliança de Deus com a criação.   

No Êxodo   
acompanhei a caminhada   
daquele povo oprimido.   
Vi Moisés com as Tábuas da Lei   
e com aquela gente me deleitei.   
Cheia de esperança,   
presenciei Deus na Segunda Aliança.   

No Livítico,   
conheci os vários tipos de sacrifícios   
oferecidos a Deus em ritual.   
No Livro dos Números   
vi o povo se organizar   
com um único objetivo    
projeto de Deus realizar.   

tempo foi passando   
e o barquinho, calmo, se deslizando.   

Depois o Deuteronômio - uma segunda lei.   
Por Josué, Juízes e Rute rapidamente passei,   
e a Samuel finalmente cheguei. 

Aí meus braços  
já estavam cansados de tanto remar.  
Parei para comer algo  
e também relaxar.  

No dia seguinte,  
feliz e descansada  
conheci Samuel  
e fiquei maravilhado!...  
Aquela frase  
"Fala, Senhor, que teu servo escuta"  
me tocou profundamente  
e nunca mais me saiu da mente.  

Cada vez que a repetia  
tinha a impressão que Deus me via,  
me escutava e queria me falar!...  
Era uma doce fantasia  
que me deixava cheia de esperança.  

Resolvi interromper a viagem.  
Ancorei o meu barquinho  
e fiquei ali para saber  
se o Senhor tinha algo a me dizer.  

A principio Deus me pedia  
atitudes muito concretas,   
as quais ainda faço de coração.  
Mas, o que eu queria mesmo  
era ficar em silêncio  
unida a ELE em oração.  

Agora, de uns meses para cá  
Deus me fala diferente.  
Basta-me entrar em meditação  
que ELE me sugere:  
-papel e lápis na mão.  

Às vezes me advirto:  
Leza, cuidado com sua imaginação,  
não é isso que Deus quer,  
volta à sua cela  
e ouça-O com atenção.  

Porém fico muito inquieta  
com idéias na cabeça...  
Tenho que passá-las para o papel  
antes que delas me esqueça.  

Perdoa-me, Senhor,  
quero fazer só a tua  
e não a minha vontade.  
Urge estar a serviço do Teu Reino  
sem perder tempo com inutilidades.  

Se o que escrevo Te desagrada,  
por piedade, Senhor,  
não me deixes descambar por esse lado, basta que me digas:  
-Pare.  
E o assunto estará encerrado.  

Maria Angelina Nunes Leal   
(Leza) 


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