TRINDADE, O MISTÉRIO DO DEUS CRISTÃO
Nossa fé não se fundamenta em abstrações
 Em nenhum lugar na Bíblia encontramos um tratado sobre Deus ou sobre o tipo de relação que possa existir entre Pai, Filho e Espírito Santo. As passagens da Bíblia, normalmente usadas para dar base à doutrina da Santíssima Trindade, somente de forma indireta servem a esse propósito, pois a intenção primordial da Escritura não é teorizar sobre Deus, mas mostrar a ação amorosa e transformadora do Deus que não é solidão, deixando sempre entrever uma íntima pertença e comunhão entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo: no nome da Trindade é que os discípulos agirão e batizarão; o Espírito é de Deus e transforma em filhos de Deus os que se deixam conduzir por ele; esse Espírito, orando em nós, nos faz clamar "Abba Pai", ensinando-nos a orar como Jesus orava, atestando que somos filhos de Deus, co-herdeiros do Cristo, participantes de seus sofrimentos, mas também de sua glória (cf. Rm 8,14-17).
 Podemos não compreender muita coisa a respeito da Santíssima Trindade, ou até permanecer na total ignorância. Porém nos enche de alegria a descoberta de que nossa fé não se fundamenta em abstrações, imaginações, conceitos filosóficos... Ela se fundamenta nas Três Divinas Pessoas, que são reais e que, de maneira invisível, convivem conosco e elegeram nosso coração por morada.
Deus que não se fechou em si mesmo.
 A Família Trinitária é fonte e origem da vida, princípio da perfeita comunicação, porto-franco da acolhida para todos os povos da terra... Conhecedores desta verdade, semeada em nossos corações, nós caminhamos para a compreensão de outra verdade, aquela que o próprio Cristo nos revelou: que o Pai, o Filho e o Espírito Santo - que nós imaginávamos remotos e inacessíveis - entraram em nossa condição humana e conosco se misturaram.
 A esta altura poderíamos pensar que o Deus cristão, ou o Deus Trindade por Cristo revelado, tornou-se mais compreensível e mais acessível à nossa inteligência. Mesmo porque ele assumiu o nome e o semblante do ser humano...
 Contudo, o mistério de Deus permanece, mas não faz mal. Mistério é mistério. O que importa é a gente saber que Deus não se fechou em si mesmo. Fez-se Deus Conosco, sempre a nossa disposição e a nosso serviço; defensor de nossa dignidade, avalista de nossos direitos, aliado nosso contra as forças do mal e da morte...
O maior dos doutores da  lgreja, Santo Agostinho, Sobre a Santíssima Trindade (Vl 5,7), escreve: "As três pessoas são um só Deus, grande, sábio, santo e bem-aventurado... O Espírito é, pois, alguma coisa comum ao Pai e ao Filho, seja o que for. Mas essa comunhão é consubstancial e coeterna. Se for mais exato dar-lhe o nome de amizade, que se dê. Mas seria mais adequado chamá-lo de caridade... As pessoas divinas não são mais do que três: um, o Pai, amando aquele que recebe dele; outro, o Filho, amando aquele do qual procede; e por fim, aquele que é a própria caridade, o Espírito Santo"
 A Trindade são, portando, três: o que ama, o Pai; 0 que é amado, o Filho; 0 amor, o Espírito Santo. Da Trindade, não precisamos conhecer as teorias doutrinais; basta-nos contemplar sua ação em nós e deixar-nos ensinar por ela: a perfeita comunhão e participação no amor.
A fusão do humano com o divino.
Quem para durante o dia para orar uns minutos, em casa ou na Igreja,  no lazer ou no trabalho, no parque ou no campo, se encontra com Deus. Para o cristão, orar é conversar com uma pessoa; com ou sem palavras. E dar toda sua atenção a Deus, a Pessoa mais importante, o Centro de sua vida.
 É riquíssima a experiência dos cristãos quando oram a Deus, que é trino! As vezes é com o Pai que conversam, adorando e louvando com a confiança de um filho. As vezes contemplam o Filho, acompanhando-o nos acontecimentos que o Evangelho narra de sua vida humana, partilhando com ele sentimentos e experiências humanas. E às vezes a pessoa que ora descansa no Espírito, abrindo-se a ele para que lhe comunique ainda mais a vida e o amor, a verdade de Deus.
 A oração é uma ocasião de aprofundar os laços que unem a realidade da gente com a realidade divina. Esta fusão com o divino, quando autêntica, se prolonga o dia todo e transforma nossas atividades, fazendo-nos participantes da construção do Reino de Deus no meio dos homens. E se, às vezes, na oração, nossa atenção se dirige a Nossa Senhora, Santa Rita ou a quaisquer outros habitantes do Céu é porque estes souberam servir a Deus com fidelidade e agora nos acompanham passo a passo com sua presença e interesse. Ajudam-nos a descobrir o segredo da oração-ação fundamentada na fé que nos incorpora cada vez mais na família de Deus Pai, Filho e Espírito Santo.
 Mais do que com a ajuda de raciocínios teológicos, Deus poderia ser melhor compreendido conhecido e amado por nós, à medida que tomarmos conhecimento de nosso irmão, na hora em que começarmos a praticar a partilha fraterna, a justiça e o amor...

(Fermento n.º 11 - Informativo da Paróquia N.S.de Fátima- Viçosa,MG)