UMA CASA PARA IDI AMIM |
Edna Cardozo Dias
Idi Amim é um pobre gorila que vive encarcerado no zoológico de Belo Horizonte, tendo passado quase toda sua vida numa jaula de cimento e ferro de apenas seis metros de comprimento e três de largura. Sua triste história de cativeiro, solidão e tédio vem comovendo a população há mais de vinte anos.
Este
nome Idi Amim foi dado, injustamente, por uma bióloga, que se inspirou na
imagem negativa do major-general Idi-Amim Dada, elevado ao poder em Uganda, república
da África Oriental, por um golpe militar em janeiro de 1971. Figura folclórica
levou a destruição ao país e acabou deposto pela Frente Nacional da Libertação.
Evidentemente,
esta figura nada tem a ver com os gorilas, que apesar de grandes e fortes são
seres pacíficos, habitam em bosques impenetráveis e comem cana-de-açúcar e
brotos tenros de bambu.
O
drama de Idi Amim começou em 1975, quando chegou em Belo Horizonte com dois
anos de idade, na companhia de uma linda gorila, que recebeu o nome de Dada.
Eles vieram trazidos de Wiesbaden, Alemanha, e nasceram em cativeiro, no zoológico
de Saint-Jean, na França.
Eles
chegaram no zoológico de Belo Horizonte presos em um caixote do tamanho dos que
são usados para transporte de cães. Dada não resistiu a tanta tirania, e três
anos depois morreu de otite aguda. Seu corpo foi doado para estudos. Idi Amim
ficou só e exposto à curiosidade pública.
Em
1984 trouxeram a gorila Cleópatra para desposar o triste gorila. Ela veio da
Fundação Parque Zoológico de São Paulo. Mas, Cleópatra havia sido mal
casada, com o gorila Virgolino, neurotizado pelo cativeiro, que a espancava
brutalmente.
Traumatizada,
exausta da viagem por terra, Cleópatra morreu antes de completar duas semanas
ao lado de Idi Amim, com problemas cardio vasculares e insuficiência hepática.
Seu corpo jaz embalsamado na Pontifícia Universidade Católica. A morte de Cleópatra
motivou uma chuva de telegramas de condolências. E motivou, ainda, a melancólica
reportagem " O drama de Idi Amim ( ou por amor também se morre), que
comoveu as pessoas mais sensíveis.
Com
cinco para seis anos, Idi Amim mudou de comportamento. Até abandonou seu
brinquedo, um pneu Good-Year. Ele ficou apático, rejeitava comida, ficou com
gastrite e vivia deitado, babando, com a mão na barriga. Ainda por cima tinha
três dentes com raízes expostas.
O
público exigente atirava objetos para obrigá-lo a se levantar e se divertir.
Idi Amim acabou sofrendo uma parada cardíaca e a imprensa comovida apelava por
ajuda financeira, que permitisse a construção de um recinto digno para o
gorila. A notícia foi divulgada na comovente reportagem de Hiran Firmino
intitulada " Idi Amim, um gorila à beira da morte."(1993)
Mas,
só agora, com mais de vinte anos ( os gorilas vivem de 25 a 30 anos) Idi Amim
teve direito a uma casa nova, que poderá lhe permitir a visita de companheiros
de sua espécie. Está numa jaula com grande variedade de vegetais, cachoeira,um
túnel, e duas rochas.
Mas,
a insensibilidade e inveja do ser humano racionalizável, parecem incuráveis.
Vozes se levantam indignadas com o recinto que recebeu Idi Amim, em recompensa
por ter oferecido sua vida em holocausto ao desenfado das crianças. O povo
gostaria que Idi Amim se sacrificasse mais e lhe fosse negado o mínimo de
conforto para que se legasse a verba gasta às crianças da favela, aos sem
terra, aos sem teto e aos sem coração.