Loucura, violência, sexo e... música

Douglas Dickel

(Fonte: http://www.vies.unisinos.br/_05/laranja.htm)

Stanley Kubrick era, antes de tudo, um maluco. Explorador e analisador da loucura humana. Sempre soube escolher a trilha sonora certa para provocar sentimentos no espectador. Quem não associa a valsa Danúbio Azul e Assim Falou Zaratustra, de Strauss, com as cenas de 2001, Uma Odisséia No Espaço. O mesmo acontece em Laranja Mecânica (A Clockwork Orange), topo da maioria das listas de cult movies de todos os tempos. As músicas marcaram a saga de Alex, vivido por Malcolm McDowell (Calígula).

A realidade é outra, não há dia ensolarado. Alex lidera um grupo de drugues, que se alimentam de violência e leite plus. Eles usam chapéus pretos tipo Chaplin, roupas brancas com cuecas sobrepostas - salientando os órgãos masculinos - e porretes para sair demolindo com tudo e com todos.

Aqui já entra outro ingrediente da mente criadora de Kubrick: a violência. Os quatro drugues estupram uma mulher até a morte. Enquanto penetra a vítima, Alex canta feliz da vida Singing In The Rain, cuja original de Gene Kelly está no CD.

Outras alegrias são a valsa The Thieving Magpie, de Rossini, e a marcha Pomp and circunstance No.1, de Edward Elgar, tocadas por orquestra.

E o sexo já está na roda. As cuecas, os porretes e os leitinhos para ficarem fortes e carregarem a agressividade seriam um prato cheio para Freud, se estivesse vivo.

Durante os pensamentos em voz alta de Alex no início do filme, toca Title music from a clockwork orange. Noutros momentos desses, pode-se ouvir Theme from a clockwork orange beethoviana. As duas são sequências de timbres sintéticos, tipo Vangelis em Blade runner.

Quem assina a trilha é Walter Carlos, que toca erudito com sintetizador. Ele tem estilo único. Suas músicas são hipnóticas e misturam futurismo com medievalismo. (Uma curiosidade contada pelo amigo doutor Sérgio Euclides: Walter Carlos hoje em dia é mulher, trocou de sexo.)

Na cena em que duas mulheres se revezam na cama com Alex, as transas e trocas de roupa aparecem em câmera rápida. E a música é perfeita: William tell overture, de Rossini, aquela do Correspondente Ipiranga Rádio Gaúcha. Se a original já dá impressão de cavalos correndo, espere para ouvir esta versão de Carlos.

Quando é preso, Alex serve de cobaia para um programa de reabilitação psicológica. Os médicos escolhem a música preferida do rapaz, Nona Sinfonia de Beethoven, para ele relacionar inconscientemente com as torturas visuais que passou a sofrer. A bela composição do senhor Ludwig Van pode ser ouvida em três faixas, duas versões do Quarto Movimento e uma do Segundo. Os quase-vocais são interessantes e até meio cômicos.

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