Quem É o Capitão Pieter
Sexta-feira, 2 de Março de 2001
"Sempre que matou uma vítima tinha uma arma pronta a usar contra si", disse Pieter Hendrik Groenewald ao agente da Polícia Judiciária (PJ) Vítor Antunes em Novembro de 1997. Na África do Sul pertencia aos serviços secretos militares integrando a CCB, uma unidade totalmente clandestina, conta à PJ.
No âmbito das suas funções, Groenewald movia-se num quadro de acções contra o ANC (Congresso Nacional Africano), incluindo espionagem com recurso ao mais sofisticado equipamento electrónico, manobras de contra-informação, intoxicação e até eliminação de negros apoiantes do ANC, que designou na sua conversa com aquele agente da PJ como "terroristas".
No Tribunal Provincial do Transvaal constam contra si dois homicídios voluntários de homens negros, bem como a tentativa de homicídio de um terceiro, também negro, refere a informação daquele tribunal, aquando de um pedido de extradição enviado para Portugal em 1997.
Face às mudanças políticas ocorridas no seu país natal (as transformações que conduzem ao fim do "apartheid" começam no início dos anos 90), todos os elementos das forças de segurança ficam numa situação fragilizada, especialmente os das unidades especiais. Assim, Groenewald é aconselhado a abandonar o país por um superior hierárquico, que ele diz ter-lhe fornecido um passaporte português falsificado.
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O destino escolhido é Portugal. Enquanto oficial dos serviços militares da África do Sul, Groenewald diz que desde 1986 mantém contactos com oficiais dos Serviços Militares Portugueses (SIEDM). Sempre houve intercâmbio de informação sobre a situação em Angola e Moçambique, diz ao agente da PJ.
Em interrogatório, conta que, quando chega a Portugal, em 1991, é recebido por elementos daqueles serviços. Nesse ano diz ter sido contactado por um elemento do SIEDM que já conhecia da África do Sul, Mário Correia da Cunha, com vista a prestar serviços que não especificou, e terão durado até 1995. Contactou os seus superiores na África do Sul, que autorizaram a colaboração, enquanto não se dava o seu esperado regresso.
No fim do mesmo ano, teve conhecimento de que não seria publicada qualquer amnistia no seu país. Viu-se assim obrigado a ficar em Portugal. Demitiu-se então das suas funções no Serviço Secreto Militar, onde ocupava o posto de capitão.
Em Portugal disse manter funções de consultor de segurança como "manager director" da empresa Intertrack, que não se encontra no registo de pessoas colectivas, que forneceria serviços de escutas e detecção de escutas a empresas de segurança e embaixadas.
É no final de 1995 que é contactado pelo agente do SIS António Luís Lopes Silva, que lhe propõe que passe a trabalhar para o SIS. Afirma ter sido pago pelo SIS mensalmente, em dinheiro, sendo ainda compensado pelas suas despesas de gasolina e telefone.
Nos seus antecedentes familiares já constam ligações ao mundo das secretas. O seu pai, Tiene Groenewald, foi chefe dos serviços de informações militares do Exército da República da África do Sul aquando da vigência do "apartheid", sendo deputado de um grupo político de extrema-direita, o Partido Frente da Liberdade, e um dos responsáveis por um massacre ocorrido em 1987 no Kwazuku/Natal, informa uma nota de serviço da PJ de 1996.