Presidente da Fundação de Vara Deixou PS em Pânico Por JOÃO PEDRO HENRIQUES Quarta-feira, 25 de Abril de 2001 FPS ainda tem 55 mil contos em sua posse O PS desesperou ontem com o depoimento do ex-presidente da fundação, o general Tomé Falcão Foi um verdadeiro martírio para o PS o depoimento, ontem, na comissão parlamentar de inquérito da Fundação para a Prevenção e Segurança (FPS), do antigo presidente da fundação - e agora presidente da sua comissão liquidatária - o general Tomé Falcão. O general, muito nervoso, foi sendo conduzido pelos deputados do PSD - sobretudo Carlos Encarnação - para onde estes queriam que fosse, mas ainda de os parlamentares sociais-democratas o começarem a interrogar, já o general estava a dizer, para desespero dos socialistas, que "nada foi efectuado na fundação sem conhecimento de Armando Vara". Vara, recorde-se, impulsionou a criação da fundação na legislatura 95/99 como secretário de Estado da Administração Interna e depois, já nesta legislatura, tutelou-a como ministro do mesmo pelouro. O PS tentou várias vezes interromper o "massacre" a que Tomé Falcão estava a ser sujeito mas em vão - e neste fracasso colaborou bastante o presidente da comissão, o socialista Barros Moura. O objectivo do PSD era apenas provar que a FPS não tinha na verdade qualquer existência autónoma em relação ao Governo e que portanto é o Governo - este e o anterior - o responsável por irregularidades detectadas pela Administração Geral da Administração Interna (IGAI) nas contas da FPS, nomeadamente a não celebração de contratos com agências publicitárias e não apresentação das suas contas ao Tribunal de Contas. "Seráfico" (expressão de um deputado do PS) e com voz doce, Carlos Encarnação conduziu o general - que considerou a "principal vítima" deste caso - a confessar que tudo o que FPS fez foi com conhecimento de Armando Vara. Tomé Falcão admitiu que as empresas publiticitárias com quem a FPS operou lhe foram indicadas pelo então director-geral de Viação (que se demitiu na sequência do escândalo), que a FPS não tinha nenhum dinheiro quando pediu ao Governo para ser oficialmente reconhecida (ao contrário do que disse por escrito quando pediu esse reconhecimento), que não houve nenhum concurso público para as adjudicações às agências com quem trabalhou, e até, muitas horas depois de a reunião ter começado, que essas relações da FPS com as agências não foram sequer objecto de contrato. Mais adiantou que a FPS nasceu por iniciativa directa de Armando Vara, que dos seus corpos dirigentes só conhecia dois elementos - os restantes foram indicados pelo gabinete de Vara. E chegou ao ponto de confessar que a fundação teve na sua curta existência (Junho de 99 a Dezembro de 2000) uma actuação que não estava de acordo com aquilo que ele achava que devia ter sido a "essência profunda" da sua actuação. Por outras palavras: para Tomé Falcão a fundação deveria ter apostado essencialmente na criação de um centro de documentação sobre questões de segurança rodoviária; de um "site"; e ainda de uma revista. Mas o que acabou por acontecer foi que acabou virada para a promoção de campanhas publicitárias, área em que gastou o essencial dos cerca de 400 mil contos que recebeu do Estado. Aliás, quanto a questões de dinheiro, o general revelou também que ontem mesmo recebeu ordens do secretário de Estado da Administração Interna, Rui Pereira, para transferir para a Prevenção Rodoviária Portuguesa (PRP) e para a Direcção Geral de Viação (DGV) a quase totalidade dos cerca de 55500 contos que ainda tem nos seus cofres. Mais precisamente: 50 mil para a PRP e 2500 para a DGV. Os três mil contos que sobram aguardam ordens do secretário de Estado, adiantou o general. Com todas estas revelações, os sociais-democratas e o deputado PP Telmo Correira não escondiam a satisfação, os socialistas já não sabiam mais o que fazer - e à hora do fecho desta edição a reunião prosseguia. Sinal do pânico do PS foi o facto de Maria de Belém se ter a certa altura insurgido contra o facto a sala ter uma disposição em que os deputados socialistas estavam de costas para os jornalistas e os do PSD de frente. "Só tenho olhos para si", respondeu Carlos Encarnação. Publico