O governo dos juízes (primeiro              assalto)
Paulo C. Rangel             

p.rangel@clix.pt             



Os juízes são, a par dos jornalistas (e dos seus patrões), um poder emergente. Dado que exercem um poder              público, impõe-se repensar o seu estatuto e função.
Também eles não              conhecem controlo, restando como garantia o sentido pessoal da              independência e uma remota deontologia corporativa (sempre              suspeita).
Na eleição para o Conselho Superior de Magistratura              venceu por larga margem (5-2) uma lista que, inspirada em movimentos              pró-judicialistas italianos, defende
o reforço do autogoverno dos              juízes. De tradição sindicalista, politizada à esquerda, tal              corrente vê os juízes como proletários (ou engenheiros sociais), a              quem falta a consciência de classe. E pretende fazer da judicatura              um estado à parte (um estamento), governado pelos seus membros, que              ponha na ordem os políticos, os empresários e, já agora, com um leve              jeitinho, o povo. A pressa é tal que quer agendar o assunto no              pacote da revisão constitucional.
É só o primeiro assalto e há              motivos para séria preocupação. Durão continua entretido com a greve              dos polícias. E,
na crise de Camarate, o ministro Costa já mostrou              que não se vê como o representante do poder democrático junto das              corporações judiciais? Antes se perfila como o embaixador das              corporações junto do poder        democrático.