SIS Actuou com "Preconceito Ideológico" em Relação a              Partidos de Esquerda
Por EDUARDO              DÂMASO

Sexta-feira, 2 de Março de 2001
As conclusões são do relatório final do Ministério              Público sobre as actividades do SIS em 1996. UDP, PSR, MRPP, PCP              eram partidos "perigosos" ou, de uma forma mais ou menos objectiva,              "subversivos"
A actuação dos Serviços de Informações de Segurança (SIS) durante              o tempo em que teve como director Ladeiro Monteiro foi marcada por              "um preconceito ideológico" contra os partidos de esquerda e de              extrema-esquerda. Esta foi uma das principais conclusões do              relatório final da investigação feita pelo Ministério Público, que              traçava um cenário "complexo" das actividades do SIS, consideradas              "muito próximas, em alguns aspectos, de um quadro mental típico do              Estado Novo". Os serviços de informação não praticaram crimes, como              escutas ilegais ou outros, mas actuaram de uma forma que "atenta              contra um Estado plural e democrático".
Todos os partidos de esquerda e de extrema-esquerda estavam              debaixo da mira dos homens do SIS nos tempos em que esta "secreta"              era dirigida por Ladeiro Monteiro. A UDP, por estar associada pelos              especialistas do SIS ao bloqueio da Ponte 25 de Abril, era              considerada uma associação política "subversiva". De idêntica              classificação não se livravam outros partidos, como o PSR e o MRPP,              mas o próprio PS foi associado a acções de contestação ao Governo              dirigido por Cavaco Silva. Os sindicatos foram também um alvo              preferido das "infiltrações" de agentes do SIS, facto que é              considerado claramente exorbitante em relação ao quadro de funções              que a lei atribui a esta "secreta" civil.
Na óptica dos investigadores, aliás, um dos pecados originais do              SIS residia no facto de muitas das suas acções serem feitas com uma              lógica "de serviço ao Governo e não ao Estado". Quer através de              testemunhos orais quer de documentos encontrados nos serviços, os              investigadores do Ministério Público consolidaram a tese de que, em              boa medida, o SIS, mais do que actuar em "roda livre", parece nunca              se ter reencontrado com a sua verdadeira vocação, ou seja, acautelar              a segurança do Estado.
O inquérito do Ministério Público foi instaurado no Verão de              1994, na sequência de suspeições denunciadas publicamente por              António Guterres sobre alegadas actividades de vigilância de agentes              do SIS em relação aos partidos de oposição. Foi o próprio Daniel              Sanches, magistrado do Ministério Público, que transitou do Serviço              de Estrangeiros e Fronteiras para a chefia do SIS, na sequência do              escândalo protagonizado pelo director destes serviços na Madeira,              quem originou o inquérito ao apresentar na Procuradoria-Geral da              República uma queixa contra incertos.


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