Por Félix Llaugé
Dentro
do mundo do ocultismo, por vezes, ganharam renome especial pessoas que,
pelos seus estudos e investigações, se destacaram em tão
árido e enigmático campo. Noutras ocasiões foram os
seus praticantes, os magos, os bruxos, etc., que ganharam uma significativa
popularidade, tanto pelos seus escândalos, como pela sua singular
personalidade. Tal foi o caso do inglês Aleister Crowley, recordado
no mundo da magia e do esotérico como um ser aberrante, ainda que
dotado de um extraordinária talento para as Ciências Ocultas.
Crowley
rompeu com todos os moldes ritualísticos então estabelecidos.
Se, por um lado, procurou assimilar os conhecimentos clássicos mais
diversos, por outro, não hesitou em melhorar tais práticas,
introduzindo fórmulas novas e praticando a Magia Verde até
níveis que raiavam a obsessão erótica. Foi muito criticado,
atacado e caluniado, porém não perturbou. Inclusivamente,
encontrava certo prazer em ser o alvo do ódio de uma sociedade que
considerava caduca e atrasada. Isso ajudava, além disso, a realçar
a sua enigmática figura de mago, posto que ele próprio tinha
adoptado os nomes de «o homem mais perverso do mundo» e «a
Grande Besta 666» (fazendo referência, com este número,
ao Anticristo que proclama o Apocalipse).
Para
compreender, em parte, a actuação e mentalidade desta mago
que, apesar dos seus extravios, raiou o genial, penetrando nos planos mentais
e mágicos, nos quais ninguém tinha ousado encontrar antes,
há que recordar que nasceu em 12 de Outubro de 1875, o ano em que
Helena P. Blavatsky e o seu companheiro, o coronel Olcott, fundavam em
Nova Iorque The Theosophical Society (A Sociedade Teosófica). E
por aquela época achava-se em pleno auge o movimento espiritista
em todo o mundo. As irmãos Fox assombravam com as suas experiências
e as investigações de William Crookes sobre o espiritismo
eram seguidas com grandes interesse pelo público, enquanto as seitas
e as sociedades secretas abundavam por todas a parte e havia poucos meses
que tinha falecido outro extraordinário, o francês Éliphas
Lévi, autor de vários livros de magia, entre os quais se
destaca Dogma e Ritual da Alta Magia.
Crowley
veio ao mundo num período de enorme efervescência místico-esotérica,
num momento em que a intensa inquietação pelo secreto e pelo
oculto alcançava quotas muito elevadas. Abundavam as seitas revolucionárias,
os textos teosóficos, os escritos sobre missas negras, os escândalos
dos grupos espiritistas e a propagação de doutrinas orientais
que abriam ao homem a janela de um mundo tão surpreendentes como
enigmático, até então ferreamente fechado pelo absolutismo
cristão. Crowley escolheu este mundo e desprezou tão publicamente
quanto pode o falso puritanismo que até então havia sido
o espelho da sociedade inglesa e, em parte, ocidental. Nesse marco mágico-espiritual
desenvolveu-se a personalidade de Crowley, rebelando-se contra todas as
normas sociais e religiosas, até ao ponto de ele próprio
acreditar ser «A Grande Besta».
O
verdadeira nome deste singular mago era Edward Alexander Crowley e nascera
em Leamington, Warwickhire (Inglaterra). Mas, em 1895, quando tinha vinte
anos de idade, decidiu desligar-se do seu nome de origem, que considerava
pouco menos que uma estupidez familiar, e adoptou o sobrenome de Aleister
(na realidade de Alistair, a forma gaélica de Alexander), com o
qual seria mundialmente conhecido.
No
Verão de 1898, Crowley partiu para a Suíça, para fazer
alpinismo, de que gostava tanto como de escrever poemas. Em Zermatt (Alpes
suíços), conheceu um inglês chamado Julian L. Baker,
estudioso dos fenómenos ocultistas. Ambos os homens tinham conhecimentos
alquímicos e logo travaram uma forte amizade, unidos pelos seus
conhecimentos esotéricos.
De
regresso a Londres, Baker apresentou Aleister a um jovem químico
chamado George Cecil Jones, que era membro da sociedade mágica denominada
Hermetic Order of The Golden Dawn (Ordem Hermética da Alva de Ouro).
Esta nova amizade ia ser decisiva para o inquieto Aleister, pois através
dela ia penetrar nos verdadeiros arcanos da magia.
Golden
Dawn era uma sociedade secreta dedicada ao ensino da magia entre um grupo
de pessoas seleccionadas. Supunha-se que esta sociedade era depositária
de segredos que se atribuíam a Hermes Trismegisto. Segundo parece,
nas suas remotas origens era uma irmandade de rosacrucianos, que mais tarde
derivou completamente para as práticas mais diversas. Cerca de 1850,
com a morte de alguns dos seus membros mais notáveis, a sociedade
pareceu eclipsar-se, mas cobrou novo alento na década dos 80.
Na
sua primeira etapa, a Golden Dawn contou entre os seus sócios ocultistas
tão famosos como Éliphas lévi, Ragon, Kenneth R. H.
Mackenzie e Fred Hockley. E dos membros dessa segunda época há
conhecidas e importantes como o poeta W.B.Yeats, o escritor de temas sobrenaturais,
Algernon Blackwood, o genial literato do mundo do horror e do inexplicável,
Arthur Machen, Bram Stocker (o criador literário de Drácula),
a actriz Florence Farr, o ocultista Dion Fortune, Austin Osman Spare, Allan
Bennett, Samuel Liddell MacGregor Mathers, William Wynn Westcoot e Sax
Rohmer.
Em
1884, a sociedade entrou na posse de um misterioso manuscrito que foi decifrado
por S.L.MacGregor Mathers que sucedeu a W.W.Westcott, uma autoridade da
Cabal, como cabeça visível da Golden Dawn. Mathers traduziu
e publicou em inglês
As Chaves de Salomão e O Livro da Magia
Sacra de Abra-Melin o Mago.
Foi
nesta ordem que Aleister Crowley se iniciou na alta magia, começando
a subir o fantástico, mas também penoso, caminho que o havia
de conduzir ao ponto máximo do sobrenatural. Foi aceite como membro
em 18 de Novembro de 1898, começando pelo grau zero, como Neophyte.
Tal
como sucedia entre os maçons e rosacrucianos, na Golden Dawn havia
várias graus de membros e os chefes eram secretos, embora existisse
uma cabeça visível da Ordem. A graduação dos
membros era a seguinte:
Primeira
ordem
Neophyte
- grau zero.
Zelator
- 1.º grau.
Theorius
- 2.º grau.
Practius
- 3.º grau.
Philosophus
- 4.ºgrau
Segunda
ordem
Minor
- 5.º grau.
Adeptus
Major - 6.º grau.
Adeptus
Exemptus - 7.º grau.
Em
Dezembro do mesmo ano do seu ingresso, Crowley alcançou o grau de
Zelator; depois obteve o de Theoricus e dois meses mais tarde o de Practius.
Em
Maio de 1899 era já Philosophus, o que dá uma leve ideia
da sua capacidade para assimilar conhecimentos mágicos, pelos quais
sentia uma verdadeira obsessão, sobretudo sob o ponto de vista prático.
Não havia ritual nem invocação que se não atrevesse
a realizar, por muito perigoso e obsceno que o mesmo fosse, especialmente
quando escalou os graus da Segunda ordem.
Disposto
a cruzar todas as fronteiras humanas e da mente, pensando na «projecção
astral», tomou as mais exóticas drogas que, segundo a tradição
mágica, «lhe podiam abrir as portas do mundo que se encontrava
por trás do véu da matéria». Usou o ópio,
a cocaína, o haxixe... E em breve a sua existência de transformou
numa série de êxtase , abominações, perversões
mágico-sexuais e audácias, desafiando a opinião publica
de todos os países que percorreu.
Uma guerra mágica
Na
sua procura de novos segredos místicos ou mágicos, Crowley
viajou, entre os anos de 1901 e 1902, pela Índia, Ceilão
e Egipto. Com enorme quantidade de escritor e apontamentos, tirados dos
mais raros grimórios, regressou à Inglaterra, isolando-se
nas suas terras de Boleskine, próximo do lago Ness, na Escócia.
Tinha ali erigido um templo em que realizava os rituais mágicos
prescritos por Abramelin ou Abra-melin nasua
Magia Sacra, e que eram imprescindíveis
para entrar em contacto com os seres do plano astral ou espíritos
superiores.
Pouco
tempo mais tarde, quando tinha vinte e oito anos, contraiu matrimónio
com uma viúva chamada Rose Kelly. O casal foi em viagem de núpcias
a varias cidades europeias, atéue chegou ao Cairo. Uma vez ali,
Aleister convenceu Rose a passar com ele uma noite na Câmara Real
da Grande Pirâmide. Seguindo rituais ancestrais, evocaram o deus
Thot; tiveram estranhas visões e Crowley saiu da Grande Pirâmide
convencido que se encontrava no bom caminho para desenvolver os seus poderes
mágicos e, assim, entrar em contactos com as forças superiores
invisíveis que nos rodeiam.
O
casal prosseguiu viagem até Ceilão, mas, em 1904, regressou
ao Cairo, onde alugou um andar inteiro do Museu Boulak. Ali, Crowley realizou
uma série de cerimonias magicas para invocar Thot o deus egípcia
da magia. E, no meio de estranhas e surpreendentes circunstâncias,
uma potência angélica, que dava pelo nome de Aiwass, ditou
a Aleister «O Livro da Lei» (The Book of the Law) ou Liber
Legis, no qual se prediz a destruição da civilização,
tal como o conhecemos, e se proporciona um guia para formar a nova era.
Aleister
considerava-se o ser eleito para ensinar o novo caminho, a força
mágica que havia de servir de archote à nova civilização,
mas o seu credo somente foi aceite por uma minoria, embora actualmente
os acontecimentos pareçam dar-lhe razão.
Considerando
que reunia maiores méritos que MacGregor Mathers para dirigir a
Golden Dawn, deu os passos necessários para minar a personalidade
daquele. Vendo a ambição de Crowley, Mathers utilizou todos
os seus conhecimentos ocultistas para enfrentar o seu rival, e o resultado
foi uma terrível guerra mágica entre os dois colossos do
ocultismo inglês.
O
orgulhoso Mathers depreciou totalmente as revelações feitas
pelo Aiwass a Crowley e enviou-lhe, por meio de rituais de Magia Negra,
uma série de demónios para o atacaram. Segundo parece, os
ditos rituais demoníacos foram tirados por Mathers do livro de Abra-Melin.
O
resultado foi que a ninhada de sabujos de Crowley morreu misteriosamente
e o seu criado enlouqueceu, tentando matar Rose. Aleister, armado com um
arpão de pescar salmões, conseguiu encerrar o demente no
sótão, de onde foi retirado pela polícia.
Uma
vez recomposto da surpresa desse ataque, Crowley passou à contra-ofensiva
mágica. Evocou as forças guetianas, as potênciasmalignas
e os quarenta e nove servidores de Belzebu (Alcanor, Diralisen, Ergamen,
Lamalon...) atacaram Mathers na sua residência de Montmarte (Paris).
Este defendeu-se com as suas artes mágicas do furibundo ataques
dos entes malignos, mas, embora tivesse ficado com vida, até à
sua morte já não teve forças para continuar a lutar
«A Grande Besta» S. L. MaGregor Mathers morreu, em 1918, sem
ter feito nada de notável naqueles últimos anos. A sua saúde
tinha ficado bastante abalada devido ao assalto das forças astrais
e demoníacas postas em acção por Crowley. A direcção
da Golden Dawn passava inteiramente para as mãos de Aleister.
Rose,
que era dotada do dom da clarividência, pode «presenciar»
o ataque dos referidos entes malignos e descreveu-se a Crowley, que incluiu
as descrições de alguns deles na sua obra The Scented Garden
of Abdullah, the Satirist of Shiraz («O Jardim de Abdullah, o Satírico
de Shiraz»): Nimorup (espécie de anão de grande cabeça,
longas orelhas e lábios a escorrer baba, de um verde bronzeado)
e Nominon (uma espécie de grande e esponjosa medusa com uma mancha
esverdeada e luminosa, como se se tratasse de uma obscena confusão).
Obras e malefícios de Crowley
Crowley
praticou uma forma de magia ao estilo dos Vamacharis, seguidores da Senda
da Mão Esquerda, que efectuavam os seus rituais com mulheres, pois
estas pertencem à Lua, à esquerda, Crowley enriqueceu os
rituais com práticas sexuais tântricas recolhidas nas suas
viagens à India.
Foi
tal a sua obsessão pela magia, que se pode dizer que, fora das suas
invocações e evocações, Aleister não
teve contactos com mulheres. Praticou com elas varios tipos de ritos sexuais;
em alguns foi ajudado pela irmã Leila Bathurst, grande secretária
geral da OTO (Ordo Templi orientais, ordem dos Templários do Oriente),
que foi a sua «mulher escarlate» (a mulher que encarnava a
potência sexual criadora).
Apesar
das suas perversões eróticas, Aleister Crowley foi um cérebro
sem igual para o estudo das Ciências ocultas. Graças e ele
foram recuperados manuscritos mágicos, actualizaram-se rituais das
antigas religiões mágicas, o que é mais importante,
o ocultismo tomou um enorme impulso em plena século XX. Não
só transmitiu uma nova seiva à Golden Dawn, como, em 1905,
fundou a AA (Astrum Argentinum), associação cujo mágico
pretendia formar profetas.
Crowley
introduziu nos seus rituais mágicos algumas invocações
gregas e egípcias combinadas com os princípios do yoga. Proclamava
que cada pessoa era uma estrela e que o supremo objectivo do oficiante
devia ser «transpor o abismo». Sempre defendeu os rituais com
poucas pessoas e dizia que aquele que desejasse conhecer a magia devia
investigar e experimentar a sós. Afirmava que as «forças
ocultas» só inspiravam individualmente profetas, não
multidões.
Os
ritos dos antigos egípcios e gregos tiveram grande preponderância
na magia de Crowley que pretendia ser a reencarnação do sacerdote
tebano Ankn-f-n-Khonsu, que viveu durante a XXVI dinastia.
Partidário
da reencarnação, Crowley dizia ter tido revelações
Crowley dizia ter tido revelações das suas antigas vidas.
Assim, segundo confessa no seu diário The Magical record of the
Beast 666 (O Registo Mágico da Beast 666), tinha sido, o sábio
chinês Ko Hsuan (um discípulos de Lao-Tzé), o Papa
Alexandre VI, o conde de Cagliostro, o doutor Jonh Dee, Éliphas
Lévi... Como Lévi, cujo verdadeiro nome era Alphonse Louis
Constant, havia morrido seis meses antes do seu nascimento, Crowley afirmava
que o espírito, Crowley afirmava que o espírito daquele tinha
entrado no seio materno no terceiro mês da gestação.
No
que refere a Jonh Dee (1527-1608), pelo qual Aleister Crowley teve uma
atracção especial, seguindo muitos dos seus rituais, foi
um famoso astrólogo, matemático e alquimista da corte de
Isabel I de Inglaterra. Um dos livros mais curiosos que deixou escrito
foi A True & Faithful Relation (« A True & Faithful Relation
(Uma Relação Fiel e Verdadeira»), que trata dos espíritos
e das aparições, publicada em Londres em 1659.
Para
as suas predições, Crowley utilizava muitos dos métodos
mágicos de Jonh Dee e do seu colaborador Edward kelly, médium
e profeta que predisse o trágico final de Maria Stuart e o desastre
da Invencível Armada, que a Espanha enviou para a Inglaterra.
É
evidente que Crowley misturava os seus rituais secretos antigos com práticas
satânicas, muitas das quais não foram tornadas públicas
por os seus herdeiros considerarem que o público ainda não
está preparado para as compreender. A lenda atribui-lhe mesmo missas
satânicas em que se sacrificavam seres humanos. A informação
fidedigna de que dispomos dá a entender que Crowley chegou a realizar
algo parecido a uma missa diabólico, tanto pelos seus actos sexuais
como pelos animais que sacrificava.
Durante
a Primavera de 1910, este, obcecado pelo culto, realizou um extraordinário
ritual em invocou Bartzabel, o espírito de Marte, para que viesse
em seu auxílio e o ajudasse para que o mundo reconhecesse o seu
talento e o seu poder mágico. Na cerimónia foi assistido
pela violinista australiana Leila Waddell, a sua «mulher escarlate»,
durante algum tempo, que também era conhecidas por«Laylah»
ou irmã Cibeles
pós
um romance com Mary d'Esté Sturges, companheira de Isadora Duncan,
Aleister voltou para a sua «mulher escarlate», ideal para realizar
rituais sexuais. Juntos foram a Moscovo (1913), para publicamente apresentarem
algumas das suas cerimónias esotéricas.
Ao
rebentar a primeira Guerra mundial, Crowley partiu para os Estados Unidos,
entrando em contacto com vários sociedades ocultistas e fundando
diversos templos. Os seus rituais depravados começaram a levantar
algumas polémicas e a figura da «Grande Besta» adquiriu
certa fama.
Tem
de se esclarecer, todavia, que se Crowley se intitulou «o homem mais
perversos do mundo», não foi pelos crimes que lhe imputa a
lenda criada pela imprensa sensacionalista, mas sim, por que se atreveu
a experimentar segredos e rituais que saíam de todos os moldes e
condicionamentos sociais da época. O importante para ele era obter
o conhecimento daquilo a que chamava Santo Anjo Guardião, yoga perfeito
ou união da alma com o seu secreto manancial. E considerava que
o tinha conseguido: para a posteridade deixava O Livro da lei, ditado por
Aiwass.
As
obras de Crowley, sobretudo The Magical Record of the Beast 666 («O
Registo Mágico da Besta 666») e The Magic in Theory and Practique
(«A Magia na teoria e na Prática») reflectem essa inquietude
na procura do inacessível, de modo semelhante àquele por
que os antigos alquimistas procuravam o elixir da eterna juventude. Cita
inúmeros exemplos práticos mágico-sexuais: para criar
energia mágica na união homem-mulher, para consagrar os talismãs
com rituais autocráticos, para revitalizar o corpo, para materializar
os objectos desejados...
O fim de «A Grande besta»
Com
o nome de Thelema (o país em que Gargantua, a personagem criada
por Rabelais, constrói a sua fantástica abadia), Aleister
Crowley fundou em Cefalú (Sicília), uma abadia mágica
(1920), na qual realizou os rituais mais singulares, fantásticos
e depravados, com as suas seguidoras. Mas as orgias «sagradas»
que se celebravam em Thelema, com consumo de drogas para obter a libertação,
para facilitar a viagem astral, não duraram muito. Várias
das «irmãs» tiveram de ser hospitalizadas e, em 1923,
o governo italiano expulsou Crowley, fechando a abadia ocultista, na qual
se tinha intentado penetrar nos arcanos das forças astrais sem considerar
meios nem barreiras morais de qualquer espécie.
Crowley
morreu de uma degeneração miocardíaca com complicação
de bronquite crónica na noite de 1 Dezembro de 1947, em Hastings,
sob o signo de Sagitário. Tinha 72 anos e levava com ele a sabedoria
ocultista e satânica adquirida nas mais surpreendentes e extraordinárias
reencarnações. A «irmã» Tzaba, que o assistiu
nos momentos cruciais ao passar a grande barreira, recolheu as suas últimas
palavras, que foram:- Estou perplexo...
Na
quinta-feira, 5 de Dezembro de 1945, os restos do ousado ocultistas inglês
foram incinerados no crematório de Brighton. Estiveram presentes
no funeral alguns dos seus amigos, discípulos e admiradores: Gilbert
Bayley, «irmãs» Tzaba e Ilyarun, «irmãos»
Volo Intelligere e Aossic, o poeta Kenneth Hopkings...
No
final de cerimónia fúnebre na capela do crematório,
os seusseguidores entoavam o orgiástico Hino a pã, escrito
pelo próprio Crowley, seguido do Réquiem Gnóstico.
O actolevantou os protestos da câmara municipal de Brighton e o responsável
do crematória viu-se obrigado a desculpar-se pelo sucedido, prometendo
que se tomariam medidas para que no futuro não se voltassem a repetir
incidentes daquela natureza.
Como
epitáfio, perante o seu túmulo, alguns dos seus fervorosos
discípulos cantaram o Hino a Satã, de Carducci, e celebraramma
espécie de missa negra.
As
cinzas do corpo físico de Crowley ficaram na terra, na urna do mago,
mas o seu espirito, metamorfoseado em ideias e rituais graças às
revelações do anjo Aiwass, embora continue a perdurar nas
suas obras e entre os seus seguidores, que não são poucos,
que continuam a invocar, por meios mágicos, as forças astrais
por ele identificadas e tipificadas: as forças ocultas que se encontram
por trás do pano de fundo da aparência real do mundo.
Aos
ocultistas actuais, já referidos nesta Enciclopédia, podemos
acrescentar os nomes de Eleonor Bone (grande sacerdotisa de um «coven»
londrino), os satanistas Maartens Lamers e Albertus van der Plas (que celebraram
muitos rituais em Inglaterra), Lilith Sinclair (grande sacerdotisa de um
«coven» satânico), o sumo sacerdote Greenville Russel-Gough
(que pratica rituais de Magia branca, primordialmente), a grande sacerdotisa
Celia Russel-Gough (mulher do anterior e especialista em rituais da fertilidade)
e Morganna Leeye Melusine Elgiva, peritas em rituais de Magia Branca, mas
possuidoras, por sua vez, de terríveis segredos de Magia Negra.
O espírito de Aleister Crowley, portanto, não morreu. A semente
que ele plantou começa a dar os seus frutos e os seus escritos e
doutrinas são mais apreciados que nunca pelos praticantes do ocultismo.
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