Pot Marcos Torrigo-
O Legado do 666 Todos já ouviram falar da Besta 666, o Anticristo,
Lúcifer, o Demônio, e todo o mal vinculado a estas figuras.
O que poucos pessoas sabem é que um homem se intitulou “A Besta
666”. A primeira idéia que pode nos vir à mente é
tratar-se de um louco, um facínora, um celerado da pior espécie.
Só que este homem se diz o maior amigo da humanidade, herdou uma
imensa fortuna gasta em editar livros que divulgavam sua filosofia libertária,
Thelema (que ele dizia vir diretamente dos dirigentes invisíveis
da Terra, a Grande Fraternidade Branca), enquanto outra parte foi gasta
na criação de um centro de estudos de Magia, na ensolarada
Sicília. O nome deste homem era Edward Alexander Crowley ou Aleister
Crowley, como ficou mundialmente conhecido, nascido na Inglaterra, no seio
de uma família de abastados cervejeiros. Teve uma educação
esmerada em Cambridge e pretendia seguir a carreira diplomática
por influência de seu tio. Todos os elementos para uma vida prosaica,
tranqüila e feliz se faziam presentes. Mas Crowley, ou talvez a deusa
Destino, sonhou algo totalmente diferente. Seus interesses dirigiram-se
para o alpinismo e xadrez, mas acima de tudo para a Magia, que se tornou
o grande objetivo de sua vida. Aleister Crowley se dedicou de corpo e alma
em desvendar os seus mistérios e segredos, indo a fundo na sua busca,
não se limitando por nada, derrubando todas as barreiras, experimentando
todas as facetas da alma humana, de todas as formas. Crowley vivia na Inglaterra
Vitoriana, repleta de hipocrisias e falso moralismo (não muito diferente
do mundo de hoje em dia), e era natural que todo o empenho, força
e dedicação de Crowley a sua meta acabaria por chocar-se
com a sociedade da época. Ele foi taxado de pornográfico,
depravado, drogado, satanista e mais uma infinidade de rótulos.
E, o mais fantástico de tudo, estes rótulos ilustravam inúmeras
atividades que de fato Crowley estava envolvido. Poderíamos encerrar
o caso aqui, juntando nos as legiões que detratam a sua memória,
mas antes disto cabe abrir um parêntese e falar sobre o que levou
este homem a assumir este papel no mundo. O ano de 1904 foi capital para
Crowley, o mistério que iria persegui-lo por toda a vida estava
por se revelar, como dádiva e maldição. Ele já
era um Magista competente, iniciado na Aurora Dourada, uma das mais importantes
Ordens mágicas de todos os tempos. Nesta época, Crowley estava
viajando o mundo. Em março e abril ele estava no Cairo, Egito, em
companhia de sua esposa, Rose Kelly. O casal se entregava às alegrias
da viagem de núpcias, mas nem por isso Crowley deixava de ser um
Mago. Ele faz uma invocação de elementais do ar para sua
jovem esposa, e qual não foi a sua surpresa, ao invés dos
silfos a mulher começa a balbuciar: Hórus falava através
dela. O deus prescreve então uma série de detalhes para um
ritual de invocação, o resultado deste Ritual se da nos dias
8, 9 e 10 de abril, nos quais Crowley recebe o Livro da Lei, um poderoso
Grimório de instruções mágicas, a Lei da era
de Aquário. Crowley se choca com o conteúdo do Livro, mas
a força das revelações lá contidas, influenciando
eventos históricos de magnitude gigantesca (Primeira e Segunda guerras
mundiais, por exemplo), deixou fora de dúvida a veracidade, beleza
e poder do Livro da Lei. Ditado por uma entidade de nome Aiwaz (que mais
tarde Crowley associou a seu Eu superior). Nele, a Lei da nova era é
sintetizada na frase Faze o que tu queres há de ser o todo da Lei,
e tem como contraponto e complemento Amor é a lei, amor sob Vontade.
Facilmente poderíamos imaginar um paraíso da libertinagem,
mas a vasta obra de Crowley nos mostra que liberdade sim, mas com conhecimento,
em suas próprias palavras: O tolo bebe, e se embebeda: o covarde
não bebe. O homem sábio, bravo e livre, bebe, e dá
glórias ao Mais Alto Deus. Sua filosofia mágica é
sempre pautada pelo autoconhecimento, e fica claro que para nos tornarmos
senhores de algo precisamos conhecê-lo, vivenciá-lo. O ser
humano como divino é outro postulado Thelêmico, Todo homem
e toda Mulher é uma estrela, ou seja, tem sua órbita e papel
no universo e deve ser respeitado pelo simples ato de existir, mas não
entendamos este respeito como piedade, mas sim como um ecossistema, onde
cada parte cumpre a sua função. Crowley, ao se colocar como
a Besta do Apocalipse, está trazendo novamente a era dos homens
deuses, onde a alegria a força se contrapõe à dor
e fraqueza, Não seguimos ou adoramos um deus sofredor e morto numa
cruz mais sim um homem deus que venceu a morte. O 666 é associado
a Lúcifer e este, por sua vez, a Prometeu, que roubou o fogo dos
deuses para que os seres humanos pudessem se tornar deuses. Uma das definições
de Crowley sobre o mal é esta: Primeiramente, por Mal queremos significar
o que está em oposição com nossas próprias
vontades; é então um termo relativo, e não absoluto.
Pois tudo o que é o grande mal de um é o maior bem de outrem,
assim como a dureza da madeira, que estafa o lenhador, é a segurança
daquele que se aventura no mar num barco construído com aquela madeira.
To Mega Therion (A Grande Besta, nome mágico de Crowley) via a raça
humana no começo desta era de Aquário como uma criança,
então nada melhor que as suas palavras sobre como educar uma criança:
“Cada criança deve desenvolver sua própria individualidade,
e Vontade, a despeito de ideais estranhos a si”. “Ela é confrontada
com tais desafios como natação, escalada, trabalhos domésticos,
e deixada livre para resolver de sua própria forma”. “Seu subconsciente
é impressionado pela leitura de obras-primas, as quais se permite
que se infiltrem em sua mente automaticamente sem pressão seletiva
nem pedidos de compreensão consciente”. “Nada é ensinado
a não ser pensar por si mesma”. “Ela é tratada como um ser
responsável e independente, encorajada na autoconfiança,
e respeitada pela auto-afirmação”. Crowley criou uma série
de potentes Rituais para se autoconhecer e travar contato com inúmeras
entidades, Deuses, Anjos e Demônios, sem falar em uma gama de símbolos
de Poder e palavras de passe. Através destes Rituais, as pessoas
entram em um novo universo (na verdade os abismos e alturas de seu próprio
ser). Um bom exemplo é um Ritual chamado a Marca da Besta, uma alusão
à marca recebida por Caim. Este ritual traz as energias do Novo
Aeon ao praticante, quebrando uma série de condicionamentos e preenchendo-o
com a energia dos quatro elementos encimados pelo Espírito. Um portal
é aberto, um portal para a vida. Os Rituais sexuais aprendidos na
O. T. O. (Ordem dos Templários Orientais) muito influenciaram Crowley,
(sem esquecer das contribuições de To Mega Therion a estes
Rituais) e grande parte da Magia Thelêmica usa o sexo direta ou indiretamente.
O Safira Estrela é um deles, e abaixo transcrevemos algumas de suas
partes: (Que o Adepto se arme com seu bastão Mágico e sua
Rosa Mística). A referência aqui é clara: o Bastão
é o falo, a Rosa Mística a vagina. O sexo oral é uma
das etapas, e a absorção dos Sacramentos deve ser o ponto
alto. O leitor poderá lembrar do “Tantra Negro” mas não é
o caso, e práticas como essas são usadas no Tantra do sul
da Índia, para onde os Dravidianos foram expulsos. O uso de práticas
homossexuais também é licito e para tal remetemos o leitor
ao trabalho de Karl Gustav Jung, onde a Anima (Animus) aparece em sonhos
no sexo oposto ao da pessoa e o self justamente surge como uma representação
do mesmo sexo. A palavra de poder do novo Aeon é ABRAHADABRA. A
palavra ABRAHADABRA soma 418, temos assim a letra hebraica Cheth, valor
8, Yod, valor 10 e Tau, 400, eles são as chaves para Grande Obra.
Yod sendo o Bastão (falo) e Cheth (vagina) o Cálice, unidos
em Tau. Ou ainda Yod, o espermatozóide, e Cheth, o óvulo,
unidos em Tau. A Cruz também pode ser um símbolo do Lingam
e da Yoni unidos. Basta imaginar a haste Horizontal, a Yoni e a vertical,
o Lingam. É importante salientar mais uma vez que o Safira Estrela
pode ser feito de forma simbólica e os resultados são também
muito bons. Deve avançar a Leste, fazer o Hexagrama Sagrado, e dizer:
PATER ET MATER UNUS DEUS ARARITA*. (quer dizer: "Pai e Mãe um deus
Ararita"). A união sexual como uma forma de união ao divino,
dois que se tornam um. Que ele retorne ao centro, o centro de tudo (Fazendo
o símbolo da ROSA CRUZ como ele deve saber) dizendo: ARARITA ARARITA
ARARITA. A Rosa Cruz é uma alusão direta a união falo-vagina.
Que ele diga: OMNIA IN DUOS ("tudo em dois"): DUO IN UNUM ("dois em um"):
UNUM IN NIHIL ("um em nada"): HAEC NEC QUATOR NEC OMNIA NEC DUC NEC UNUS
NEC NIHIL SUNT ("não há quatro ou tudo ou dois nem um nem
nada"). O sexo como elemento e pórtico para a transcendência.
Então que repita os sinais de L.V.X., mas não os de N.O.X.:
pela epifania que ocorreu como resultado dos sinais da Rosa Cruz. Ou seja,
o orgasmo magicamente dirigido. Este ensaio é pequeno demais para
abranger o meio século de Crowley dedicado à magia, mas espero
ter esclarecido um pouco sobre a sua vida e obra. * Nota: Esta Palavra
consiste das iniciais de uma sentença que quer dizer “Um é
seu início. Uma é sua individualidade: Sua Permutação
é Uma”.
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