RAIMUNDOS QUEREM IMPLODIR SÃO PAULO
Banda brasiliense faz seu último show do
ano na cidade e lança pacote de CD, vídeo e história em
quadrinhos para o Natal
Após nove meses, mais de 80 shows, entre eles alguns na Europa,
e milhares de quilômetros rodados pelas estradas do Brasil, o
Raimundos volta a São Paulo.
Nos três shows deste final de semana no Olympia -hoje é o
último dia e também o último do ano na cidade-, a banda quer
mostrar aos fãs paulistanos algo especial. "Vamos implodir
o Olympia, estamos aqui para abalar as estruturas", garante
o guitarrista Digão.
Além da inclusão de músicas inéditas no "set list"
-que também serão lançadas em um CD especial de Natal, que sai
em cerca de dez dias- e efeitos pirotécnicos durante o show,
Zenilton, o guru musical dos rapazes, e Rios, uma dançarina de
axé music, colocam lenha na fogueira sonora da banda
brasiliense. "A Rios é um desafio que estamos lançando à
Carla (Perez, da banda É o Tchan). Ela vai estar fazendo a
'Dança do Vavá'. Vai entrar de roupa, mas, como vai sair,
depende do público", diz Digão.
Lançado em outubro de 1995, o segundo disco do Raimundos,
"Lavô Tá Novo", já vendeu mais de 250 mil cópias. A
banda começou a excursionar em março deste ano, fazendo uma
média de 12 shows por mês.
Apesar do lançamento do pacote com CD, fita de vídeo e
história em quadrinhos para o Natal (ver box ao lado), a turnê
do "Lavô Tá Novo" se estende até o meio de 1997.
"O CD para o Natal não é um disco com músicas inéditas.
Temos muito material em que estamos trabalhando na estrada, mas
nada em definitivo", diz o vocalista Rodolfo. "Não
vamos mudar o show enquanto não sair o disco novo, apenas
adicionar algumas músicas ao `set'", emenda Fred, o
baterista.
E o melhor show da turnê? "Foi em Belo Horizonte",
responde Digão. "Eram 12 mil pessoas pulando juntas. Foi
lindo", rebate Fred. "Nossos shows estão enchendo
mais, acho que agora tem mais pessoas curtindo nosso som."
Ramones "cover"
Formada no "etílico" Réveillon de 1988 em
Brasília, a banda era originalmente um trio. Fãs dos Ramones,
tocavam muitos "covers" da banda novaiorquina e algumas
composições próprias. Na verdade, Raimundos é apenas um
aportuguesamento de Ramones.
Após dois anos de shows em pequenos bares da capital, Canisso,
Rodolfo e Digão se separaram. "Cada um foi cuidar de sua
vida. O Canisso foi estudar Direito e teve seus filhos, o Digão
largou a bateria porque estava ficando surdo e começou a tocar
guitarra, e eu cantava em uma banda chamada Royal Straight
Flesh", afirma Rodolfo. "A separação nos fez bem.
Todos crescemos muito e chegamos à conclusão de que queríamos
ser músicos mesmo", diz Digão.
Em 1992, surgiu a oportunidade de tocar em um bar em Goiânia e a
decisão foi unânime: o Raimundos seria ressuscitado. No final
das contas, o show foi um fiasco: tiveram de tocar com uma
bateria eletrônica (Digão já havia se tornado guitarrista), a
platéia queria que tocassem "covers" dos Ramones,
foram vaiados. Mas os três estavam resolutos.
Como seria inviável continuar sem um baterista, Fred, que já
conhecia os rapazes dos círculos musicais de Brasília, foi
convidado para assumir as baquetas.
O sucesso
"O Fred é a mão que segura os balões, no caso
eu, o Canisso e o Rodolfo", diz Digão às gargalhadas.
"Na verdade, se o Fred não tivesse entrado para o
Raimundos, nós nunca teríamos virado o que somos hoje. Ele nos
deu um direcionamento mais sério, botou ordem na casa."
Graças aos esforços de Fred, a banda finalmente gravou uma fita
demo, que caiu nas mãos de Carlos Eduardo Miranda, jornalista e
produtor musical. Acabaram sendo contratados pelo selo
independente Banguela, sob a tutela dos Titãs. Gravaram em 94 o
primeiro disco, "Raimundos", que vendeu 150 mil cópias
e levou disco de ouro. Em poucos meses, já estavam tocando nas
rádios e emplacaram o primeiro clipe, "Nêga Jurema",
na MTV.
No ano seguinte, já consolidados no cenário musical, gravaram o
segundo CD, "Lavô Tá Novo", considerado mais
comercial pela crítica. "Não é mais comercial, apenas
não tocamos a duzentos por hora o tempo todo. Eu acho que ele é
mais pesado e mais lento, não comercial", reclama Rodolfo.
O terceiro disco
"O próximo disco vai ser o mais pesado de todos.
Queremos continuar fazendo `hardcore', mas a maior
característica do Raimundos é o peso", diz o vocalista.
"Estamos fervilhando, precisamos entrar em um estúdio
logo", completa Digão.
"Chega uma hora em que não aguento mais tocar as mesmas
músicas, a turnê acaba me saturando. Mas, ao mesmo tempo que
fico um pouco bitolado, adiando as idéias, também acho boa essa
rotina porque represa os sentimentos. Quando chegamos ao
estúdio, só sai coisa boa", afirma Canisso.
"O disco novo só pode ser mais pesado. Pode ver que cada
dia a `cozinha' (bateria e baixo) está mais pesada", ri
Digão, ironizando as salientes barriguinhas de Fred e Canisso.
Banda lança "Cesta Básica"
"Cesta Básica" foi o nome escolhido para o
lançamento de Natal do Raimundos. Trata-se de algo inédito no
Brasil: "Foi idéia do nosso empresário. Como nunca foi
lançado um box por uma banda brasileira, ele quis que nós
fossemos os primeiros", explica Digão.
O pacote tem um CD com dez músicas, um vídeo de 50 minutos e
uma história em quadrinhos feita por Angeli.
Das dez músicas do CD, duas são "cover" (entre elas
"Bodies", do Sex Pistols) e três são inéditas (a
hilariante "Papeau Nuki Doy", "A Sua", uma
música antiga do Raimundos e "Infeliz Natal", do
Filhos de Menguele, primeira banda de Digão). As outras cinco
são versões ao vivo, remasterizadas, de músicas já conhecidas
da banda.
O vídeo tem imagens da banda no "backstage",
confissões e impropérios e até os rapazes andando de skate na
Califórnia. O box vai ser lançado na segunda quinzena de
novembro e deve custar de R$ 50 a R$ 60.