Na
folga de seu plantão, o soldado Arthur
Nunca havia pisado no Bahamas e nem sabia ao certo onde se localizava a grutinha dos prazeres. Conheço pelas minhas andanças e viagens diversos inferninhos e red light zone mundo afora. Agora, ser escalado para acompanhar e observar o grau de testosterona e libido da moçada foi para mim o clássico "Killing Joke". A caminho do babado, perguntei para o motorista se sabia o local do crime. O sujeito, com um olhar de Rony Cocegas, respondeu "É perto do Kilt, Wagon Plaza, doutor?". Primeiro, doutor é a benga e, segundo, va fan culo, testa de catiso. Porra, ninguém tinha idéia do local. Nossa expedição era de marinheiros de primeira viagem - eu de capitão Hadock, o parceiro rabugento de um grupo de cinco Tintins curiosos. Sosseguei a impaciência e a ansiedade e lançei "Vamos para a Bandeirantes que é por ali". Batatolina: mal viramos na avenida e as seis cabeças hipnotizadas captaram neons caribenhos do Bahamas. Uivos e demonstrações de virilidade ecoaram no furgão. Dezenas de carros importados faziam a fachada do "BH".
Paninhos e camisolas sumárias
Na porta, uma multidão de camisas Richardís se mesclava com gravatas recém-engomadas, paletós Giorgio Armani e Ermenegildo Zegna. Fivelões e botinhas de cowboy aceleravam o passo e batiam os casquinhos (em festa de rodeio não é bom ficar parado - o novo sucesso pentelho do maleta do Leonardo ecoava). Ao meu lado a esquadrilha da fumaça dos Raimundos, de bermudões e camiseta vencida, destoava da (aarrghhh) elegância. Imagine o encontro de Beavis e Butt-head com os engomadões da novela da Globo. Pois é, foi mais ou menos isso que aconteceu. O transe dos garanhões e pangarés foi absolutamente total. No interior, de cara, o que vimos foram quatro dúzias de gatas alucinantes cobertas por paninhos e camisolas sumárias. O nosso grupo rapidamente se esquivou dos nobres elegantes e se encaixou num canto esperando uma mesa vazia. Estado de choque diante do mulherio sarado com aquela típica carinha de anjos devoradores e safados. Os primeiros 15 minutos são de tirar o fôlego, cai a pressão no ato. Ficamos embasbacados diante do mulherio de primeira. Se segura peão é o lema.
Mui mui amabiles Daniel e o mala do Leonardo é o som que toca nos speakers. A mesa de sinuca é uma verdadeira alucinação. Digão com o taco na mão parece um centurião da Roma antiga. Enquanto isso, Canisso, Fred e Rodolfo esperam a vez na mesa observando o vai e vem de suculentos pernis. O clima, por incrível que pareça, é tranquilo e alto astral. Na maioria dos bordéis desse mundão que Deus criou, a vibe é sempre carregada e envuduzada. No BH, além da decoração brega-chique, as garotas de programa são mui mui amabiles. Também, pudera: a média do soldo mensal das gurias gira em torno de 4 000 reais para a mais pobrezinha, e uns 15 000 pra top bombástica. Fora os presentinhos dos amantes, estilo carro importado, apê e viagens ao exterior.
Voltei para o meu assento próximo à mesa de bilhar. O mulherio vai se revezando pelas mesas. É inacreditável a quantidade e qualidade das beldades. O drinque predileto entre elas é o licorzinho 43 que sai 18 reais a dose. Cervejinha, my brother, está na faixa dos 10 cascalhos, e um hi-fi custa 25. Jogar um bilharzinho sai 5 contos cada 15 minutos. Ficamos acertando bola na caçapa por duas horas. Quando percebi, olhei o Fred e ele já dormia ao lado do Canisso. Christian havia aparecido com o seu indefectível roupão branco. Os salões do BH já estavam vazios. Sobreviviam dois pafúncios querendo arrastar três gaúchas angelicais para casa. O que sobrou na área era o batalhão dos Raimundos e a petulante e deliciosa Valéria, que ganhava todas as partidas de sinuca. Garçons e faxineiros limpavam as sobras do chão e ajeitavam cadeiras. Às 4h25 da madrugada pagamos as contas e voltamos feito anjinhos do pau oco para nossas respectivas casas. Cheios de sonhos eróticos e atarantados.
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