Raimundos satirizam pagodeiros para tocar no rádio
Grupo reclama da mídia que chama sua música de sacanagem e dá espaço para a Tiazinha

JANAINA ROCHA - Especial para o Estado

A melhor matéria-prima para quem faz música com humor está aqui - nas FMs que só tocam neopagode, axé music e gemidos da Tiazinha. Bobagem de primeira linha pronta para ser explorada por quem gosta de satirizar. Esse é o alvo das letras do grupo de rock Raimundos em seu novo CD, Só no Forevis.

"Esse disco é uma sátira à mídia, que segmenta tudo, rotulando o que é baixaria ou não", afirma o vocalista Rodolfo, referindo-se às críticas freqüentes à maneira de compor do grupo, sempre com muitas gírias e palavrões. "Os caras mostram e falam um monte de besteiras, passando muitas mensagens deturpadas para a galera; isso sim é prejudicial", diz. "As rádios e as TVs não têm parâmetro para tachar o nosso trabalho de sacanagem." Para Rodolfo, o motivo de tanta crítica só pode ser um: eles são feios.

Como o tema do novo álbum tem a ver com a mídia, nada melhor do que falar no principal produto musical que ela anda fazendo: os pagodeiros. "Não queremos briga com os caras, o lance é apenas se divertir com todo o requinte que eles têm", justifica o vocalista. "São bem vestidos, bem cuidados, quase bonitos." Na brincadeira, os Raimundos vestem-se na capa do CD como pagodeiros e até arriscam, na vinheta de abertura do disco Só no Forevis, um batuque desqualificado.

Duplo sentido - O CD, além de levar a uma discussão mais papo-cabeça, é a volta em boa forma dos Raimundos. É delírio da garotada que estava sentindo falta das tiradas picantes do grupo. "Só no Forevis podia chamar-se coletânea de estilos, porque tudo que já fizemos está nesse CD", define o baterista Fred. "É um resumo de tudo que já gravamos." Mas não é um álbum de regravações de hits.

No álbum anterior, Lapadas do Povo (1997), eles seguiram o caminho do heavy metal e não se deram bem. O disco não tinha o carisma dos outros - foi o menos vendido de sua discografia. "Lapadas foi feito no exterior, num ambiente que não era o nosso e lá (nos Estados Unidos) o povo é mais frio", justifica Fred. "Somos brasileiros e precisamos ficar perto de gente que gosta de ser alegre, mesmo com dificuldades de grana."

Grande parte do novo CD foi feita no apartamento de Rodolfo. "A nossa atitude rock-n'-roll estava a mil nessa época", conta Fred. Para completar a "zona", Carlos Eduardo Miranda, o "descobridor" da banda, uniu-se a eles e foram para o Ar Estúdios, no Rio. Lá, chegaram mais dois fissurados por rock e amigos dos Raimundos: os produtores Mauro Manzolli e Tom Capone. E o disco foi feito na maior descontração.

Só no Forevis flerta com temas que fazem parte do universo adolescente. "Não estamos velhos, cara", brinca Rodolfo. Tem música de carro movido a bafo, feira na Paraíba, TPM (tensão pré-menstrual), garota que usa aparelho e outra que experimenta transar no mato e acaba curtindo. "Tem música que tem a ver com o que a gente já passou, mas a maioria é pura fantasia."

As 14 músicas do disco têm desde o lado pesado do punk e do hardcore até nuances mais melódicas. A mais Pedida é uma que chega a ter de tudo. Com a participação de Érika Martins, do grupo Penélope, a música é bem melódica, feita para tocar em progama de rádio romântica. "É a coisa mais bonita do CD", diz Rodolfo. Mas os Raimundos nunca ficam sérios e, no fim da canção romântica, ameaçam: "Toca o nosso som aí que tu me faz feliz, se não tocar eu quebro seu nariz."

Os Raimundos também contaram com a participação do caseiro de Capone, Antônio, Marcelo D2, Bi Ribeiro, Alexandre (Nativus), Black Allien (Planet Hemp) e dos Los Djangos. "Só amigão", comenta Rodolfo.


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