Rita reencontra o espírito roqueiro de eterna Mutante

Jimi Joe



Rita Lee voltou a cair no rock and roll com direito a Sérgio Dias, antigo parceiro dos Mutantes como convidado na guitarra e voz. Falta agora a tia mais sapeca do pop nacional extirpar a porção "bossa" de seu show, tomada praticamente desnecessária pela formação de quarteto que se coloca no palco do Palace na revisitação do show Bossa'N'Roll, que rendeu dois anos de shows e um bem sucedido disco ao vivo. Rebatizado como Bossa'N'Roll'N' Txa Txa Txa, à guitarra de Rita e aos violões de Alexandre Fontanetti uniram-se a bateria de Kiko Rainer e o baixo de Oswaldo Fagnani, ex-integrante dos grupos Premeditando o Breque e Ultraje a Rigor.
O show começa bem com Ando Meio Desligado, canção dos Mutantes de 1970. Rita é ainda a melhor encarnação de deusa rock do Pais, mas nessa versão renovada de Bossa'N'Roll algumas canções ganharam ar burocrático, a bateria de Kiko Ritiner soa muito quadrada e com pouco peso. As vezes faltou manha à banda (nunca à Rita) e a faísca do rock and roll demorou a acender. Surgiu com a entrada de Sérgio Dias, o parceiro dos Mutantes e amigo de mais de 25 anos.
A platéia gritou por outro Mutante, Arnaldo Baptista, irmão de Sérgio. "Arnaldo não estta´aqui por culpa de pessoas que insistem em tratá-lo como um deficiente", dardejou Rita, que mais tarde perguntou se Dinho, o baterista dos Mutantes, estaria na platéia. Ele não apareceu. Tocando um violão dc 12 cordas, Sérgio uniu- se a Rita numa interpretação de Balada do Louco que marcou pela emoção do reencontro público dos dois. Depois disso, Serginho, ainda "cabeludo danado" que Gil saudou em Pega Voga, Cabeludo nos anos 60, ficou no palco revezando violão e guitarra em canções de clima rocker como Agora Só falta você, Mamãe natureza ou mesmo em Punk da Periferia, do próprio Gil. Foi uma festa na qual Sérgio e Rita dançaram o rock da paz, rostos e cabelos colados em atitude de carinhosa reaproximação.
Comportamento - Geração saúde descobre a vitalidade dos veteranos

Lauro Lisboa Garcia


A geração de caras-pintadas descobriu que os "com mais de 30" não mordem e não pegam mofo. Os teens já não são mais levados a shows de Caetano Veloso e Gilberto Gil pelas mãos dos pais e tios. Pela vitalidade dos cinquentões, é bem possível que tenha ocorrido o oposto. As temporadas de Circuladô e Parabolicamará estiveram povoadas tanto de grisalhos, típicos românticos, quanto pela geração saúde. Como nas passeatas pró-impeachment, nas platéias se mesclam os adoradores de mitos (equivalente aos "defensores de causas") aos que foram por pura farra.
A estréia de "titia" Rita Lee fundiu a festa do rock com pitadas irônicas em torno de causas políticas. Ela sabia muito bem onde estava pisando quando gozou "Fernandinho" na Balada do Louco ("A última vez que cantei no Palace o presidente afastado estava envolvido com as balas Van MelIe"). Ou quando alertou "cuidado" para não votar naquele que diz estupra mas não mata. O efeito foi devastador.
Como seus contemporâneos tropicalistas, Rita ressuscitou em si o vigor adolescente. Fãs radicais comentam que estã mais bonita e em forma que que nos tempos de Roberto de Carvalho. Como velha (velha????) e boa roqueira, sempre despertou interesse em adolescentes e crianças, mas o que se viu na noite de quinta-feira foi impressionante. A molecada delirou com a guitarra de Sérgio Dias, o punhado de Rita hits, e acabou o show dançando em cima das mesas, coisa jamais vista em casas como o Palace. E não foi de graça, os teens estão provando que entendem de história. E rock e Rita Lee não têm idade.