Interview by Dementia
DIGitALL, o primeiro trabalho de Clone DT, pode estranhar de inicio :muitas informacoes simultaneas, letras sem nexo, varios estilos agregados... Mas aponta para algo muito novo em se tratando de musica eletronica brasileira : samples e algumas letras em portugues, distanciamento de estilos pre'-definidos e incorporacoes de novas linguagens sonoras. E' bom descobrir que existem bandas/projetos que apontam para novos caminhos e tentam incorporar novas formas de composicao. Esta entrevista foi concedida via e-mail.
[Quem e' voce ?]
Mais um mane' que esta' pagando a maior grana para poder ser entrevistado nesse zine ( risos ).
[Desde quando voce mexe com musica ? E como surgiu o Clone DT?]
Desde que eu tinha uns 12 anos de idade. O nome Clone DT sempre existiu. Eu compunha bastante so' que nunca mostrava nada para ninguem. Hoje eu tenho aproximadamente 400 Mb so' de arquivos com musicas. Quando lancei a demo "CloneWorks" em 94 fiquei surpreendido com a reacao das pessoas. Foi a minha primeira experiencia de mostrar algo para um "publico". Ate' hoje comentam comigo sobre aquela fita.
[E' verdade que voce utiliza como sequencer um PC-XT ???? Quais sao as outras maquinas que voce utiliza ?]
Sim, e' verdade ! Desde 85 ! E sinceramente nao preciso de outro sequencer. Quanto aos outros instrumentos e' muito dificil eu lhe dizer. A toda hora estou trocando. O unico que me acompanha ha mais tempo e' um velho Roland U20. Mas eu o utilizo como master dos outros devices. Fora que eu nao utilizo somente instrumentos eletronicos ou "midiaveis".
[O que lhe influencia ?]
O que eu chamaria de "musica urbana". E' o titulo de uma musica do Renato Russo, nao e' ? Pois e' um termo perfeito : se voce mora numa cidade esta musica esta' sempre ao seu redor. Voce ja' parou para escuta'-la ? Provavelmente voce nem encare estes ruidos como musica: carros, sirenes, maquinas, multidoes. Mas eu lhe garanto que ela e' envolvente, poderosa e muito pertubadora. E' um grande desafio saber aprecia'-la.
[Voce acompanha a cena eletronica ? E o que acha dela?]
A esta pergunta vou somente comentar a cena nacional. Tenho tido contatos com trabalhos de algumas bandas. A minha maior reclamacao e': a maioria parece xerox de bandas europeias ou americanas. O pessoal nao tenta buscar uma sonoridade propria. Nao estou falando em cantar em portugues ou coisas desse genero, mas em buscar uma personalidade musical. Estamos falando de bandas que podem ter a disposicao dezenas / centenas de timbres e nao uma guitarra + baixo + bateria. Entao porque nao explorar estes recursos em busca de uma sonoridade propria?Por que se limitar a estilos/influencias?
[Como esta' a repercussao do cd DIGitALL ?]
DIGitALL na verdade e' uma "peneirada" em dezenas de musicas que fiz entre 93 e 95. As pessoas talvez nao estejam compreendendo este trabalho porque ele esteja jogando em varias direcoes. Ele nao tem um unico perfil, nao e' somente "pop", ou "experimental" ou "crossover". Por isso eu utilizo o termo "composicoes multifacetadas" para defini- lo. Talvez eu tenha superestimado a capacidade das pessoas no que se refere `a compreensao do trabalho como um todo. Houveram criticas muito favoraveis, outras nem tanto.
[Voce utiliza samples em portugues e faz cover de Roberto Carlos para fugir dos cliches ou porque voce e' louco mesmo ?]
E' isso ai' : fugir dos cliches ! 90% das bandas que eu conheco moram num lugar chamado "cliche land", ou "mesmice city". Veja bem, eu nao estou dizendo que isso e' ruim ! Uma coisa que eu super admiro num artista e' a capacidade de produzir um grande trabalho dentro de condicoes bastante limitadas. Isso eu ja' discuti antes : sera' que nao da' para fazer musica so' armado com um teclado PSR-sei-la'-o-que ? Se voce tiver talento e criatividade, da' sim ! Mas estes sao aves raras. Quanto `a questao do Roberto nao e' bem uma cover. Eu joguei a musica dele num caldeirao de ruidos e efeitos. Nao e' uma homenagem ao Roberto mas tambem nao e' uma depreciacao do trabalho dele. E' simplesmente uma experiencia sonora ! Casualmente a musica utilizada era do Roberto Carlos. Poderia ter sido qualquer outra.
[Como e' viver isolado do mundo, numa caverna hi-tech como diz o release ?]
Isso e' muito relativo. Dentro dessa caverna posso estar muito mais antenado e por dentro das coisas do que o cara que sai todo dia para ir trabalhar/estudar. Gosto de me isolar fisicamente. Nao suporto multidoes ( so' gosto do som delas ) e contato com outras pessoas. Abomino os chamados "ritos sociais". Aqui dentro tenho tudo o que preciso para satisfazer minhas necessidades. Sejam elas mentais ou fisicas.
Clone DT contact:clone@pucpr.br
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