by Hell

 

1)antes de tudo, apresentem-se... quem sao e o que fazem na banda.

O projeto e é formado pelo Luciano Mello e por mim (Miguel Feldens). O Luciano é responsável por quase todas as programações e samplers, mais todos os teclados e vozes. Eu me encarrego das guitarras, loops e algumas programações e samplers. Há letras e músicas feitas por mim, pelo Luciano ou pelos dois.

 

 

2)como se deu o início da banda? qual a linha evolutiva dela até agora...

Eu e o Luciano começamos a fazer um projeto de um programa de rádio no início de 95, quando nos conhecemos. Produzimos uns "pilotos" deste programa que nunca foi ao ar... Ao mesmo tempo, o Luciano precisava que alguém gravasse umas guitarras numas músicas dele, nós acabamos fazendo algumas coisas nossas e no final de 95 começamos "oficialmente" o projeto zurbE.

A música da zurbE "evoluiu" de maneira mais ou menos emergente, quer dizer, ninguém sentou e racionalizou: Nosso som vai ser assim! Ou ainda: Vamos fazer um som tipo... Ao invés disso, ele tomou o rumo das coisas que estávamos querendo dizer e foi tomando a forma que achamos mais expressiva pra tal. O som se manteve consistente com os temas de que falamos, e creio que foi amadurecendo naturalmente. Eu vejo ele mais com mais fluente, mais natural e mais sujo agora.

 

3)e o nome zurbE, e sua estranha grafia, de onde tiraram?

zurbE não tem nenhum significado pré-estabelecido. Quem criou o nome zurb foi o Luciano. Mais tarde sugeriram o "E" no final. Na dúvida ficou assim mesmo - zurbE. É uma idéia interessante pra mim a idéia de criar uma palavra imaginária e tentar estabelecer um significado depois.

 

4)falem um pouco sobre o "background" dos membros da banda...

O Luciano é um cara que trabalha com música, utilizando a eletrônica há vários anos, tendo feito diversos trabalhos não necessariamente rotuláveis como "música eletrônica", mas sempre tendo um suporte sólido nos recursos eletrônicos para fazer música. Ele também tem produzido alguns trabalhos de outras pessoas por aqui e tem um background considerável em termos de estúdio.

Eu (Miguel Feldens), como guitarrista, comecei pelo caminho das bandas hardcore. Isso há uns 10 anos. Desde então, o uso da eletrônica sempre me atraiu como uma forma de tornar a música, dentro do que me propunha a fazer, diferente das fórmulas e clichês que víamos. Isso foi há 10 anos e depois disso eu andei tocando, estudando e fazendo diversas coisas diferentes até chegar na zurbE.

 

5)o Luciano era mais pro lado minimal eletrônico, enquanto voce, Miguel estava mais para o HC. como se deu a uniao dos dois? nao houveram choques?

Na verdade não houveram muitos choques não. O que aconteceu acho que foi uma convergência para um ponto no meio do caminho. Eu procurei manter a mente aberta e sei que acabei aprendendo um bocado neste processo.

 

6)cite o nome de algumas bandas que voces gostam, e que acham que influenciaram o trabalho do zurbE.

Gostamos de um bocado coisas muito diferentes, desde Tom Zé até Björk, passando por muita coisa industrial, mais outros tantos da música minimalista e muita coisa alternativa. Não sei exatamente o que aparece ou influencia na nossa música. Acho que quase tudo influencia, com mais ou menos intensidade, de uma forma ou de outra... Tem vezes que o cara ouve um som muito diferente do que faz, mas acha um timbre de caixa interessante, um efeito na voz, um ruído, um detalhe na mixagem... Tem outras vezes que o cara escuta uma coisa realmente abominável e se lembra de nunca fazer nada parecido :)

Se você quer nomes de bandas, aí vão algumas coisas que eu gosto muito: Revolting Cocks, 1000 Homo DJs, Killing Joke, Ministry, Nine Inch Nails, Laibach, Morphine, PJ Harvey, Beck... Bah, essa lista vai longe!

 

7)vocês fazem parte de uma nova ninhada de bandas eletro/industriais brasileiras. atualmente, várias bandas, como voces, estão começando a conquistar seu lugar ao sol, como o If, Johann Heyss e a Mecanotremata... O que voce acha da "nova" cena eletro brasileira? Quais bandas destacaria?

Eu assisti o show do Johann Heyss no Electronic Days e achei simplesmente do caralho! Ele parece tomar referências extremamente diversificadas e criar algo totalmente novo de tudo isso!

Gostei muito do CD do Clone DT. Não sei se este se enquadra na "nova cena", mas vale a pena citar. Achei os timbres excelentes, a "arqueologia" que ele fez atrás de samplers também... O som do cara é cheio de personalidade!

Os sons da IF e da Mecanotremata ainda não consegui conhecer. Estou muito curioso, ainda mais depois dos comentários que já andaram rolando por aí.

 

8)E, falando em conquistar um lugar ao sol, fale um pouco da participação de voces no CD electricism...

O Electricism é uma iniciativa muito legal pra registrar e divulgar o trabalho de quem está fazendo música eletrônica na América Latina. Acho que todo mundo que acredita e quer dar força ao que está acontecendo no underground, que geralmente são as coisas mais autênticas que há, tem de dar uma força divulgando, distribuindo e comprando o CD. Também espero que esse tipo de iniciativa se repita e se multiplique.

Nós tivemos um problema pra escolher uma música pro CD... A gente ouvia todas as coisas que tínhamos e não encontrávamos nada que pudéssemos dizer: "Isso é a zurbE". A saída foi procurar a música que achávamos mais diferente de nossas referências, que aos nossos ouvidos pareceu mais original. A música se chama "Corre sem" e foi composta e gravada originalmente por dois amigos nossos, o José Menna e o Adriano.

Nós fizemos um arranjo novo e produzimos a nossa gravação aproveitando nos refrões samplers da gravação original. Ficou uma coisa doida, com muitas texturas diferentes, umas dissonâncias interessantes e umas guitarras bem obsessivas. Espero que ninguém se "assuste" muito... :)

 

9)E o disco de vocês, quando sai? É verdade que sua produção está sendo paga com recursos de uma fundaçao municipal de arte? como isto aconteceu? voces esperavam por isso?

Submetemos um projeto para o Fumproarte, um fundo de incentivo à cultura da prefeitura de Porto Alegre. Há editais públicos para que sejam enviados projetos, para que sejam financiados, nas áreas da música, cinema, teatro, literatura, etc. Nosso projeto foi aprovado e estamos concluindo as gravações no nosso "project studio", o Mathsub, e neste mês começamos a trabalhar com a arte e masterizar. Esse tipo de esquema da prefeitura existe em diversas outras cidades. Acho que o CD do Clone DT foi produzido num esquema parecido...

Nós não levávamos fé antes de fazer o projeto, mas valeu a pena ter tentado. Inclusive, recomendo que outras bandas façam o mesmo, basta ter bem claro o que se está fazendo, ter idéias e colocar no papel.

 

10)mesmo com fatos como essa ajuda ao disco de voces, no geral a cena eletro brasileira tem sido alvo de preconceito da midia/massa... como voces vêem isso? é possivel que melhore?

Com certeza ainda existe algum preconceito, apesar da música eletrônica já ter décadas de existência e de músicos de todos os gêneros se valerem da eletrônica... O Theremim, por exemplo, é um instrumento eletrônico inventado na década de 20; quer dizer, não tem nada de novo no fato da música ser produzida por meios eletrônicos, e ainda tem gente vivendo antes desta época, achando que o simples fato de um instrumento ser eletrônico é capaz de tirar o valor da música, como se o instrumento fosse o fim, e não o meio pra se fazer música. É como se o lado puramente físico em se executar uma música fosse mais importante que a composição em si...

Felizmente, esse tipo de sentimento parece vir de pessoas menos envolvidas com a música, e que talvez nunca tenham parado pra pensar sobre esse tipo de coisa. Eu não me preocupo muito com isso, pra dizer a verdade. Estou mais preocupado em fazer música que eu quero com os recursos que tenho, sejam eles eletrônicos ou não, e tento fazer o melhor que posso.

Uma coisa muito interessante que parece estar acontecendo, não só na música eletrônica, mas em quase todo underground, é o surgimento de diversos novos selos independentes e outras iniciativas pra divulgação e criação de novos espaços. Acredito que esse seja um caminho muito legal pra que coisas maravilhosas que antes ficavam restritas à grupos muito pequenos se tornem acessíveis.

 

11)voces tem feito shows? como sao?

Não. Ainda não fizemos shows com a zurbE. Preferimos conceber o negócio a princípio como um projeto de estúdio, pra amadurecer as nossas idéias. Estamos começando a montar uma banda pra shows, em que talvez participem um percursionista que já gravou coisas pra nós, mais um baixista e um guitarrista. Todas as guitarras são utilizadas, mesmo no estúdio, ligadas direto em linha, sem cubo, só emulador, o que possibilita uma configuração bem simples no palco.

Nós também gostaríamos de tocar com uma bateria acústica em algumas músicas, mas aí a coisa já fica meio complicada. Neste caso o ideal seria tocar com sequencer ao vivo, com click pro baterista, mas ainda temos medo de levar um monte de equipamento pra tocar ao vivo e depender de um monte de coisas frágeis funcionando em cima de palcos relativamente precários onde se consegue espaço pra tocar.

 

12)muito obrigado. boa sorte com o CD! espaço livre para falarem o que quiserem...

Eu que agradeço pelo espaço, Hell. Espero poder estar em breve divulgando o CD da zurbE, que deve sair lá por março, pro pessoal. Pra quem quiser conhecer mais, estamos construindo o nosso site em http://zurbe.home.ml.org e o nosso email é zurbe@usa.net . Fisicamente, nosso endereço é:

R. Gen. Lima e Silva, No. 20 Ap. 7

Porto Alegre RS

90010-100


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